terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A direita alemã está a ganhar-lhe o gostinho

Ministro dos Negócios Estrangeiros alemão Guido Westerwelle:
"Os  responsáveis políticos em Roma sabem que a Itália continua a precisar de uma política sólidade de reformas e consolidação."
"Estamos por isso a contar com a continuação de uma política consequente de consolidação fiscal e de reformas por parte do novo governo"
Título da notícia: "Westerwelle exige continuação das reformas por parte da Itália".

Ministro da Economia Philipp Rösler:
"Não há alternativa ao percurso de reformas estruturais anteriormente decidido".
A Reuters diz que ele ficou triste com o resultado do resultado.


Líder parlamentar da CDU (principal partido do governo) Michael Grosse-Brömer:
"O caminho de reformas seguido por Monti tem de ser continuado de maneira consequente."


Sou só eu, ou isto são interferências demasiado óbvias e exigentes na política interna de um Estado soberano? No caso das interferências em Portugal, Grécia, Irlanda ou Chipre ainda há quem argumente que se tratam de países intervencionados. Não é o caso. São dois parceiros em pé de igualdade dentro da UE.
Alguém imagina igual tomada de posição de políticos italianos na política interna alemã?

Bem-vindo às Coisas Aqui em Baixo


A sua rentrée mediática foi animada, mas foi à Francisco. Quem conhece as reflexões do Francisco José Viegas sabe bem o que pensa sobre o NIF, o Cartão de Cidadão, os códigos de barras, etc. Apesar de discordar diametralmente do Francisco nessas questões - prefiro cartões e números de identificação aos arames farpados, às fechaduras e aos pastores alemães, os seus substitutos nos ditos países liberais - achei aquele "tomar no cu" uma maravilhosa sodomização, mais do que ao fisco, aos moralistas profissionais do nosso rectângulo (reparem que foi quem se queixou...).

Quanto à passagem do Francisco pelo governo achei-a estratosférica. Não vou fazer aqui uma análise do seu trabalho no sub-ministério da cultura, porque a minha indignação é maior (e faço questão que a saiba) pelo simples facto de ter integrado um governo liderado por um jotinhas de carreira cujos méritos profissionais e académicos são tão fracos como dúbios. Quem lê o tom das crónicas do Francisco sobre a educação e a escola não consegue encaixar essas reflexões com a tolerância ao chico-espertismo instalado neste governo (e nem estou a pensar em Relvas...). 

Mas o mais importante agora é que a guerra contra aquelas coisas más foi ganha (aqui em casa também já contamos uma vitória). Fazia falta a voz de um dos nossos melhores portistas e do único homem ao qual alguma vez ofereci uma Kona

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Este já não vai ao conclave

O cardeal Keith O'Brien, principal figura da ICAR do Reino Unido, demitiu-se. Alegadamente, terá tido «comportamentos desapropriados» com membros do clero de sexo masculino. Um voto conservador a menos na eleição do próximo Papa.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

E ainda há quem culpe o tamanho da dívida pública

Portugal, final de 2010
A dívida pública atingia os 93,5% do PIB.Este crescia a 1,9%.
Algumas semanas depois o país pedia assistência financeira.

Reino Unido, final de 2012
A dívida pública atinge os 95,4% do PIB. Este está estagnado.
Algumas semanas depois, uma (e apenas uma) das três grandes agências de notação baixa a sua nota de AAA (o máximo) para Aa1.

Todos os dias ainda ouvimos paralelismos entre esta intervenção externa e outras duas há 3 décadas atrás, culpabilizações do despesismo do Estado e a necessidade de o reduzir. Deficiências estruturais do €uro, não será certamente.
A fé de um católico fervoroso dificilmente teria tanta força.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

«Gudu-dádá» é diferente de «Gudu-dédé» e os dinossauros já não se extinguem?

A limitação dos mandatos (particularmente, para cargos executivos eleitos) sempre me pareceu um princípio republicano fundamental. A repetição perpétua de mandatos tem efeitos perversos, principalmente ao nível local, onde é mais fácil criar clientelas e impedir o escrutínio crítico. Portanto, depositava grandes esperanças em que a lei de limitação dos mandatos dos presidentes de Câmaras Municipais permitisse a rotatividade democrática.

Infelizmente, soube-se hoje que o senhor presidente da República portuguesa «descobriu» uma «gralha»: a interdição na letra da lei incidirá sobre os «presidentes DA Câmara» e não sobre os «presidentes DE Câmara», o que ajuda quem defende que a lei se refere ao território e não à função. E portanto, por uma vogal apenas estarão salvos da extinção muitos dinossauros.

Ignoro se a questão jurídica fica assim arrumada. De qualquer modo, andam a gozar connosco: um dos melhoramentos de que esta República necessita urgentemente é a limitação de mandatos. A lei deveria ser impecavelmente eficaz.

Sobre a polémica do «desrespeito» a Relvas, apraz-me dizer o seguinte

No estertor do cavaquismo, houve dirigentes do PS envolvidos nas operações do «bloqueio da ponte» - que tinham as mesmas características de «desobediência civil» (pacífica) que tem a presente fase dos protestos contra o governo. Aliás, passar na ponte 25 de Abril sem pagar era (e é) uma ilegalidade, e os actuais protestos (já conhecidos como «grandoladas») não envolveram (até agora e que eu saiba...) nenhuma ilegalidade.

Portanto, «grandolemos»...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Porque saio à rua no dia 2 de Março



Os efeitos das políticas que têm vindo a ser seguidas são conhecidos: o número de suicídios aumentou nos últimos dois anos* em mais de uma centena; o desemprego, agora de 16,9%, voltou a ultrapassar o máximo histórico; a mortalidade infantil aumentou 24%; 65 mil jovens abandonaram o país no último ano tantas vezes forçados pela falta de oportunidades; o número de falências aumentou 62%; nunca o crédito malparado das famílias foi tão elevado; a fome tem aumentado, e tem atingido também a classe média, em particular as crianças. E muito mais poderia ser dito.

Longe de terem sido sufragadas, estas políticas acontecem ao arrepio daquilo que foi uma campanha eleitoral em que os partidos vencedores se bateram contra os «sacrifícios» impostos aos portugueses, alegando intenções de fazer o contrário daquilo que hoje praticam. Fizeram pouco da Democracia, desrespeitaram impunemente o eleitorado.

Estas políticas também constituem ataque permanente (e irreversível), não só contra a Constituição, mas contra as conquistas mais importantes da Revolução dos Cravos. Perfilham um regime onde os direitos fundamentais são subalternizados a uma visão autoritarista do poder político, como se tem verificado na forma como são ameaçados e agredidos jornalistas, perseguidos os movimentos sociais recorrendo a detenções ilegais, acusações infundadas, práticas intimidatórias, vexatórias, recusa ilegal de assistência de advogado, e de muitas outras formas.

Estes ataques à Liberdade acontecem num clima de corrupção, despesismo, nepotismo.
Entre quem pratica estas políticas criminosas e quem as aceita passivamente, existe uma cumplicidade que destrói o país, destrói as nossas vidas, e contribui para um mundo pior.

Dia 2 de Março é uma oportunidade para mostrar que não queremos fazer parte deste silêncio cúmplice. Vou aproveitá-la.


O caso do bispo Azevedo

Comecemos pela reacção institucional, da «Comissão Episcopal Portuguesa», que merece ser reproduzida na íntegra. É assinada por Manuel Morujão (jesuíta). Fica ao cuidado do leitor concluir se é um desmentido ou uma confirmação.
Passemos à reacção do bispo Januário Ferreira (tido por «progressista»).
E, já agora, o sucessor de Azevedo enquanto «bispo auxiliar de Lisboa», Nuno Brás (aparentemente «conservador»).
Ouçamos ainda a «Rede de Cuidadores».

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O mais fundamentalista dos bispos portugueses acusado de assédio sexual?

É essa a extraordinária notícia cujos detalhes a Visão promete para amanhã: Carlos Azevedo, o mais fundamentalista dos bispos portugueses e putativo candidato a «Cardeal-Patriarca de Lisboa» da ICAR, é suspeito de «assédio sexual», sendo um dos queixosos... um sacerdote. A queixa terá sido transmitida em 2010 ao núncio da Santa Sé. Em 11 de Novembro de 2011, curiosamente, o Vaticano chamou-o.

Recorde-se o currículo clerical deste senhor: crítico do divórcio, defende o financiamento da construção de igrejas e dá missas em honra de Josemaria Escrivá, na sede da dita Opus Dei. Negava a existência de abuso sexual de menores pelo clero, contra a evidência. Fez muitas interpelações à Associação Ateísta Portuguesa, inclusivamente uma famosa carta que disse ter enviado e que nunca foi recebida.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

A aliança do capital e do clero

Ao proclamar publicamente que «a sociedade aguenta tudo», José Policarpo esclarece de que lado está a igreja dos católicos na actual divisão entre o poder troiquista e a oposição: está do lado de Ulrich e da banca. Confirma portanto que o neoliberalismo e o clericalismo casam bem: quanto mais pobres houver, mais necessárias serão as esmolas; quanto mais encolher o Estado social, mais crescerá a caridade; quanto mais desordem houver nas ruas, mais ele ordenará que não haja manifestações. No fim, Ulrich irá a uma missa de cheque-caridade na mão, mostrar que tem coração e tirar uma fotografia ao lado de Policarpo. Sorrindo, os dois confirmarão que procuram o «bem comum» e uma sociedade «justamente ordenada», onde os banqueiros ficam com os lucros e a ICAR com as sobras para distribuir aos pobres.

Francisco Assis estende a mão a Paulo Portas

Ao defender que o PS se deve aliar com a «direita» (sic) após as próximas eleições, Francisco Assis efectivamente apunhala toda a esquerda não PS - e provavelmente uma parte do próprio PS. Que na mesma entrevista elogie Paulo Portas mostra para onde quer ir uma parte do PS pós-Sócrates: para a direita e em força.

Julgamento quase final?


"Um inferno de paredes pintadas com anjos não é fácil de redesenhar"





domingo, 17 de fevereiro de 2013

A demissão de Ratzinger

Chocou-me a exibição pública, durante meses, da doença e visível degradação de Karol Wojtyla. Lembro-me de comentar que nenhuma família normal permitiria que fizessem a um dos seus aquilo que os católicos, na prossecução dos seus valores de «sofrimento» e «sacrifício», exigiram do seu papa polaco: que se mantivesse em funções quando as forças, nitidamente, lhe escasseavam.

Ratzinger aparenta ter feito a escolha contrária: demitiu-se alegando que lhe falta o ânimo «físico e espiritual». Não é claro que a verdadeira razão tenha sido essa (parece em melhor forma do que o Wojtyla de finais de 2004 e início de 2005) mas pode desde já dizer-se que a sua decisão, de certo modo, humaniza a figura do «Papa» dos católicos e a respectiva igreja. O que provavelmente não será bom para uma ICAR que vive muito centrada no seu monarca absoluto e autocrático, adorado como uma espécie de vestígio do divino no mundo real. De facto, esta demissão equivale a enjeitar uma missão que segundo a tradição da sua igreja lhe teria sido confiada pelo «Espírito Santo». Nesse aspecto, é quase uma apostasia.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

Portugal...

Continuo a ler no facebook todos os dias textos tristes sobre Portugal, umas vezes apocalípticos, outras vezes suspirosos, outras vezes... salazaristas!  Como se a vida não fosse já suficientemente sórdida sem as evocações patrioteiras dos iletrados.  Uns culpam a Merkel, outros culpam os gangsters deste governo, outros lembram-nos que os governos anteriores não eram compostos por flores que a gente queira cheirar.

E ninguém quer falar do problema principal:  com a excepção dos salazaristas (que como sabemos tão bem, não são as lâmpadas mais luminosas do nosso arraial), os portugueses odeiam Portugal...

E eu acho que a maioria tem razão.  Somos um país imoral e injusto.  Portugal não é uma meritocracia.  As pessoas sérias, as inteligentes, ou as trabalhadoras, são humilhadas todos os dias por uma mafia que há 800 anos se apropria do produto do trabalho delas.  Com a benção e às vezes sob a direcção experiente do patriarcado.   

O resultado é, naturalmente, os portugueses não acharem que Portugal seja um projecto que apeteça apoiar e acarinhar. Ninguém vê nenhuma razão para trabalhar para o futuro dum país em que as mais valias que geram vão direitinhas para a Madeira, para a Suiça, para as Caiman Islands, etc.

E como somos miseráveis, somos invejosos: o sucesso é um crime, é o caminho mais rápido para a desgraça laboral e às vezes social.  Gostava de saber se há sondagens, mas apostava que a esmagadora maioria dos portugueses acha a mobilidade social um crime.  A sabujisse dos media, dos políticos e do clero em relação à aristocracia é um sinal chocante desta tragédia.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O Estado Social segundo Passos Coelho

TSF:
"... um sistema de resdistribuição em que as pessoas ficam pobremente dependentes das transferências do Estado. (...) Isso representa um esforço sério dos contribuintes para perpetuar a pobreza."
A Margaret não teria dito melhor.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A nomeação de Franquelim Alves e outras práticas vergonhosas recentes

A propósito da longa compilação do despesismo e corrupção que tenho vindo a elaborar, relembro algo que já não é notícia: Franquelim Alves é o novo Secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação. No entanto, apesar de muito comentada e criticada, esta não é a única nomeação questionável: desde suspeitas de nepotismo, à promiscuidade flagrante entre interesses privados e públicos, a completa falta de pudor tem caracterizado a acção deste Governo.

Em paralelo, «Portugal está entre os países da Europa com menos transparência nas contas públicas, segundo um estudo internacional que analisou os orçamentos de uma centena de países» e são seguidas políticas (altamente suspeitas) para agravar esta situação.

Não admira, portanto, que o erário público saia a perder. Os indícios de práticas impróprias no obscuro negócio da privatização da EDP continuam a acumular-se: «EDP. Os critérios nunca revelados de uma operação que está a ser investigada pelo DCIAP» é o título de uma notícia cuja leitura recomendo.
Também muito perturbadora é a constatação de que 1600 milhões de euros «desapareceram misteriosamente» da contabilidade pública. Que tipo de erro grosseiro causará as discrepâncias apontadas? Revelará incompetência, ou má fé?

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sim, porque não?

Foi entregue na Assembleia da República, hoje, a petição que pede que a Constituição seja alterada de forma a que listas de independentes possam concorrer às eleições legislativas. Seria um bom passo para combater o monopólio dos partidos políticos sobre a política de nível nacional. Note-se que os grupos de cidadãos concorrem nas autárquicas e conseguiram em 2009 sete presidentes de câmara (mais do que qualquer outro partido com excepção dos «três grandes»). Nas freguesias, tiveram 8% das presidências de junta. Dá que pensar.

O que será da cultura dos nossos filhos com exemplos destes?

Francisco José Viegas, que foi Secretário de Estado da Cultura do actual governo, dirige-se publicamente ao Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais do seu governo nos seguintes  (e muito elevados) termos:
  • «Caro Paulo Núncio: queria apenas avisar que, se por acaso, algum senhor da Autoridade Tributária e Aduaneira tentar «fiscalizar-me» à saída de uma loja, um café, um restaurante ou um bordel (quando forem legalizados) com o simpático objectivo de ver se eu pedi factura das despesas realizadas, lhe responderei que, com pena minha pela evidente má criação, terei de lhe pedir para ir tomar no cu».
E o ministro Miguel Relvas toma conta da ocorrência com as seguintes sábias palavras: «Respeito e respeitamos as opiniões de quaisquer ex-membros do Governo». Certo. E respeitarão a opinião de um vulgar cidadão que lhes diga o mesmo que o carroceiro Viegas(*)?

Lá no Forte da Ameixoeira não gostaram de saber desta

O ex-chefe da «secreta» militar italiana foi condenado por um tribunal de Milão a dez anos de prisão. Foi considerado culpado do sequestro, em 2003, de um imã egípcio que foi depois entregue à CIA e torturado no Egipto de Mubarak. Vários subordinados italianos do senhor chefe foram também condenados a penas de prisão. (Os EUA recusaram-se a colaborar com a justiça italiana - 23 dos seus foram condenados in absentia, incluindo o ex-chefe da CIA em Milão, condenado a oito anos de prisão.)

É raro que este género de crimes - os cometidos pelos governos e pelos seus «serviços secretos» - sejam investigados e resultem em condenações. Portanto, um dia bom para os direitos humanos e um grande ponto a favor da justiça italiana.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Estado mínimo

O Blasfémias e o Arrastão estão de acordo

Não é comum que uma decisão política recolha a indignação dos autores do Arrastão e do Blasfémias (em particular a nada liberal Helena Matos), mas a recente notícia segundo a qual «quem não exigir fatura arrisca multa do Fisco» parece causar uma revolta que ultrapassa as barreiras da perspectiva ideológica, e bem, a meu ver.

Desde a DECO ao STI, várias instituições se têm manifestado contra este «erro histórico». Por um lado, trata-se de uma lei injusta, de um abuso de poder. 
Por outro lado, por não existirem meios para garantir a aplicação dessa lei, ela pode tornar-se uma ferramenta de acusação selectiva - ao permitirmos a existência de uma lei que é desrespeitada pela sociedade em geral não nos limitamos a criar na população a noção de que as leis não são para levar a sério: damos aos mais poderosos a possibilidade de «atacar» inimigos políticos indesejados por desrespeitarem leis que virtualmente não existem. 

Já contra a corrupção que custa milhões ao estado, poucos ou nenhuns avanços se verificam (mas os recuos são abundantes). 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Em câmara lenta

  • «Jorge Silva Carvalho, ex-diretor dos Serviços de Informações Estratégicas da Defesa e ex-administrador do grupo Ongoing foi constituído arguido, desta vez, no âmbito de um processo interposto por Francisco Pinto Balsemão (...) O relatório sobre a vida de Pinto Balsemão faz parte do processo-crime conhecido como o caso das secretas. A acusação considera que o documento ajuda a perceber como funcionava o triângulo entre os serviços secretos, Jorge Silva Carvalho e o grupo Ongoing.» (TVI 24)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem e a laicidade

O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH) apresentou recentemente dois conjuntos de decisões que merecem destaque.
  1. No caso «Dimitras e outros contra a Grécia», o TEDH deliberou que, ao obrigar os queixosos a revelarem a sua opção em matéria religiosa em tribunal, a Grécia violou o artigo 9º da Convenção (liberdade de consciência). Entretanto, a Grécia modificou o procedimento judicial (por lei de Abril de 2012) tornando possível uma declaração solene alternativa ao juramento religioso.
  2. No caso «Eweida e outros contra o Reino Unido», o TEDH pronunciou-se sobre quatro situações diferentes.
  • a) No caso de uma hospedeira suspensa das suas funções por insistir em usar um crucifixo - enquanto a British Airways insistia na importância da imagem da empresa mantida através do uniforme - o TEDH decidiu que tinha havido violação do mesmo artigo 9º (liberdade de consciência ou de religião), por se ter dificultado a expressão da crença religiosa da queixosa, especialmente tendo em conta que a outras hospedeiras era permitido usar turbantes ou véus.
  • b) No caso de uma enfermeira também suspensa por insistir em usar um crucifixo, o TEDH decidiu, -pelo contrário - que não houvera violação do artigo 9º nem do artigo 14º (proibição de discriminação), porque neste caso a razão para a interdição do crucifixo se devia a razões de saúde e segurança.
  • c) No caso da funcionária pública que - por razões religiosas - se recusou a conduzir cerimónias de reconhecimento civil de uniões do mesmo sexo - e portanto foi despedida -, o TEDH decidiu que não houve violação do artigo 9º em conjunto com o 14º.
  • d) Finalmente, no caso de um empregado de uma empresa de «aconselhamento psico-sexual» que perdeu o seu emprego por se recusar a «aconselhar» casais do mesmo sexo, o TEDH decidiu que não houve violação dos referidos artigos.

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

O fim da picada

A América é o fim da picada e o Texas é a América ao quadrado.  Nós decidimos voltar para a Europa no fim deste verão, por uma série de razões, entre as quais a questão da educação dos nossos filhos, a completa ausência de senso comum e o empobrecimento rápido da classe média.  A miséria e o crime estão a avançar ao mesmo ritmo que as fortunas dos milionários se tornam cada vez mais obscenas. 

A maioria dos europeus que conheço não acredita que a América é um país sem senso comum, habitado por "know-nothings" e governado por gangsters, e há muito que deixei de me importar com isso, mas há quase 15 anos aqui, todas as semanas leio notícias inexplicáveis!  Há poucos anos o governador Rick Perry nomeou um grupo de talibans para o Board of Regents da minha universidade e um declarou imediatamente que era um escândalo que os professores só trabalhassem 6 horas por semana.  O ódio da direita aos professores universitários é proverbial.

A violência, a miséria, a ganância e a ignorância da maioria dos americanos são difíceis de descrever.  Só lendo os jornais regularmente e vendo as estatísticas dos problemas mentais é que se percebe que a maioria dos americanos vive num estado de exaltação permanente.  Um dia é uma mulher que vai pedir comida a um centro social, com dois filhos, negam-lhe cupões para comida e ela dá um tiro em cada filho e suicida-se em frente de toda a gente.  Uma das crianças não morreu.  Outro dia é o governador do Texas que anuncia que cortou os impostos aos mais ricos e agora tem de congelar os nossos salários.  No outro os jornais anunciam, triunfantes, que o Texas vai ter o maior centro criacionista dos EUA.  No outro um pastor declara que vai abrir mais um centro para curar a homossexualidade.  Depois é o Texas Board of Education que declara que "alguém tem de fazer frente aos especialistas" (biólogos, geólogos, astrónomos, paleontólogos) e explicar que a Arca de Noé foi um facto. 

Os governantes, claro, representam esta gente eloquentemente.  Um dia é mais outro senador que acha que o presidente Obama nasceu no Kénia, ou um congressista que diz que o mundo tem seis mil anos, ou um senador que o aquecimento global é uma invenção anti-patriótica, ou que os furacões são a vingança de Deus por não matarmos os homossexuais à pedrada, ou uma mulher que tem um filho com problemas mentais que gosta muito de disparar armas de assalto e a quem ela compra carregadores com 30 balas, com os quais ele um dia mata uma data de crianças...   e a reação dos texanos?  Declararam que vão armar os alunos da minha universidade

Era uma vez um país que jurou nunca mais torturar ou ajudar à tortura

  • «Mais de 50 países, entre os quais Portugal, deram cobertura ao programa secreto de transferência extrajudicial de prisioneiros suspeitos de terrorismo em voos da CIA, lançado pela Administração Bush após os atentados de 11 de Setembro de 2001, diz um relatório divulgado esta terça-feira pela organização de direitos humanos Open Society Justice Initiative» (Público)
Os nomes dos dois principais responsáveis portugueses são José Manuel Durão Barroso e José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Coligações autárquicas

Creio que uma derrota da direita nas autárquicas poderia conduzir à queda do governo. Nesse sentido, seria de esperar que houvesse algum esforço à esquerda para coligar esforços para enfraquecer o pior governo desde o 25 de Abril. Infelizmente, tirando a coligação oposicionista no Funchal (mas sem o PCP) e  eventuais convergências PS-BE noutros concelhos madeirenses, parece que nada mexe à esquerda.

À direita, pelo contrário, PSD e CDS aparecem já coligados em Lisboa e Gaia, entre outros municípios. É  uma dinâmica antiga, é certo. Mas.

Seria de esperar que a esquerda tivesse retirado as devidas conclusões dos fracassos e derrotas dos últimos anos. Que houvesse um esforço sério de aproximação de parte a parte. Infelizmente, parece que nada disso está a acontecer.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Em defesa da IURD

Angola «suspendeu» a IURD. Eu sei: no dia 31 de dezembro, a IURD organizou em Luanda um evento num estádio para 30 mil pessoas prevendo que viessem 150 mil. E foram 250 mil (ou mais, os números variam). Terão morrido 13 no chamado «desastre de Luanda». É horrível, terá havido irresponsabilidade e negligência dos responsáveis dessa igreja (e do policiamento do evento), mas não acredito que a intenção fosse causar mortes.

Num Estado civilizado e laico, este seria assunto para os tribunais: as responsabilidades teriam que ser apuradas e os responsáveis punidos. A solução angolana, pelo contrário, é típica de um Estado autoritário: «suspender» a IURD (e, por tabela, mais seis igrejas) por decisão governamental.

Mais incrível ainda, o senhor presidente de Angola acusa de «publicidade enganosa» a IURD. É grotesco: prometer «fim a todos os problemas que estão na sua vida; doença, miséria, desemprego, feitiçaria, inveja, problemas na família, separação, dívidas, etc» é «publicidade enganosa»? Então o que serão as promessas do «paraíso» católico? Ou as dos feiticeiros africanos que também vemos em Lisboa? Publicidade não enganosa? E as promessas de democracia do senhor Eduardo dos Santos?

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O sucesso e o insucesso

O sucesso: Portugal voltou aos mercados.

Naturalmente não se trata de um sucesso do Governo. Como se pode ver pela imagem abaixo (via Ladrões de Bicicletas), algo aconteceu em finais Julho que teve um impacto internacional sobre todos os países afectados pela crise das dívidas soberanas.



Em 26 de Julho foi publicado neste blogue um texto do Miguel Carvalho chamado «Draghi e frase que marca o princípio do fim da crise?», que citava o Presidente do BCE e comentava:

«A frase passou despercebida à imprensa portuguesa (com pelo menos a exceção do Público), mas ela pode muito bem marcar o princípio do fim da crise. Até agora o BCE recusou-se a intervir fortemente no mercado  das dívidas públicas, com a desculpa de só ter um mandato de política monetária de manutenção da inflação. Apesar de a frase não fazer assim tanto sentido do ponto de vista económico, e de provavelmente o próprio BCE não acreditar assim tanto nela, era a frase que todos queriam ouvir. O BCE finalmente teve a vontade de arranjar justificação para uma intervenção num mercado lateral.»

O sucesso a que me refiro é o sucesso da previsão do Miguel Carvalho. Não é claro que esta resposta ao nível das instituições europeias tenha sido a melhor, que não existiriam alternativas implementáveis capazes de lidar com a crise das dívidas soberanas de forma que causassem um rasto de destruição menor. Neste tema complexo, e dada a falta de vontade política dos grande actores a nível europeu em acautelar o interesse dos cidadãos à custa da diminuição dos lucros das instituições financeiras, tenho mais dúvidas do que certezas. Mas que a frase que passou despercebida tinha uma enorme importância, lá isso tinha.

Quanto ao insucesso: o desemprego em Portugal ultrapassou um novo máximo histórico.


Foram mais previsões falhadas do Governo.