terça-feira, 6 de novembro de 2012

A grande desilusão


Não escrevo por mim, escrevo pelos meus colegas e amigos (cientistas, divulgadores, estudantes, etc.) que tinham grandes expectativas neste Ministro da Educação e Ciência. A sua aura de bom divulgador sempre gerou alguma empatia no meio científico. Fui testemunha direta dessa empatia quando lhe atribuímos o título de sócio honorário da Sociedade Portuguesa de Astronomia. No entanto, os indícios da desilusão estavam lá desde o início, quando aceitou participar num ministério de fusão da educação com a ciência, em que a justificação da fusão era de um economicismo puramente populista, e quando aceitou participar num governo cujo primeiro-ministro apresenta um curriculum estranho, muito mais dedicado à Jota do que aos estudos, um primeiro-ministro sem qualquer noção da importância da ciência no desenvolvimento das sociedades modernas. A que se agrava o facto de estarmos a falar do autor de "O Eduquês em Discurso Directo", livro onde são desenvolvidas ideias altamente moralistas do ensino. 
Cedo se percebeu que a componente dedicada à ciência iria ficar mais a cargo da FCT, do que de um ministério saturado com o trabalho relativo ao ensino secundário. Depois começaram os primeiros problemas de financiamento de bolseiros e universidades. A seguir veio o caso Relvas, tratado com muita condescendência e profunda lentidão. Supunham os meus colegas e amigos que o mesmo autor de "O Eduquês em Discurso Directo" atuasse com firmeza ou, pelo menos, coerentemente fizesse um ultimato ao primeiro-ministro: ou ele ou Relvas. Mas não, as conclusões da inspeção à Lusófona deixam margem para tudo, até para Relvas e outros cábulas poderem repetir as cadeiras que fizeram de uma forma ilegal. Pior, até agora Relvas não teve qualquer tipo de sanção.
Nas últimas semanas, as melhores universidades do país, todas públicas, estão a entrar em colapso adotando medidas terceiro-mundistas para não fechar portas, medidas essas que comprometem seriamente a investigação aí realizada, e que é a melhor investigação que se pratica no país.
A desilusão dos meus colegas e amigos é agora profunda, agora que se tornou evidente que a ciência está a ser progressivamente eliminada por um bando de cábulas e chicos espertos bem nas barbas do ministro e autor de "O Eduquês em Discurso Directo".

3 comentários :

Ricardo Alves disse...

Embora concorde na generalidade com o teu artigo, deixa-me anotar dois detalhes.

1) O «caso» Relvas-Lusófona não tem nada de ilegal. As cadeiras foram feitas de acordo com a lei em vigor, que aliás o próprio deputado Relvas terá aprovado na AR apenas meses antes de ir à Lusófona. Podes achar que o número de ECTS´s dado por competências profissionais é excessivo, e eu concordo. Podes achar que ele não quis estudar seriamente, e eu concordo.

2) PM´s mais dedicados «às jotas» do que aos estudos foram todos de Guterres para cá. E desconfio que o próximo também o será.

Rui Curado Silva disse...

Ricardo,

houve equivalências aprovadas sem uma reunião do conselho científico, assinadas apenas pelo reitor, isto é ilegal, para não dizer mais.

Pois, a maldição das jotas está bem enraizada e vai ser difícil irradicá-la nos próximos tempos

Anónimo disse...

Caro Rui,

«A que se agrava o facto de estarmos a falar do autor de "O Eduquês em Discurso Directo", livro onde são desenvolvidas ideias altamente moralistas do ensino.»

Como assim?