sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sexismo

A minha universidade está a passar por uma crise tremenda, com a direita religiosa a querer revolucionar a cultura organizacional à bruta, como se faz sempre nos EUA.

Esta crise é aliás geral - veja-se o livro de Benjamin Ginsberg "Faculty Fallout" - e está-se a estender à Europa, através dos canais do costume.

Mas enquanto os administradores, cada vez mais e mais bem pagos, estabelecem uma cultura nova, com classes (administradores em cima, professores em baixo, pessoal auxiliar no esgoto), os lugares de gestão intermédios, como os deões e os directores de departamento, reagem com outra revolução, desta vez contra o sexismo e o racismo que caracterizam o Sul Profundo.

Estas coisas exasperam os oligarcas que mandam no governador e, por simpatia, o governador e o exército de administradores (seria mais correcto chamar-lhes comissários políticos) que ele nos impõe. Isto da diversidade e da justiça não são coisas que divirtam muito a maioria dos texanos. Aqui todos temos que ter um rótulo étnico (uma raça, como os cães). A minha universidade vem todos os anos entre as 5% mais hostis para gays e lésbicas. Até há poucos anos os estudantes conservadores punham uma banca junto ao edifício principal do campus com bolachas a 1 dólar para brancos, 75 cêntimos para hispânicos e 50 cêntimos para africanos. Os autocolantes com bandeiras da Confederação, ou com a bandeira do Texas, com a palavra "Secede" em cima, demostram eloquentemente que as feridas da Guerra Civil ainda estão abertas.

E eu, claro, que sou estrangeiro e nunca vou conseguir perceber esta cultura completamente, fui eleito para uma comissão para aumentar a diversidade no meu departamento.

A falta de tempo e a cultura esquizofrénica em que esta comissão opera não fazem do meu trabalho uma coisa divertida, mas entre as coisas todas que desatei a ler descobri que para a mesma experiência e competência, as mulheres portuguesas ganham em média 91% do que ganham os homens, as americanas 81%, e as texanas: 72%!

6 comentários :

Cláudio Tereso disse...

Deixa ver se percebi bem:

Tinham uma tabela de preços com essa descriminação directamente indicada???

E há fotos dessa maravilha? :D

Filipe Castro disse...

não, não, isto são estatísticas.

Ricardo Alves disse...

E tu contas como «latino» para efeitos étnicos?

Miguel Madeira disse...

http://edition.cnn.com/2011/09/27/us/california-racial-bake-sale/

Filipe Castro disse...

:o) "Other" ou "Refuses to answer". Recuso-me a meter um rótulo, assim, sem mais nada. Como se o Bush e o Beethoven tivessem mais em comum que o Bush e a Condi, ou o Beethoven e o John Coltrane. Aqui não sou "branco" mas em rigor devia meter "caucasiano", se essa hipótese estiver no formulário. A universidade considera-me "Latino" porque aqui ninguém sabe onde é Portugal. E os gajos baralham-se um bocado: no verão sou muito mais escuro que muitos "African-Americans", o meu nariz é muito maior que o de muitos judeus (todo o ano) e o nome Castro só pode vir do "México" (aqui o México vai até ao sul do Chile :o) De forma que acho que para eles sou latino. Mas eu digo-lhes sempre que venho da Europa e eles não sabem o que hão-de fazer... não me podem chamar "spic" que é pecado... :o) Em Israel há milhares de Castros, de forma que os mais espertos acham que eu sou judeu (da self-hating persuasion).

Ricardo Alves disse...

Quando confrontado com essa escolha em formulários universitários, também escolhi a opção «info denied». É o que eles merecem. ;)