quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A abstenção técnica chega à imprensa, sem que a verdadeira questão política aflore

Com algumas horas de atraso sobre este ignorado blogue, dois jornais publicaram estimativas dos «eleitores fantasma» que assombram os cadernos eleitorais.

No Correio da Manhã chega-se, citando a Aximage e através de um raciocínio quase idêntico ao meu, à estimativa a que eu cheguei: 8,37 milhões de potenciais eleitores residentes em Portugal. Simplesmente, depois o Correio da Manhã assume o número errado de eleitores recenseados: 9,62 milhões e não 9,43. Penso que devem somar os recenseados no estrangeiro aos recenseados em território nacional (o que não faz sentido), e portanto ficam com uma estimativa dos «eleitores fantasma» superior à minha (em 200 mil).

Quanto ao jornal i, através de um raciocínio que não consigo reconstituir, chega a uma estimativa inferior, de apenas 800 mil. (Mantenho o meu número, um milhão.) Mas o i abordou algumas individualidades que lançam explicações para a discrepância. A sobrevivência de mortos nos cadernos eleitorais é assumida por todos, e o porta-voz da CNE chega a dizer que aos «110, 115 anos» são automaticamente eliminados. O que leva à conclusão de que quem morre aos 70 pode sobreviver 40 anos nos cadernos eleitorais. Outros falam nos emigrantes (para o estrangeiro) e nos «duplos registos».

O que força a que se coloque a questão que tem escapado ao debate: como é que ainda ninguém acabou com isto? Ora bem. Acontece que as freguesias não apenas recenseiam os eleitores, como beneficiam de manter o número de recenseados elevado. Mais eleitores são mais mandatos autárquicos, maiores salários para os autarcas, e maiores subvenções para equipamentos sociais. Não há vantagem alguma em eliminá-los.

2 comentários :

E agora para algo con pateta mente diferencial disse...

como beneficiam de manter o número de recenseados elevado. Mais eleitores são mais mandatos autárquicos, maiores salários para os autarcas, e maiores subvenções para equipamentos sociais. Não há vantagem e há desvantagens em câmaras pequenas e de forte emigração

Mora Sertã, Fundão,Sabugal etc

são centos de milhões de razões
há listas algures nos alentejos
com 10 a 15% de mortos e os autarcas sabem disso

de resto um deles ainda tem 2 tios e um primo que morreu num acidente há 7 anos recenseado

é provável que só haja 8 milhões e tal

não há multas nem responsabilidades

Luís Lavoura disse...

"A sobrevivência de mortos nos cadernos eleitorais é assumida por todos"

Todos assumem, todos sabem, mas ninguém faz nada para que se acabe com essa pouca-vergonha.

(Quando o meu pai morreu eu apressei-me a comunicar o facto à Junta de Freguesia, pedindo explicitamente para o tirarem dos cadernos eleitorais. Responderam-me que nada tinham a ver com isso, que não eram eles quem tinha que fazer isso, que quem o faria seria o Registo Civil, mais tarde, enfim, desinteressaram-se completamente do assunto.)