quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Islândia e Singapura no ranking de transparência

No ranking de percepção da corrupção da Transparency International divulgado recentemente, países como Singapura, Irlanda, Barbados, Qatar e Islândia aparecem muito bem classificados, até ao vigésimo lugar.
Ando a ler "Meltdown Iceland" de Roger Boyes que descreve a sucessão de acontecimentos que levaram ao descalabro financeiro da Islândia. A Islândia em 2008 era de longe um dos países da Europa cujo sistema financeiro era menos transparente, onde clãs e máfias familiares controlavam os principais fluxos de dinheiro do país. No entanto, ao contrário de outras crises a componente ideológica, em particular o thatcherismo doentio do ex-primeiro ministro David Oddsson, teve um contributo importante para se atingir a bancarrota. Dois anos depois a Islândia mudou de governo mas as elites, embora falidas, são basicamente as mesmas. Não imagino como é que um país que era tão corrupto e opaco em Outubro de 2008 possa estar de volta ao topo da transparência, acho mesmo obsceno.
Em relação a Singapura só o dogmatismo ideológico pode explicar esta classificação. Um país não democrático controlado por uma máfia familiar é tão transparente como um Airbus 380 pintado de rosa-choque. Também só a fé no Deus Mercado explica as posições da Irlanda e do Qatar, que passam cada um pela sua versão da crise islandesa, e a dos Barbados, onde repousa e circula dinheiro de alguns dos maiores criminosos do mundo.
Enquanto os reguladores continuarem fascinados com os regulados não vamos a lado nenhum.

1 comentário :

tempus fugit à pressa disse...

os índices referem-se às corrupções nos níveis intermédios

as élites nunca entram na formulação destes índices
são geneticamente corruptas