segunda-feira, 7 de junho de 2010

Apocalipse

Hoje, casaram-se duas mulheres (uma com a outra).

Amanhã de manhã, casais heterossexuais catolicamente casados vão acordar e dizer: «o nosso casamento ficou destruído desde que as bichas do 2ºE se podem casar». Filhos vão entrar pelo quarto dos progenitores e dizer: «a nossa família ficou desestruturada e agora odiamos os nossos pais». Nos restaurantes, os empregados vão dizer para os patrões: «deixámos de lavar as mãos desde que entrámos numa sociedade porcalhona». Nas empresas, o absentismo vai aumentar porque o totalitarismo do orgasmo fala mais alto. Numa feira de acessórios sexuais, a presidente do Clube das Virgens vai dizer «fiquei com vontade de usar lingerie sexy».

À tardinha, vão chover rãs e o sol vai parar no céu. Nascerão galinhas com dentes, crianças com cauda de diabo e monstros disformes errarão pelas ruas. A electricidade vai faltar, os rios correrem da foz para a fonte, as maçãs caírem para cima e os porcos ganharão asas. Será o apocalipse. Porque mais pessoas podem fazer o que querem.


(Cesária Évora, Apocalipse)

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