segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sócrates: malandro ou trapalhão?



Começo por admitir: também eu era capaz de fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para conhecer o Chico Buarque. Compreendo por isso a vontade de José Sócrates. Só que depois não diria que foi o Chico que me quis conhecer...
Este tipo de trapalhadas, esta má relação com a verdade, já se tornaram uma imagem de marca do primeiro ministro. Desta vez foi a nível internacional. Sócrates não se pode queixar assim da comunicação social: tem que se queixar de quem partiu a ideia de usar Chico Buarque para se autopromover.
Se foi dos seus assessores, sem lhe darem conhecimento, está na altura de arranjar novos (ter assessores tão caninamente fiéis nunca é muito bom - a este respeito, leia-se Ferreira Fernandes: "Ora aí está uma dessas coisas que podemos tirar a limpo sem precisar de uma comissão parlamentar. Os jornalistas que acompanham a viagem não são tantos assim (cinco?, dez?) que não possam explicar a história comum. Um deles até escreveu "segundo fonte do Gabinete de Sócrates". Agora que há um desmentido rotundo à versão que essa fonte deu, o jornalista pode chegar ao pé dela e exigir uma explicação que deve ser pública. E se a fonte não quiser explicar- -se, o jornalista, como houve mentira deliberada, está desobrigado do sigilo e pode contar a história toda. Fico à espera, confiante - o caso é simples e os intervenientes poucos.").
Se foi realmente de Sócrates que partiu tal ideia (ou teve o seu beneplácito), então Chico bem poderia ter-lhe cantado a Homenagem ao Malandro.

A luta depois da manif

A CGTP parece ter reunido cerca de 300 mil cidadãos na Avenida da Liberdade, no Sábado (números da organização). Muito bem. E agora? Quais serão as consequências, com greve geral ou sem ela?

O Estado fora-da-lei

Desta vez, Israel foi longe demais: atacou, em águas internacionais, um comboio humanitário que tentava furar o bloqueio à Faixa de Gaza. Causou uma dezena de mortos e dezenas de feridos (principalmente turcos). Não parece haver justificação para o ataque, a não ser dois revólveres nas mão dos ocupantes de alguns dos navios.

A diplomacia internacional vai reagir, mas não é claro como. Terminará o tratamento de excepção que é concedido a Israel?

Espíritos porcalhões em campanha pelo totalitarismo do orgasmo depravado

O autor das linhas abaixo dispensa apresentações. É o homem que alegra muitas segundas-feiras livre-pensadoras, e que mais gargalhadas saudáveis provoca num país que, sem ele, seria muito mais cinzento.
  • «Esta lei não surgiu do nada. Ela constitui apenas o mais recente passo de uma vasta campanha de promoção do erotismo, promiscuidade e depravação a que se tem assistido nos últimos anos. Por detrás de leis como o aborto, divórcio, procriação artificial, educação sexual e outras está o totalitarismo do orgasmo. Parece que o deboche agora se chama "modernidade". Mas se um dia, em vez de uma maioria porcalhona, tivermos um parlamento nihilista, espírita, xenófobo ou iberista, o que salva a identidade nacional?»
Ó grande César, em frente nessa campanha pelo totalitarismo do orgasmo! Que o Parlamento um dia seja espírita ou porcalhão, ou as duas coisas ao mesmo tempo! E que o Parlamento te vote uma estátua enquanto grande promotor do moderno deboche depravado!

(E se fizéssemos uma subscrição nacional para oferecer uma assinatura anual da Playboy portuguesa ao grande César?)

Mais Alegre

O indubitável é que Manuel Alegre não vai atrás dos partidos. É ao contrário. O que só abona a seu favor.

Revista de blogues (31/5/2010)

  1. «O poder de um ditador dificilmente se pode chamar república. Poder de 1 = mono + arquia. (...) Uma República que não tem eleições livres, que não tem separação de poderes e que tem um ditador vitalício, a que só uma cadeira teve a coragem de pôr fim, é uma impossibilidade conceptual. O fascismo português, baptizado de «corporativo, democrático-orgânico e anti-parlamentar» como então se aprendia no 7.º ano dos liceus, na OPA, é o que queiram chamar-lhe mas, na minha opinião, não foi república.» (Ponte Europa)
  2. «É, com efeito, muito simples: se proibimos o desrespeito - de bom ou mau gosto - pela homossexualidade, como não o proibiremos pela sexualidade em geral? Se o proibimos pelo casamento homossexual, como não o proibiremos pelo casamento tout court? Ou pelas convicções políticas e religiosas? Ou pelas tradições culturais?» (Vias de Facto)

sábado, 29 de maio de 2010

A esquerda cervejista volta a atacar

Tendo a concordar em parte com Carlos Vidal (uma vez teria que ser): o título “A crise dos poderosos é a festa dos oprimidos” para a “concentração anticapitalista” marcada para amanhã, antes do protesto organizado pela CGTP, é muitíssimo infeliz. Para além de que, como escreve nos comentários o Nuno Ramos de Almeida, ir a uma manifestação para criticar quem a organiza é uma profunda descortesia e falta de consideração. Mas cortesia e consideração são coisas que os setores como os que promovem (ia dizer “organizam”, mas isso é muito pouco anarquista) esta “concentração anticapitalista” não conhecem. Afinal, não nos podemos esquecer de que foram precisamente elementos ligados a setores como aqueles (não estou a falar dos promotores desta concentração em particular, que eu nem sei quem são) que foram à celebração do 1º de Maio de 2009 organizada pela CGTP para atacar Vital Moreira. Para evitar confusões apesar de tudo injustas, se calhar até acaba por ser bom para a CGTP esta demarcação – para demonstrar que uns não têm nada a ver com os outros.
É claro que não posso concordar plenamente com Vidal – afinal, são frequentes os apoios a atos violentos por parte deste artista plástico, entre os quais o ataque a Vital Moreira, que Vidal saudou entusiasticamente. As contradições de Vidal são apontadas por Ricardo Noronha, mas nem creio que mereçam tanta atenção: como o próprio Ricardo Noronha aponta, toda a gente já percebeu que Vidal pertence à “ala psiquiátrica”.
Mais significativo parece-me o apoio entusiástico que alguns membros do “Vias de Facto” e de outros blogues (como apontou o Ricardo Alves) dão à tal concentração. Conforme suspeitava aqui, agora confirma-se: o blogue onde escreve Diana Andringa, a jornalista que deu aos caloiros do Técnico o conselho que nunca esqueci (“não bebam nem joguem cartas numa manifestação – dá um mau aspeto do caraças!”) é um arauto da “esquerda festiva” (e que, quando calha, parte umas montras, quando não faz pior). Como irão esses (oprimidíssimos) membros do "Vias de Facto" fazer a festa amanhã à tarde? Não querem que seja feriado? A Diana também vai? Também festeja? Estou morto por saber. E triste por a esquerda chegar a isto.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sócrates não pode ser mau de todo

Conseguiu algo que muitos sonham: vai conhecer pessoalmente Chico Buarque por vontade do cantor e escritor brasileiro. E esta, hein? Esta vontade de Buarque vale mais do que uma licenciatura numa boa universidade - é um verdadeiro doutoramento honoris causa!

Burcas proibidas em Lérida

A cidade espanhola de Lérida é a primeira da península ibérica a adoptar uma medida restritiva do uso de véus integrais, que ficam proibidos nos «equipamentos municipais». A resolução aprovada sugere que os órgãos regionais catalães e o Estado central regulem o uso nas ruas.

A burca tornou-se, em toda a Europa e alhures, o símbolo da opressão islamista sobre as mulheres, e a sua proibição um sinal de que nem todos estão indiferentes às provocações do fascismo islâmico.

Em defesa do nosso Presidente

Já escrevi que Cavaco merece a minha admiração e respeito por ter colocado a decisão que mais interessava ao todo nacional - não vetar o casamento entre pessoas do mesmo sexo - acima das suas convicções pessoais e religiosas. Acrescento agora que tem também o meu respeito por o ter feito de tal modo que não lhe permite ganhar votos nem entre os anti-casamento (pela substância do acto, a promulgação), nem entre os pró-casamento (pela forma, ressentida e desagradável, da mensagem de promulgação). Ninguém o pode acusar de eleitoralismo.

O problema deste governo...

...é reconhecer que o PSD tinha razão.

Antes das eleições havia dois programas em confronto. Sei que é complicado chamar "programa" às propostas do PSD, mas todos sabem qual era a prioridade de Manuela Ferreira Leite: o combate à dívida. Alegava que estamos sobreendividados, e queria a reavaliação das obras públicas. Perante uma situação destas, sabemos o que faria: basta consultar o PEC III.

Os portugueses preferiram o programa do PS. Sócrates orgulhava-se da sensibilidade social em criar um apoio extraordinário para os desempregados; afirmava que o investimento não deveria parar, que essa seria a saída para a crise; alegava que perante uma recessão como aquele que o país tinha atravessado não haveria pior altura para apertar o cinto.

Depois, alega que o mundo mudou em 15 dias, e quer cumprir o programa alheio. Diz hoje sobre o subsídio de desemprego aquilo que Manuela Ferreira Leite dizia antes das eleições. O problema disto é que não parece senão o reconhecimento cabal de que afinal ela e o PSD tinham toda a razão. Ela estava muito à frente, antecipando os problemas que haveriam de "mudar o mundo" poucos meses depois. Com a sua vitória, parece, os mercados teriam acalmado muito mais cedo, sabendo que o país tinha eleito alguém que tinha a redução da dívida como a sua prioridade principal.

Sócrates poderia ter feito algo diferente. Diferenciação do IMI para imóveis de luxo, impostos sobre grandes fortunas, 50% de IRS para um novo escalão a criar, fim do paraíso fiscal na Madeira, nova taxa de IVA sobre bens de luxo, e por aí fora. Com uma maioria de esquerda no parlamento, e uma crise que o governo alega ser exógena, não haveria melhor oportunidade para passar estas medidas. Não teria Passos Coelho de braço dado, mas poderia dizer «discordo» quando este último, em nome do PSD, dissesse «eu bem te avisei».

We all know it´s over

Com o PSD a apresentar uma vantagem de 16% nas sondagens, começa a parecer impossível que alguma vez Sócrates volte a ganhar eleições legislativas. Tempo para o PS preparar um novo líder. A menos que queira Passos Coelho como primeiro ministro.

Climatologistas, cientistas, e efeito de estufa

Mantendo a polémica que existe com outros autores deste blogue, cá vai mais um excelente vídeo sobre a questão do efeito de estufa. Mais um excelente trabalho de divulgação de Potholer54, cujo canal aconselho vivamente.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Qual é a nossa zona?

Há pouco, ao regressar do almoço, eu e alguns colegas reparámos numa carrinha audi A4, estacionada num lugar da EMEL, com o vidro partido, porta luvas aberto e remexido. Resolvemos contactar a polícia e três de nós, após procurarmos a antiga esquadra do Bairro do Arco Cego, que já não está no mesmo sítio (para onde terá ido?), telefonámos para o 112 e pedimos ligação à polícia. Ao telefone indicámos o endereço da ocorrência como sendo a Rua do Arco Cego e fizemos a descrição da viatura, matrícula incluída.  Foi-nos pedido que aguardássemos no local.

Após cerca de 10 minutos, passou uma viatura da polícia, na Rua do Arco Cego, de onde nos foi dito que o local onde estava o carro assaltado, e de onde nos encontrávamos a esbracejar na direcção dos agentes, ficava fora da sua zona! Pois o carro encontrava-se afinal na Rua Costa Godolfim, que fica elevada em relação à Rua do Arco Cego de menos de 2 metros, já fazendo parte do bairro com o mesmo nome (que não engloba a rua de nome igual).

E muito bem condenados

Três jornalistas condenados a pagar 400 mil euros por publicarem escutas telefónicas.

O "espanhol técnico" de Sócrates

Faz muita confusão a alguns blógueres bem-pensantes o nosso primeiro-ministro a tentar falar espanhol… em Espanha, junto de empresários. Não percebo porquê: qualquer português que tente comunicar com um espanhol consegue, desde que fale devagar, pronunciando todas as sílabas. É da minha experiência pessoal: aprendi a falar espanhol enquanto assistia, todas as noites, às versões dobradas das telenovelas brasileiras (um género de que gosto), nos canais de televisão americanos destinados aos imigrantes hispânicos. Ao ouvir os atores brasileiros (e portugueses, como Maria João Bastos em El Clon e Nuno Lopes em Esperanza) dobrados, aprendi alguns truques e pormenores de uma língua que, já de si, é muito simples para qualquer pessoa, e mais simples ainda para nós, portugueses. Sempre que vou a Espanha faço questão de falar espanhol, e garanto-vos que espanhóis já gabaram a minha pronúncia e me perguntaram como é que falo espanhol tão bem. Com um método como o meu, qualquer português que assim o deseje aprende a falar espanhol.
Com o francês, no meu caso, passou-se algo semelhante, embora não fosse com telenovelas: de repente, vi-me a viver em França, no meio de franceses, num meio onde a língua mais falada era o francês, e simplesmente quis integrar-me. Comecei a ouvir, a ler e a falar uma língua de que só tinha umas bases aprendidas no secundário, que já estavam esquecidas. Um ano depois já entendia praticamente tudo o que me diziam e era capaz de manter uma conversação em francês. Cometendo erros gramaticais, claro. Mas se eu tivesse medo de os cometer, se não tivesse a iniciativa de querer ser parte da comunicação, nunca seria capaz de falar francês.
Quando se está a falar uma língua estrangeira, o principal objetivo deve ser o de estabelecer comunicação. Não se deve ter medo de cometer erros. O não ter medo de errar, de falhar, que é uma caraterística tão pouco portuguesa. Cito, a propósito do episódio com que comecei, o Vasco Barreto (via o Bruno Sena Martins):
O “portunhol” de Sócrates é sobretudo uma manifestação da sua personalidade. Percebe-se ali o espírito de “desenrascanço”, um fura-vidas, uma enorme e algo autista confiança, a coragem, ousadia ou lata para enfrentar a elite económica e financeira de Espanha com tão parcos recursos.”
A necessidade faz o engenho e Sócrates, com uma licenciatura de uma universidade rasca, obtida em condições estranhas, pela primeira vez agiu como um engenheiro. Mostrou que merece o diploma que tem. E, francamente, quando leio os comentários que tenho lido convenço-me de que vivo num país de tristes, invejosos e tacanhos. Valham-nos a Mariza e o Mourinho!
É claro que Sócrates não se comportou bem, apesar de tudo. Preferiu fazer uma piadola de gosto duvidoso com o líder da oposição, sem ser capaz de dizer, perante aquela audiência e naquela circunstância, o que realmente se impunha. Algo como: Voy a tentar hablar español aquí porque eres la única lengua que ustedes comprendem! No fundo, está muito bem para o triste país que somos.

A malta é jovem; os velhos são cotas; eu próprio me sinto desorientado

Devo estar a ficar velho, mas o meu primeiro reflexo - ao ver surgir simultaneamente em três-blogues-três um manifesto semi-anarquista convocando para sábado uma «concentração anticapitalista» - foi escrever um post irónico do género: «Jovem: se tens menos de 30 anos, frequência universitária e mochila, sentes a testosterona a correr nas veias e uma revolta sem sentido, junta-te a nós à margem dos reformistas da CGTP e faremos de Lisboa uma outra Atenas! A rua será nossa! De máscara na cara e calhaus na mão construiremos um mundo novo iluminado a cocktails molotov (...)».

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Os pobres que paguem a crise

Soube-se hoje que o subsídio social de desemprego não será alargado por seis meses, que o tempo de trabalho que dá direito ao subsídio de desemprego aumenta de 365 para 450 dias e que não será reforçada a linha de crédito para criação de empresas por desempregados.

Se este governo é socialista, eu sou cristão católico.

Passo de gigante para a «ditadura do politicamente correcto»?

É hoje aprovada a proibição de venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos. Espera-se a qualquer momento que O Insurgente e a Helena Matos denunciem este «atentado à liberdade individual», autêntico passo de gigante na direcção da «ditadura do politicamente correcto»,  do «totalitarismo» e da «sociedade higiénica hitleriana». Será que nem o envolvimento da odiada ASAE os consegue despertar?

A bota não bate com a perdigota

Alguém está a mentir: ou os jovens que se queixam de agressão policial, ou a PSP. Mas fica a pairar a suspeita de mais um acto de brutalidade policial.

A morte da Phoenix

A sonda Phoenix da NASA deixou de emitir sinais.

A Phoenix "amartou" perto da calote polar de Marte, a cerca de 68 graus de latitude Norte e 125 graus de longitude Oeste ( equivalente na Terra a um ponto no extremo norte dos "Northwest Territories" do Canadá), a 25 de Maio de 2008.

Imagens captadas pelo Mars Reconnaissance Orbiter, também da NASA, mostram sinais de danos nos painéis solares da sonda, causados provavelmente pelo gelo presente no local durante o inverno marciano.

Na semana passada, o orbiter da missão Mars Odyssey passou sobre o local de "amartagem" da sonda numa última tentativa de contacto. Nenhum sinal transmitido pela Phoenix foi detectado. A Phoenix não respondeu a outros 150 voos em três campanhas distintas realizadas este ano.

Os dados fornecidos pela Phoenix confrmaram a presença alargada de depósitos de gelo de água no subsolo marciano (permafrost), assim como de minerais que indicam a presença ocasional de água no estado líquido proveniente do degelo. A Phoenix observou a queda de neve em Marte e analisou a composição química do solo marciano, com resultados que podem ser relevantes para a pesquisa de vida em Marte.
Muito embora a Phoenix esteja agora silenciosa, a análise dos dados recolhidos durante quase dois anos de missão ainda não terminou!

Fica  aqui o vídeo de tributo da NASA à Phoenix.


Uma boa razão para votar na Bélgica

Aristocracia

Há mais ou menos um ano li num blog qualquer um comentário de um aristocrata que explicava à ralé que não eramos todos iguais e os plebeus não podiam aspirar à nobreza, etc. Parece que a pobreza abjecta faz as pessoas feias e mal cheirosas, ignorantes e incultas. Eu vi a Viridiana do Buñuel e concordo: os pobres são uns javardos! A "nobreza" é muito diferente. Com a Graça de Deus.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Sobre as poupanças jogadas na bolsa

No Prós & Contras de ontem finalmente alguém falou sobre essa sangria das nossas pensões e das nossas poupanças que são jogadas na bolsa sem a sua ou a minha autorização. João Proença aflorou o assunto, o registo foi muito superficial, mas António Saraiva da CIP acusou o toque. Ele está ao corrente das quantias avultadas que estão a ser derretidas nas bolsas de Nova Iorque e de Londres, com esperança de um retorno fácil, retorno esse que ninguém garante. Há uma espécie de tabu, um receio do sector financeiro e empresarial em debater esta realidade. Seria tempo de debater a utilidade efectiva destes investimentos nas bolsas anglo-saxónicas, sobre a fantasia do seu retorno económico e sobre a efectiva criação de riqueza e de postos de trabalho inclusivamente nos países onde estes investimentos são realizados. Seria tempo de debater se não seria apropriado limitar e impor regras ao dinheiro que se escoa para Londres e Nova Iorque.

No debate, António Saraiva prestou-se ao papel de guarda-costas do sector financeiro, foi-se defendendo dizendo que os erros e as fraudes da banca não são generalizados e que devem ser combatidos caso a caso. O problema é que as fraudes e os erros têm vindo das maiores empresas financeiras do mundo, empresas essas cujos orçamentos são comparáveis aos de alguns países. Sempre que essas empresas vão à falência por processos fraudulentos e/ou por erros de gestão produzem milhares de desempregados e milhares de pobres. Foi assim desde a falência da Lincoln Savings em 1989 até à falência da Lehman Brothers em 2008.

Ainda se falou de regulação no debate. O essencial do combate à crise deveria estar no reforço da regulação, na moralização da economia e em acabar com a má matemática que se instalou nas praças financeiras e nas faculdades de economia mais prestigiadas. Mas esse é um tema que não interessa a quem anda viciado na bolsa, a quem está habituado ao lucro fácil e a quem quer manter mordomias principescas. Para esses todos os argumentos são válidos para que seja o contribuinte a pagar a crise.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Os pobres e o medo da burguesia

Um texto muito curioso de Óscar Mascarenhas no Jornal de Notícias.
  • «Vá lá saber-se se foi Marx quem os iluminou, mas o facto é que os líderes da direita portuguesa têm uma noção perfeita da natureza da classe que pretendem conduzir. Perceberam que a burguesia, aqui ou em qualquer lado, tem uma reacção idêntica perante as dificuldades: enche-se de medo e, como os pioneiros do faroeste, fecha em círculo as carroças, prontos a disparar para fora. Quem está de fora? Os pobres. A partir daquele momento, os pobres são um perigo. São 'o' perigo. Só deles pode vir o mal. Chumbo neles. (...)


Ah fadista!

Reforma-te, Caetano Veloso!

Comida para pensar

  1. «O Reino Unido prepara-se para suspender as contratações para a função pública e eliminar os cheques bebé. O objectivo é reduzir o défice público em sete mil milhões de euros, anunciou hoje o Ministério das Finanças.» (Público)
  2. «O Governo alemão tem em cima da mesa um plano que prevê poupanças orçamentais no valor de 10 mil milhões de euros entre 2010 e 2016. Segundo avança o “Financial Times”de hoje, a meta deverá ser alcançada através da conjugação de aumentos de impostos, e de reduções de despesas sociais.» (Jornal de Negócios)
  3. «Em França, o Governo está a testar a possibilidade de avançar com o aumento da idade da reforma. (...) Além da reforma do sistema de pensões, os franceses também já falaram, embora genericamente, num aumento do imposto sobre as grandes fortunas, um tributo quase sem paralelo na Europa que incide sobre os rendimentos e sobre o património (imóveis, acções, obras de arte, etc.) dos mais abastados.» (Jornal de Negócios)

Austrália expulsa diplomata israelita

O assassinato, no Dubai, do líder do Hamas (perpetrado pela Mossad)  fez a sua segunda vítima diplomática: depois de o Reino Unido ter expulsado um agente da Mossad, a Austrália expulsa um diplomata israelita. A polícia australiana considera provado que os «serviços secretos» israelitas falsificaram passaportes de cidadãos australianos alheios às embrulhadas israelo-palestinas.

É melhor do que nada. As atitudes mundiais perante Israel dividem-se em duas metades quase perfeitas: os lunáticos anti-semitas que acham que cada bomba num infantário judaico é merecida, e os falcões de sofá que defendem que Israel não deixa de ser um Estado de Direito por recorrer ao assassinato e à tortura. Enquanto a questão estiver polarizada entre estes dois extremos, o labirinto israelo-palestino não terá saída.

Inquérito: a Comissão Europeia deve poder vetar os orçamentos nacionais?

Já está a decorrer um novo inquérito, na coluna da direita (topo).
Pergunta: a Comissão Europeia deve poder vetar os orçamentos nacionais?
Respostas:
  • Sim
  • Não
  • Não sei
  • É-me indiferente
Agradece-se a participação dos leitores.

As peripécias das monarquias

Situações semelhantes a esta podem ocorrer em Repúblicas. Não devem faltar prestáveis amigos de empresários dispostos a apresentar A a B. A diferença é que, se se confirmar o envolvimento do «princeso», ninguém o poderá demitir.

sábado, 22 de maio de 2010

Diz que é uma espécie de apoio

  • «A direcção do PS vai apoiar oficialmente Alegre, mas apenas em dose mínima garantida. Ninguém espera um envolvimento directo do aparelho central do partido na candidatura alegrista, nomeadamente em aspectos logísticos e/ou organizativos. Sócrates, pelo seu lado, deverá invocar a necessidade de o apoio do PS ao candidato-poeta não afectar a cooperação institucional entre o Governo e o PR.»
    (Diário de Notícias, via Vias de Facto.)
Pairando a suspeita de que Sócrates até prefere que Cavaco continue em Belém, estão criadas as condições para que um voto em Alegre seja simultaneamente um voto num candidato do PS e um voto contra Sócrates. E se Alegre ganhar mesmo em Janeiro de 2011 nestas condições, será o Presidente mais independente de apoios partidários desde o primeiro mandato de Eanes.

Jogos de Computador

Alguns jogos de computador já mereciam uma sátira como esta.
Novamente, gentileza do The Onion:

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Resultados do inquérito sobre o combate ao défice

A maior parte dos nossos leitores entendem que o défice deve ser combatido taxando as transferências para off-shores (resposta escolhida por 82% dos participantes), subindo o IRC da banca (79% dos participantes) e taxando os prémios dos gestores (78%). Só 49% dos participantes escolheram a progressividade dos impostos como solução para combater o défice. Finalmente, percentagens mais reduzidas dos participantes escolheram a suspensão de obras públicas (21%), as privatizações (16%), o aumento do IVA (12%) e cortar prestações sociais (8%). Apenas 4% dos participantes escolheram «nenhum dos anteriores».

Participaram no inquérito 76 leitores do Esquerda Republicana, que escolheram em média 3.5 respostas cada um.

Por que não cura Deus os amputados?

Há uma página que coloca esta simples questão:

Why won't God heal amputees?

É uma pergunta na mouche dirigida a todos os crentes em divindades com algum poder de interferência nos assuntos mundanos, como por exemplo os cristãos. Se Deus faz tantos milagres, como salvar olhos de salpicos de óleo quente, curar paraplégicos e cegos e outras interferências na nossa saúde (sempre difíceis de comprovar), o que terá ele contra os amputados para não haver relatos de braços renascidos?

Eu como a-fada-dos-dentes-ista, ateísta e a-pai-natal-ista (por esta ordem) tenho alguma curiosidade em ouvir uma resposta teológica a esta pergunta fundamental.

Não é nada com eles

No Fórum organizado pelo Diário Económico quem ouvisse os maiores banqueiros do país julgaria que a crise não é nada com eles. Não faltou a frase "os portugueses vivem acima das suas possibilidades". Obviamente que a banca não tem nada a haver com a publicidade martelada a toda a hora nas televisões a incitar os portugueses à dívida, primeiro foi para comprar casa, depois o carro, depois os móveis, de seguida o ordenado com um mês de antecedência e até se chegou ao ponto de penalizar os clientes que não faziam uso do cartão de crédito, justamente os que viviam segundo as suas possibilidades. Obviamente que os banqueiros não vivem acima das suas possibilidades, nunca receberam bónus milionários, pára-quedas dourados, nunca voaram em jactos privados da empresa para ir às compras em Nova Iorque, nunca beneficiaram de mordomias que vão desde a viatura topo de gama aos cartões dourados da empresa que circulam entre familiares, amigos e amantes.

Os portugueses vão agora pagar através dos seus impostos os custos destes excessos, mas obviamente a culpa não é da banca, a culpa é dos desempregados e dos ciganos do rendimento mínimo que vivem acima das suas possibilidades...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O Museu de Marinha em perigo

Li no i que a ministra da cultura quer retirar parte do espólio do Museu de Marinha e fazer um museu da viagem, ou da mala de cartão, ou coisa que o valha. O Museu de Marinha é uma instituição com um prestígio internacional enorme, que vive da dedicação de uma equipa extraordinariamente competente, dedicada, trabalhadora, erudita e tremendamente mal paga. É indecente que a Marinha não acarinhe a carreira de investigação.

Mas o Museu de Marinha é um dos poucos museus portugueses em que se pode falar e tirar fotografias sem se ser incomodado pelos guardas. De facto, é um dos poucos museus em que os guardas são disciplinados, educados e competentes.

Talvez por isso, o Museu de Marinha é um dos poucos (ou mesmo o único) museus portugueses que dá lucro. É o museu mais visitado do país.

Ao longo das duas últimas décadas a minha experiência de trabalho com o Museu de Marinha tem sido sempre excepcional, ao contrário da minha experiência de trabalho com os serviços do Ministêrio da Cultura, que é quase sempre horrível e às vezes, como no caso da Biblioteca da Ajuda há cinco ou seis anos, é de pedir bengaladas nas costas do director. Não há qualquer sentido de serviço público no Ministério da Cultura: as relações são todas pessoalizadas e como o ministério está dividido em mandarinatos, basta fazer um inimigo em cada mandarinato para se ser ostracizado ou maltratado em cada oportunidade.

As pessoas no Museu de Marinha têm a porta sempre aberta, estão sempre prontas a ajudar com um profissionalismo raro, sem politiquices. Os directores estão sempre a pensar em objectivos, as equipas funcionam coesas e cooperam com outras instituições, focam-se em objectivos e nunca os vi serem menos bem educados e contidos nos diversos conflitos que tiveram com os cowboys do Museu Nacional de Arqueologia (que é o museu secreto, com cacos, que pega com o Museu de Marinha, não sei se já repararam, entre os Jerónimos e o Museu de Marinha...)

E agora o Ministério da Cultura quer destruir o Museu de Marinha e substituir a dedicação da equipa daquele museu excelente com a do pessoal do Ministério. Ou seja, o Ministério da Cultura quer pilhar o espólio daquele museu, em vez de trabalhar para construir um Museu dos Descobrimentos que devia ter sido pensado e construído há 50 ou 60 anos e que nunca ninguém quis fazer. Agora não haveria quase nada para lhe meter dentro. Em Portugal não há arqueologia subaquática: cada sítio arqueológico tem um arqueólogo sentado em cima há anos, que não faz nada “porque não tem apoios”, mas que revela uma energia tremenda e inesperada à menor ameaça, e se esgadanha para não deixar ninguém tocar na sua quinta.

Espero que o Ministério da Defesa tenha a coragem de defender o Museu da Marinha e não ceda à mediocridade snob e invejosa dos mandarins do Ministério da Cultura.

Dia de Desenhar Maomet



Ver mais aqui.

A crise e o ouro

O leitor sabia que as reservas de ouro do Banco de Portugal são, em valor absoluto, as décimas quartas maiores do mundo? Que são maiores, em valor absoluto, que as reservas do Reino Unido ou da Espanha ou quase toda a UE? Que são quase iguais às do Banco Central Europeu?
Em proporção do PIB são, em termos relativos, ainda maiores.

Com o preço do ouro a bater recordes, e o Euro a bater mínimos históricos face às outras divisas, não estaria na altura de «pôr esse ouro a render»?

Pagando uma parte substancial da nossa dívida, isso resultaria numa diminuição considerável dos juros a pagar por duas vias diferentes: a amortização directa, e a confiança gerada por essa mesma amortização abrupta.

Confesso que não sei porque é que esta sugestão não faz parte do debate público neste momento no que diz respeito ao leque de soluções a adoptar na resposta à crise. O que é que aquele ouro está a fazer parado numa situação destas?
Mas noto que não é a primeira vez que noto que o debate público ignora o elefante no meio da sala. Apesar de todo o debate sobre as privatizações, continuamos sem ualquer estimativa relativa aos dividendos perdidos, e nem se sabe ao certo quanto de cada empresa pública é que se pretende vender.

O PS contra o 5 de Outubro

Duas deputadas do PS propõem, em pleno ano do Centenário da implantação da República, que o 5 de Outubro deixe de ser um dia feriado. Para disfarçar, juntam ao pacote a abolição do 10 de Junho e de dois feriados religiosos. E, uma mera semana depois das tolerâncias de ponto extemporâneas da visita de Ratzinger, já defendem que as tolerâncias de ponto e as «pontes» sejam definidas por diploma próprio a publicar anualmente. Tudo muito bonito.

Quem são? Obviamente, as mesmas duas senhoras que há quinze anos fazem carreira no Parlamento a fracturar pela direita a bancada do PS. Como aconteceu desta vez, daquela e da outra, e ainda mais desta. Agora, deu-lhes para a provocaçãozita anti-republicana. O que têm estas senhoras a ver com o PS? E porque insiste o PS em elegê-las? Eis duas perguntas a que nenhum líder do PS depois de Guterres respondeu.

Por mim, não me repugna abolir feriados religiosos. E com duas ilustres deputadas tão católicas a sugerirem que se contrarie o estipulado na Concordata...

Videos a não perder

Na brincadeira:






E muito a sério:

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O “Caso República” aos olhos de hoje

Cartoon de Sam

O PREC português foi rico em episódios notáveis. Alguns ternurentos, como a formação de cooperativas e o assalto aos latifúndios. Alguns trágicos, como os atentados às sedes do PCP no norte do país, as redes bombistas, os assassinatos de militantes de esquerda. Alguns (muito) cómicos, como o primeiro-ministro que declara ao presidente da república encontrar-se “em greve”, que ser sequestrado era “uma coisa que chateava, pá” e, perante uma granada, que “era só fumaça” e “o povo era sereno”.
Todos estes episódios fazem parte da nossa história e, para quem os viveu, da memória coletiva. Mas são nossos, portugueses. O “Caso República”, de que passam hoje 35 anos, pelo contrário, é um episódio que merece ser estudado e meditado a nível internacional, nos cursos de Ciência Política, pelo que tem de fascinante e paradigmático.
No “Caso República” (os mais moços podem recordá-lo, ou mesmo aprendê-lo, aqui) estão em confronto a um nível elementar, e por isso bastante profundo, o capital, o trabalho, a liberdade intelectual e de imprensa e, sobretudo, as relações e hierarquias entre profissões diferentes. Para uma pessoa de direita, creio que o lado certo só pode ser um (mesmo se o jornal fosse afeto ao PS, como era!). Para uma pessoa de esquerda, creio que a resposta já não é nada óbvia. É claro que para os artistas Bastos o lado certo só pode ser o outro, sem discussão, e ainda hoje atiram essa questão aos interlocutores, como que para atestarem a “pureza ideológica”.

Revista de blogues (19/5/2010)

  1. «Teremos agora de esperar que um casal homossexual se apresente a uma entidade administrativa qualquer, e requeira um processo de adopção.
    Depois, perante a recusa da adopção com o fundamento de que o casal é composto por dois cônjuges do mesmo sexo, é só recorrer judicialmente da decisão – até ao Tribunal Constitucional.

    (...)
    Por outras palavras:
    A adopção de crianças por casais homossexuais em Portugal não é mais do que uma mera e simples questão de tempo.
    » (Luís Grave Rodrigues)
  2. «Quem tomou a decisão de, dentro da Carris, do Pingo Doce, do Diário de Notícias, de outras empresas e serviços, manifestar apoio explícito à visita do papa, saudar Joseph Ratzinger por meio de bandeirolas, dizeres ou qualquer outro meio, julgou talvez estar a homenagear uma figura consensual, um paladino da paz e da concórdia, uma fonte de onde nada pode jorrar senão o Bem. Mas esta visão é ingénua. O papa representa uma religião, uma agenda, uma mundividência. (...) Concorde-se ou não com o que Joseph Ratzinger diz e faz, apoiá-lo e celebrar a sua presença de forma incondicional e acrítica, por vezes no limite da vassalagem, como o têm feito tantos e com tanto alarido nos últimos dias, implica tomar partido.» (Alexandre Andrade)

Bobi, Aloé Vera ou Piaçaba? O consenso que Cavaco procurava



Numa declaração ao país no dia da luta contra a homofobia, o presidente lamenta que o Estado não continue a lembrar às pessoas homossexuais que o seu amor é diferente do dos heterossexuais.

Mordomias da alta finança

"Long after his annual compensation at Enron had climbed into the millions, Ken Lay arranged to take out large personal loans from the company. He gave Enron jobs and contracts to his relatives. And Lay and his family used Enron's fleet of corporate jets as if they owned them. (...)
At lunch time, (...) when his meal arrived, his staff carefully unwrapped it, placed the food on fine china, and served him lunch on a covered silver platter".
The Smartest Guys in the Room, Bethany McLean e Peter Elkind, Portfolio, 2003, pag. 4

Ken Lay foi presidente da ENRON desde 1985 até à sua falência em 2001 e um dos principais responsáveis pelas actividades ilícitas da empresa nos mercados financeiros. O "esforço" pedido a parte dos cidadãos da Europa, dos EUA e do mundo serve também para este tipo de personagens poder continuar a roubar.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Coisas simples


Viktor Frankl, hoje, no TED.

Convicção e responsabilidade, ou privado e público

Vencido mas não convencido, Cavaco Silva promulgou a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, mas com uma mensagem azeda em que os primeiros dois terços de texto serviriam perfeitamente para justificar um veto.

Pela decisão, Cavaco merece o meu respeito e admiração. Nunca votei nele, mas não posso deixar de reconhecer que soube colocar entre parêntesis as suas convicções privadas e escolher o que será melhor para todos os cidadãos e para a vida da cidade. Faz parte da ética laica não decidir sobre questões políticas a partir de convicções religiosas, e o católico praticante Cavaco Silva soube compreender que estava derrotado e que o momento não se prestava a exibições de ultramontanismo intransigente. Espero que ele, e outros, sejam capazes, noutras ocasiões, do mesmo distanciamento face às convicções pessoais ou de putativas maiorias.

O texto da mensagem, todavia, mostra algo que os activistas LGBT ainda não compreenderam: que o preconceito contra os homossexuais (e mais contra os masculinos) não vai desaparecer no dia do primeiro casamento. Nem dez anos depois, provavelmente. As leis só alteram a sensibilidade social, quando o fazem, a longo prazo.

Ah, e parabéns aos que se vão casar. E aos que lutaram por este desfecho.

Os senhores presidentes de câmara e as colectividades

Acho muito bem que as câmaras municipais sejam obrigadas a divulgar que associações e colectividades subsidiam. Acho mesmo muito bem. E tenho muita curiosidade pelos montantes despendidos, ao nível local, com dois segmentos particulares do associativismo: o futebolístico e o religioso.

Retiro o que disse :o)

Cavaco Silva não vetou a lei e fez bem. Seria uma vergonha ter permitido a ingerência de uma ditadura estrangeira numa questão interna do país. Já foi suficientemente grave o papa ter vindo a Portugal insultar os portugueses (e pelas piores razões!) e se agora o presidente cedesse às pressoões do Vaticano acho que a Europa inteira tinha o direito de se indignar. Parabéns ao presidente. Mesmo que se aplique apenas a um casal, esta lei é justa e vai ajudar o país a sair da superstição e do ódio provinciano ao desconhecido e às coisas que não existiam nas berças quando nasceram os militantes do PP, "lapuzes, frescos dos matagais da serra," como diria Eça.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A dúvida é o PSD

Perante a moção de censura do PCP, a dúvida é saber se Passos Coelho se encosta ao PS ou não.

Indignação

Durante anos tive um poster no meu gabinete com o Cavaco e o outro papa e uma legenda em que Cavaco dizia "I'll keep them poor" e o papa dizia "And I'll keep them ignorant". A coisa não mudou (as coisas nunca mudam) e hoje Cavaco Silva vai provavelmente vetar a lei do casamento gay.

Acredito que se não lutarmos energicamente pelos nossos valores, nos próximos 10 anos os fascistas vão recuperar o poder: os fascistas muçulmanos que nos querem proibir a cerveja e querem degradar as nossas mulheres, os fascistas católicos que querem destruir a classe média e as liberdades mais elementares, ou os fascistas evangélicos, que querem proibir a ciência e acabar com a democracia.

Isto é como no início dos anos trinta do século passado: se não nos batemos agora, estamos nas mãos destes camorristas todos.

As SCUTS, o Norte e a regionalização

Crise? PEC? Desemprego? Aumento de impostos? Qual deve ser a verdadeira preocupação de um homem do norte? As portagens de acesso ao Porto que são instituídas!
Devo dizer que acho a implementação dessa medida justa, e só peca por não se estender ao Algarve. Tirando o Algarve (que injustificadamente continua a não pagar), em todo o resto do país se paga para utilizar as autoestradas (em Lisboa há muito se paga). Não havia razão nenhuma para o norte ser exceção. Mas isso até se pode discutir.
Não dá para discutir é com quem não quer discutir este assunto, preferindo assumir uma posição de força. Para o presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento do Norte, o ex-eurodeputado socialista Carlos Lage, a implementação desta medida não ocorreria se o Norte tivesse força política para o impedir.
Como disse, não é o portajamento das SCUTS que eu quero discutir agora. A questão que se me levanta é: será que estamos dispostos a permitir que regiões tenham .força política. para travarem decisões (que dizem respeito a todo o país) do governo central?

domingo, 16 de maio de 2010

Ponto sem contraponto: da ignorância de Pacheco Pereira

Nunca prestei muita atenção, mas Pacheco Pereira tem um tempo de antena na SIC que se chama «Ponto Contraponto». Hoje, por puro acaso, assisti ao «espaço de opinião», em que o conhecido mediocrata, de longa data obcecado com o controlo da comunicação social (há quase vinte anos, chegou a conseguir que não houvesse notícias sobre a AR durante semanas), se entretém a comentar os media e a distribuir notas de «bom trabalho» e «mau trabalho» conforme o seu gosto pessoal.

O exemplo de «bom trabalho» dado por Pacheco foi a cobertura da visita de Ratzinger feita por Anselmo Borges e Vilas-Boas. O chocante é que nenhum dos dois se esforçou por manter a mínima neutralidade, e o segundo, embora seja jornalista, acha que a sua obrigação é relatar os seus êxtases místicos em plena emissão radiofónica.

A seguir, piorou. O exemplo de «mau trabalho» foi o facto de os media, durante dias, terem esquecido «o país», e não ter havido «notícias». Ainda arregalei os olhos e arrebitei os ouvidos, por uma fracção de segundo. Mas não era da cobertura exaustiva do microfone de ouro do Papa, dos sapatos do Papa, das crianças que foram ver o Papa, do que o Papa disse ou não disse, que Pacheco falava. Falava do Benfica. Pasmei.

A seguir, pior ainda: uma peça da SIC em que se dizia tudo o que é verdade sobre o Vaticano e que raramente é dito (que é o Estado mais pequeno do mundo, que deve a sua independência a Mussolini, que não tem separação de poderes entre legislativo, executivo e judicial, que tem 800 «cidadãos»), foi criticada porque se referia ao Vaticano como uma «monarquia absoluta», quando, segundo Pacheco, «até tem regras de Estado democrático». Não vou comentar este último disparate, até porque não foi fundamentado. Mas que Pacheco se escandalize por os jornalistas  da SIC se referirem ao Vaticano como uma «monarquia absoluta» só mostra a ignorância da pachequiana figura. É que a própria página oficial do Estado do Vaticano descreve o governo local como uma monarquia absoluta. Aqui vai em castelhano, para ele não dizer que é da tradução: «la forma de gobierno del Estado es la monarquía absoluta. El Jefe del Estado es el Sumo Pontífice, que tiene plenos poderes legislativo, ejecutivo y judicial».

Mau trabalho, Pacheco. Péssimo trabalho. Já ouviste falar do Google?

Apontamentos sobre a visita de Ratzinger

  1. As «multidões» ficaram aquém das expectativas católicas. Na Praça do Comércio («Terreiro do Paço» para os católicos e para os monárquicos), estiveram entre 80 e 100 mil pessoas (eram esperadas «mais de 160 mil» ou até «200 mil»). Em Fátima era esperado meio milhão, terão aparecido 350 mil pessoas (incluindo dezenas de milhar de estrangeiros). Só no Porto a afluência (120 mil a 150 mil) ficou próxima das expectativas (150 mil a 200 mil).
  2. No dia 11, Policarpo disse que «a maioria católica (...) não tira o lugar a ninguém». A frase parece uma expressão de requintado cinismo, especialmente se considerarmos que se tinha acabado de cortar Lisboa ao meio para que Ratzinger circulasse a 40 km/h por avenidas vazias, parando boa parte do sistema de transportes e causando transtornos à maioria que não é católica praticante e que desejaria ter tido um dia normal de trabalho e afazeres (aconteceria o mesmo no Porto três dias depois). Não teria sido mais sensato fazer as cerimónias religiosas em estádios de futebol, minorando os transtornos causados, e abdicar da encenação (falhada) das ruas cheias de fiéis, minimizando também os incómodos à população?


Porto anticlerical (2)

(Porto, imediações da Avenida dos Aliados, Maio de 2010; fotografia de Ricardo Rocha)

sábado, 15 de maio de 2010

Elementar, minha cara Fátima

A ditadura do relativismo é afinal a ditadura da Razão. O que se aprende no programa "prós-e-contras"! Transcrevo o início da prelecção sobre este assunto, pelo impagável Prof. Marcelo, de onde se parte da "Razão segundo o Prof. Marcelo", para uma escalada "verso il cielo", na direcção da verdadeira causa da actual crise!

MRS-"..o problema dos relativismos, não há valores absolutos, vale tudo, os fins justificam os meios!"
FCC -"Já agora, o Sr. Professor pode explicar o que é a ditadura do relativismo?(...)"
MRS- "O relativismo é isto: se de facto o que vale é a Razão, a razão de cada um de nós, e se ao longo do tempo temos várias razões - e aquelas que nos são muitas vezes as mais convenientes - então não há valores absolutos!" 


Fico a saber que a Razão segundo o Prof. é assim tipo cata-vento... Ide ver, no programa "prós-e-contras" de segunda feira passada, aos 11 minutos.

Agora mais a sério, e já que encheu a boca com "valores absolutos", tenho pena que não houvesse ninguém presente que pudesse perguntar  ao Sr. Prof. qual a sua opinião sobre o "pensamento" do Vaticano, e como o justifica, em matéria de : "Declaração Universal dos Direitos do Homem"!

Tête à claques

O papa foi a Portugal, comeu, bebeu, passeou-se, tudo à conta, fez os feitiços que quis, o pessoal aplaudiu e tratou-o bem, ninguém lhe fez mal nenhum, e ele depois desatou a insultar o país e a dizer que a lei do casamento gay era "insidiosa e perigosa". Este comportamento está mesmo a pedir um estaladão que lhe fizesse voar o chapéu.

Porto anticlerical (1)

(Porto, imediações da Avenida dos Aliados, Maio de 2010; fotografia de Ricardo Rocha)

FOX Television :o)

A televisão do conhecido pornógrafo australiano Rupert Murdoch continua a promover o anormal Glenn Beck, apesar das audiências dele estarem em queda livre. Aqui fica Louis Black, divertidíssimo, para dar uma ideia do nível da programação da FOX.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Actividades extra-curriculares

Pode uma professora do ensino público ser despedida por uma actividade esporádica perfeitamente legal e exterior à escola?
Parece que sim. E os alunos vão ficar chateados. É claro que ficam chateados.

Amen

O filme "Amen" de Costa-Gavras ilustra bem o papel dúbio do Vaticano durante a II Guerra Mundial, em particular a tolerância perante os excessos nazis parcialmente justificada pelo argumento de que os nazis pelo menos combatiam os comunistas.

"Amen" conta o combate intransigente do padre Riccardo Fontana - muito bem interpretado por Mathieu Kassovitz - pelos valores autênticos do cristianismo contra a hipocrisia do Vaticano que se manteve indiferente às informações crescentes da realidade dos campos de concentração nazis. Fontana consegue o apoio de Kurt Gerstein, um graduado alemão que vive atormentado com os crimes praticados nos campos de concentração, mas a luta de ambos será sabotada pela política do Papa Pio XII. Maior ajuda obterão numerosos nazis que conseguem escapar no fim da guerra para a América do Sul através de uma preciosa colaboração do Vaticano.

Lisboa anticlerical (3)

(Lisboa, Calçada da Glória, Maio de 2010)

Um hábito, uma mania ou um tique?

Na rádio, ouvi Passos Coelho pedir «desculpa aos portugueses». A frase, no seu contexto, parecia surreal. Vejo agora a frase reproduzida pelos jornais todos, e continua a não parecer normal. Então lembrei-me que Passos já se embrulhara com uma troca de «perdões» a Alberto João Jardim. Há ali qualquer coisa estranha.

Há liberdade na Madeira?

Provavelmente nem haverá nada de ilegal nisto: passar o jornal amigo do governo a gratuito, subsidiá-lo com publicidade do governo regional, e cortar as assinaturas e a publicidade do jornal da oposição. Mas, tal como Bruxelas e Berlim examinam draconianamente as despesas portuguesas, seria o momento de o continente fazer o mesmo à Madeira. Draconianamente ou mesmo ultra-draconianamente.

Lisboa clerical (2)

(Lisboa, Calçada da Glória, Maio de 2010)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Laicidade e laicismo: uma distinção oportunista

  • «A adjectivação da laicidade tem marcado indelevelmente o léxico eclesiástico nos últimos tempos, numa tentativa de convencer os mais desatentos de que há uma laicidade má, normalmente designada por laicismo, e uma versão boa, a «laicidade inclusiva» ou a «laicidade positiva» a que se referiu Sarsfield Cabral. A conferência do cardeal-patriarca Policarpo «Laicidade e laicismo: Igreja, Estado e Sociedade», realizada em 10 de Outubro de 2007 no Centro Cultural de Belém, explica esta confusão. Para o patriarca de Lisboa, «um recto conceito de laicidade ressitua a dignidade e a transcendência da fé cristã» enquanto ao «alargamento abusivo do âmbito da laicidade costuma chamar-se laicismo», abuso que consiste em «uma mundividência laica, que fundamenta a moral, inspira as leis, regula o viver comum da sociedade».
    Na realidade, a distinção entre laicismo e laicidade é apenas aquela que distingue entre conceito, laicismo, e praxis, laicidade. A laicidade significa simplesmente que há separação entre o Estado e a Igreja, isto é, num Estado laico o Estado é completamente neutro em matéria de religião e as igrejas não detêm qualquer poder político. A laicidade garante simultâneamente a liberdade de todos e a liberdade de cada um ao distinguir o domínio público, o domínio onde se exerce o poder do Estado e onde se cumpre a cidadania, e o domínio privado, onde se exercem as liberdades individuais (de pensamento, de consciência, de convicção, de religião e de associação) e onde coexistem as diferenças (biológicas, sociais, culturais). Pertencendo a todos, o espaço público é indivísivel: nenhum cidadão ou grupo de cidadãos deve impôr as suas convicções aos outros.
    Parece no entanto que a Igreja católica e alguns dos seus seguidores continuam a confundir laicidade com catolicismo e a pretender que a verdadeira laicidade, a adjectivada, é aquela que impõe uma «mundividência católica, que fundamenta a moral, inspira as leis, regula o viver comum da sociedade». Isto é, confundem uma sociedade laica, no sentido grego da palavra, uma sociedade de todos e para todos, com a sua involução latina, uma sociedade católica imposta a todos!» (Palmira Silva)

Lisboa anticlerical (2)

(Lisboa, Martim Moniz, Maio de 2010)

Dia da Virgem


(Xutos e Pontapés, «Avé Maria», gravação ao vivo de 1988)

Inquérito: como deve ser combatido o défice?

O inquérito com a pergunta «como deve ser combatido o défice?» já se encontra na barra lateral.

Respostas (é possível a resposta múltipla):
  1. Progressividade dos impostos
  2. Aumento do IVA
  3. Suspensão de obras públicas
  4. Taxar prémios de gestores
  5. Cortar prestações sociais
  6. Subir IRC da banca
  7. Privatizações
  8. Taxar transferências para off-shores
  9. Nenhum dos anteriores
O inquérito decorre até ao dia 21 de Maio. Agradece-se a participação dos leitores.

Lisboa clerical (1)

(Lisboa, Graça, Maio de 2010)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Ratzinger de visita ao país que já não é o que era

  • «Quando, há exactamente 10 anos, o carismático João Paulo II visitou Portugal, encontrou um país que tinha acabado de recusar a despenalização da interrupção voluntária da gravidez e onde o conceito de laicidade era ainda um conceito nebuloso, perdido num artigo 41º da Constituição a que poucos ousavam referir.
    A evolução nesta última década da sociedade portuguesa alterou drasticamente a "Terra de Santa Maria", expressão com que Bento XVI se referiu recentemente a Portugal. Portugal é um país cada vez mais secular, com igrejas que a própria hieraquia reconheceu cada vez mais vazias, com uma lei de liberdade religiosa que estipula que “o Estado não adopta qualquer religião” e que “nos actos oficiais (…) será respeitado o princípio da não confessionalidade”. Nos últimos anos, Portugal legislou sobre uniões de facto, descriminalizou o aborto e acabou com o divórcio litigioso e, mais recentemente, o Parlamento aprovou a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, cuja publicação aguarda apenas a promulgação por um presidente da República que parece não se ter apercebido da nova realidade social.

A 13 de Maio, no INATEL de Coimbra

Estarei amanhã em Coimbra, no auditório do INATEL, para apresentar uma conferência sobre «A laicidade e o "Estado" do Vaticano». Sereis bem-vindos.

Lisboa anticlerical (1)

(Lisboa, Calçada da Glória, Maio de 2010)

A beatificação da cumplicidade com o nazismo

A beatificação de Pio XII por insistência do Papa Bento XVI constituirá a celebração de um silêncio mortal, a celebração do oportunismo e a celebração da cumplicidade com o pior da história do século XX. Aliás, o silêncio e a inacção da igreja perante os casos de pedofilia já são uma grande demonstração de coerência com a herança de Pio XII. Mas sobretudo, ao beatificar Pio XII, este Papa envia um sinal bem forte a todos os crentes de que mais vale estar calado, mais vale colaborar e mais vale aproveitar as pequenas oportunidades quando confrontados com as piores arbitrariedades cometidas nos seus locais de trabalho, nas suas famílias e nas suas comunidades.

Apesar do Vaticano precisar que a beatificação de Pio XII considera apenas "as suas virtudes enquanto cristão, pondo de parte qualquer apreciação da importância histórica de todas as suas decisões operacionais", com o mesmo critério poderíamos beatificar operacionais das SS, kapos dos campos de concentração e talvez inclusivamente alguns dos autores da solução final. Tenho a certeza que entre estes indivíduos havia gente perfeitamente honesta, louvável e integra antes de participar activamente na barbárie nazi. Mas é na adversidade que se testa a verdadeira integridade das pessoas ou, por outras palavras, o seu potencial de beatificação. Nesse particular Pio XII fez parte desse pelotão do silêncio, desse pelotão da cobardia perante a barbárie que foi um pelotão tão ou mais terrível que os próprios pelotões SS.

Apostasiar

A Associação Ateísta Portuguesa lançou ontem a Campanha de Apostasia 2010. Para todos os que estão baptizados e querem que o seu nome deixe de con(s)tar nos registos da ICAR.

Selvagens

terça-feira, 11 de maio de 2010

A visita do Centenário?

Pareceu-me, desde o início, uma curiosa coincidência que a visita de Ratzinger acontecesse no ano do centenário da implantação da República.

Não estava enganado. Logo no discurso de chegada, Ratzinger afirmou que «a viragem republicana (...) abriu, na distinção entre Igreja e Estado, um espaço novo de liberdade para a Igreja, que as duas Concordatas de 1940 e 2004 formalizariam».

Foi a 24 de Abril

Bandeira do PCP impede funeral (via Um Tal de Blog).

Revista de imprensa (11/5/2010)

  1. «Esta semana, ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus vêem as escolas dos seus filhos, públicas e supostamente laicas, encerradas. Razão: os católicos recebem o líder da sua Igreja e por isso todos os restantes são obrigados e ficar com os seus filhos em casa e muitos deles obrigados e pôr um ou dois dias de férias. Esta semana, os cidadãos portugueses ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus estão impedidos de tratar de qualquer assunto que envolva o Estado porque os católicos (ou alguém por eles) decidiram, ao arrepio da leis da República, parar o país para tratar dos seus assuntos.
    Esta semana, os funcionários públicos ateus, agnósticos, protestantes, hindus, muçulmanos e judeus estão impedidos de ir trabalhar para que os seus colegas católicos tratem de uma celebração religiosa que apenas a eles diz respeito.» (Daniel Oliveira)
  2. «A missa que hoje se celebra no Terreiro do Paço transporta-nos também inevitavelmente para outros tempos, onde a mesma Praça consagrava um regime com características assumidamente autoritárias, aclamando um brando ditador católico. Nesse tempo, o regime organizava-se de forma a produzir um espectáculo legitimador com sucesso garantido: decretava tolerância de ponto à função pública, manipulava as suas organizações para que - de forma peregrina - marcassem presença, e requisitava todos os meios de transporte disponíveis (de comboios especiais, a autocarros e barcos) de forma a garantir uma entusiasta presença maciça.» (José Reis Santos)

O papa e James Randi

Eu acho que o papa devia aceitar a proposta de James Randi, provar que fala com Deus e recolher o milhão de dólares e a publicidade. E eu votava para os padres serem funcionários públicos.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Pergunto-me

Será que o Vaticano comprou a Carris?

Entretanto fora da Zona Euro

Enquanto na zona euro andamos quase histéricos com os défices elevados dos países do sul e da França, fora da moeda única o estampanço de alguns países é total. Na Roménia foram decretados cortes de salários de 25%! E cortes nas pensões de 15%! A economia romena teve uma recessão de quase 8% em 2009. A situação na Hungria, na Ucrânia, nos países bálticos e na Islândia continua dramática.

As medidas que foram tomadas este fim-de-semana para proteger a zona euro e para moralizar a economia dos respectivos países vão no bom sentido. No entanto seria desejável que a UE criasse um mecanismo semelhante para os restantes países e países candidatos e seria sobretudo desejável que tomasse medidas draconianas para a moralização da economia. Não é aceitável a forma como a Bolsa de Londres funciona hoje em dia. A Bolsa de Londres é o lugar da Europa onde mais se rouba e onde se rouba muito. Pior ainda, a Bolsa de Londres é a plataforma que serve para jogar o dinheiro das economias de cidadãos e de pensionistas europeus (sem a sua autorização) na Bolsa de Nova Iorque. Desse dinheiro, nas últimas décadas, tem sido mais aquele que tem ficado por lá do que aquele que tem retornado às contas europeias.

Bibliografia de apoio:
"Meltdown Iceland", Roger Boyes
"The Best Way to Rob a Bank Is to Own One", William K. Black

domingo, 9 de maio de 2010

Contradições

O partido responsável pela tolerância de ponto a nível nacional não dá tolerância de ponto aos funcionários do seu grupo parlamentar.

Resultados do inquérito sobre voto obrigatório

Terminou o inquérito com a pergunta «deve o voto ser obrigatório?». 60% dos participantes responderam «não», 24% «sim, com sanção» e 10% «sim, sem sanção». 6% responderam que não sabem.

Participaram 50 leitores.

sábado, 8 de maio de 2010

Em dias de chuva

Lembro-me da 'Etelvina' de Sérgio Godinho, mulher desembaraçada que procurava alma irmã "de quem não seja criada/ de quem não seja mamã", e pergunto-me onde estará ela agora.

Lá vem a Inês, neste dia de chuva. Eu não sei da Etelvina, mas aqui fica o poema da Natália.



(escrito também aqui)

Banha da Cobra: o milagre de Fátima em inglês

Pio XII, esse homem justo, santo e corajoso, Fátima, os comunistas que matam criancinhas na catequese e a Primeira Guerra Mundial. Uma versão curiosa em que a Nossa Senhora salva Portugal, de cima de uma árvore, e converte este país "comunista e anarquista"... :o)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O Mundo é perigoso...

Karl Rove explicou a Bush na segunda campanha do pai dele que nos EUA há entre 30 a 50 milhões de idiotas funcionais que acreditam literalmente na Bíblia e que podem ser uma componente determinante para o sucesso de quaisquer eleições. Este vídeo é eloquente porque mostra a confusão que vai nas cabeças destes ignorantes e a facilidade com que a FOX News os enche de emoções. Vale a pena ver o vídeo todo, sobretudo o fim, tendo em mente que os avós desta gente já vinham a Washington protestar nos anos 20, vestidos de barnco e com um chapéu em bico. Os bisavós, os avós e os pais desta gente eram o Ku-Klux-Klan.

O Vaticano nunca será laico

Os Estados democráticos modernos existem para defender os direitos dos seus cidadãos, enquanto o  «Estado» do Vaticano existe para defender uma religião. A diferença é enorme.

Existem outros Estados no mundo em que o clero tem poder político. O Irão (uma teocracia xiíta),  ou a Arábia Saudita (uma monarquia absoluta e clerical) serão os casos mais extremos (poderia acrescentar-se a Coreia do Norte, onde o clero é vermelho). Mas no Irão e na Arábia Saudita existem povos que, num dia que desejo próximo (e que no Irão parece cada vez mais próximo), se revoltarão contra os regimes locais. O Vaticano, hoje, não detém poder directo sobre uma população, e portanto está a salvo de insurreições populares. O fascista Mussolini, ao reconhecer a independência do actual Estado do Vaticano, criou um problema que ainda está connosco.

O Vaticano é um «Estado» sem população. Todos os «nacionais» do Estado do Vaticano (no sentido de portadores do respectivo passaporte) têm outra nacionalidade. O que evidencia a artificialidade do estatuto estatal do Vaticano: porque não há povo do Vaticano. Há a administração de uma comunidade religiosa, ou seja, funcionários.

Muitos dirão que, não havendo povo, não há opressão nem dano naquilo que é, em rigor, uma ditadura teocrática sem separação de poderes (ver artigo 1º da Lei Fundamental). Mas não é assim, e a próxima semana será uma ocasião para o confirmar.

É por ser reconhecido como «chefe de Estado» que o líder espiritual dos católicos pode exigir ser recebido pelo Presidente da República Portuguesa. E é por a Santa Sé ser o «governo» de um «Estado» que  pode celebrar Concordatas com o estatuto de «Tratados internacionais», furtando as relações da instituição católica com o Estado ao debate muito mais transparente e aberto das Constituições laicas e das leis democráticas.

A petição Cidadãos pela Laicidade levanta esta questão (entre outras; já assinou?). Porque a Santa Sé, sendo o arcaísmo teocrático que é, nunca será um Estado normal. Nunca assinará a Declaração Universal dos Direitos do Homem (o mais parecido que temos com uma «Carta de Direitos Fundamentais Mundial»), e nunca aceitará a jurisdição do Tribunal Penal Internacional. Será sempre um Estado fora da lei que, felizmente, vai sendo cada vez mais a lei mundial: entregar o destino colectivo da humanidade à discussão livre, aberta e democrática dos cidadãos e cidadãs. Estará sempre do outro lado: do lado das leis dogmáticas porque «divinas».

Só haverá verdadeira laicidade, em particular nos países latinos, quando a ICAR passar a ser uma instituição da sociedade civil.

Cameron vence, mas sem maioria absoluta

Neste momento, Sarah Brown, a mulher de Gordon Brown, está a fazer as malas e a preparar os caixotes, pois a camioneta da mudança está à porta. O reinado de Gordon Brown terminou e no cômputo final não houve muito sangue derramado (para um partido que governou 13 anos e que presidiu à maior recessão económica desde 1929, 29% dos votos é um resultado que não envergonha ninguém). David Cameron prepara-se para assumir as rédeas do poder, mas o beija-mão a Rainha não será hoje. Primeiro vai ter que se entender com os liberais-democratas e outros partidos minoritários, como o Partido Democrático do Ulster e o Partido dos Unionistas do Ulster (as conversações estão agendadas para esta tarde, mas resta saber se Nick Clegg vai querer viabilizar um governo conservador). O cenário mais provável é o de um governo conservador apoiado pelos partidos unionistas e com o apoio tácito dos liberais-democratas.
Esperemos que este exercício de diálogo ensine alguma humildade a David Cameron. A sua vitória (36% dos votos) não é exactamente um enorme voto de confiança do eleitorado no seu programa político. Na verdade, poucos analistas esperam que este governo dure mais do que dois anos.
A única boa notícia desta noite eleitoral foi a eleição da candidata verde, Sarah Lucas, para o círculo de Brighton Pavillion.

Alguém sabe...

... se isto é verdade?

A sê-lo, seria de extrema gravidade no que diz respeito aos investimentos ferroviários que se prevêem.

Manuel Alegre candidato

Por entre a espuma noticiosa dos últimos dias, o discurso de apresentação de candidatura de Manuel Alegre foi pouco comentado.

Recomendo a leitura. Tem a imensa vantagem, sobre Fernando Nobre, de pretender a sua candidatura «supra partidária, mas não neutra». Gosto da clareza. Convém assumir por onde se vai. E tem outra imensa vantagem, mais substantiva: compreender que a União Europeia não pode continuar como até aqui, um projecto económico mas não político, que salva bancos mas não países. A defesa dos serviços públicos também é clara.

Mas Alegre tem as suas fragilidades «conceptuais»: não ter verdadeiramente saído de cena da derrota de 2006 para cá; e não ter ainda, em lado algum, feito um balanço do que correu mal nesse momento e do que fará diferente desta vez. Mas ainda vai a tempo de resolver isso.

Por uma lista negra de instituições financeiras

A UE publica periodicamente uma lista de organizações terroristas, tal como publica uma lista negra de companhias aéreas que não respeitam regras básicas de segurança.
Seria lógico que as instituições financeiras, cujas actividades especulativas causam muito mais vítimas, desemprego e pobreza do que os grupos terroristas e os acidentes aéreos juntos, deveriam estar sujeitas a regras semelhantes. Uma lista negra de instituições financeiras, cujas actividades fossem interditadas na UE, poderia ser um bom começo para nos libertar de uma oligarquia financeira cujas actividades se enquadram mais na classificação de terrorismo do que propriamente na produção de bens ou prestação de serviços com beneficio para a sociedade. A Goldman Sachs e o Citigroup são dois bons exemplos de terrorismo financeiro recente na Grécia e na Bélgica, respectivamente.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Conservadores vencedores nas eleições britânicas


As urnas fecharam há poucos minutos, mas tudo aponta para uma vitória conservadora. Segundo a sondagem a boca da urna da NOP, os conservadores elegeram 307 deputados (precisam de 326 para a maioria absoluta), os trabalhistas 255 e os liberais-democratas 59 (menos três do que em 2005 – um resultado chocante). Se este resultado se confirmar (e os especialistas dizem que esta sondagem é estranha), teremos um governo conservador de minoria. Uma perspectiva pouca animadora, devo dizer.

Nota de rodapé

Muita direita alega-se defensora da responsabilidade individual, alegando que a esquerda culpa as acções dos indivíduos na sociedade e no contexto sócio-cultural, desrespinsabilizando-os por completo.

Alguma esquerda presta-se a esta crítica pelo discursos desresponsabilizante que faz, como se esse discurso fosse próprio da esquerda. Não é.

Não nos deixemos enganar. A defesa da liberdade e da responsabilidade individual andam de mãos dadas. São os liberais - de esquerda e de direita - que defendem a responsabilidade individual, independentemente das ideias que professem a respeito daquela que devia ser moldura legal adequada para regular a propriedade.

A desresponsabilização do indivíduo é um posicionamento paternalista que visa conferir direitos e poderes ao estado, a uma comunidade ou a uma organização, de uma forma que acredito contrária às liberdade individuais. São os inimigos da liberdade, à esquerda e à direita, que terão mais simpatia por estes pontos de vista.

Há mínimos

As perguntas dos jornalistas até podem ter sido «persecutórias» e «psicologicamente violentas». Mas nada desculpa que um cidadão, para mais deputado, «se aposse» (curioso eufemismo...) de propriedade alheia. Ricardo Rodrigues deveria renunciar ao mandato de deputado.

Rumo aos 5000

A petição «Cidadãos pela Laicidade» ultrapassou as 2500 assinaturas em 48 horas. Parece possível atingir os 5000. Faça a sua parte: assine e divulgue.

Plano Inclinado (II)

No mesmo programa participaram, para além do conhecido (não pelos melhores motivos) apresentador, e de um não menos conhecido ex-ministro das finanças que defende que se deve cortar em tudo o que seja investimento público menos na sua própria choruda reforma, o também conhecido matemático e (sem favor) excelente divulgador Nuno Crato.
A uma determinada altura, Nuno Crato refere que tem alunos na universidade que lhe pedem que não recomende literatura em inglês.
Devo dizer que já passei por essa situação, como docente do ensino superior, e foi algo que me chocou, comparado com o tempo (afinal, não foi assim há tanto!) em que eu era estudante, e me habituei a estudar em inglês (e mesmo em francês!) logo no primeiro ano.
É claro que, se os alunos chegam à universidade sem saberem ler em inglês (e com graves deficiências em português), é um problema do sistema de ensino (mesmo se agora, percentualmente, muito mais alunos chegam à universidade que há uns anos - se a mesma percentagem que chega hoje chegasse então à universidade, talvez já se notasse esse problema). Mas os alunos, nas universidades, são adultos - e sabem o que têm que fazer. O principal problema destes alunos é o comodismo, o estarem habituados a terem tudo feito e não terem de se esforçar para nada - apesar de já terem sido expostos às línguas, como eu fui. Creio que é isso que um professor universitário deve dizer aos alunos numa situação destas - devem esforçar-se por fazerem melhor, e não conformarem-se e serem mais uns a engrossarem a lista dos que só se sabem queixar-se e não se responsabilizar por nada.
Mas não é isso que Nuno Crato responde aos seus alunos: manda os inocentes, coitados, pobres vítimas do "eduquês"... irem atirar pedras ao Ministério da Educação! Podem confirmar na página web do programa - é perto do fim.
Tantas queixas do "eduquês"... para isto. Os alunos não devem esforçar-se: devem atirar pedras. Falava Vicente Jorge Silva, no meu tempo, da "geração rasca" (de que fiz parte) - afinal, éramos melhores que os alunos do Nuno Crato. Da próxima vez que virem um economista que não saiba fazer contas (eu conheço alguns), não lhe chamem a atenção: atirem pedras ao Nuno Crato.