sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Algumas ideias sobre a CP e os comboios

Durante esta semana foi moda comentar este artigo do Público sobre os conhecidos defeitos da CP. Eu sou utente regular da CP, na Linha do Norte e nos Urbanos do Porto (e linha de Cascais no verão). A CP tem muitos defeitos, excetuando talvez justamente as linhas que uso (e os Urbanos de Lisboa) – os serviços com mais procura. Custa-me por isso ler críticas tão pouco fundamentadas, patentes no artigo, como “a inexistência de uma ligação directa Estarreja-Azambuja”. Existem vários intercidades Aveiro-Vila Franca de Xira (duas vezes por dia, até param em Estarreja). Perfeitamente sincronizados com esses intercidades, existem urbanos para as ligações Estarreja-Aveiro e Vila Franca – Azambuja. Por que raio haveria de haver essa ligação direta?
Outra crítica descabida é a do Bruno Sena Martins. Intercidades Porto – Lisboa há a cada duas horas tirando a meio do dia (param todos em Coimbra). A isto acrescem os intercidades Lisboa – Guarda (também param em Coimbra). Conto um total de dez intercidades Lisboa – Coimbra por dia (fora os alfas, que são onze). Os horários “não servem” ao Bruno? Comentários como este e o da Azambuja-Estarreja levam-me a concluir que esta gente não quer comboios – quer é táxis!

Claro que isto só diz respeito à Linha do Norte. Fora desta linha as discrepâncias são mais que muitas, e algumas bem gritantes, como é anunciado no texto. Exemplos que me são próximos são a linha do Minho e os ramais de Braga e Guimarães, sem qualquer ligação entre si. Uma viagem de Braga a Viana do Castelo ou Santo Tirso pode levar a transbordos de quase uma hora. Mas há casos bem piores, referidos no artigo. Foi no entanto anunciado um estudo aprofundado sobre otimização de horários por parte da CP, de forma a melhor servir o utente. Esperemos que os resultados desse estudo, e a sua aplicação, não fiquem para as calendas gregas.
Mais fácil de explicar, mas nem por isso menos absurdo, é o famoso “labirinto tarifário”. Esse “labirinto”, como é explicado no artigo, resulta da divisão dos serviços da CP em Urbanos (de Lisboa e Porto), Regionais (os que funcionam pior e mais frequentemente encerram) e de Longo Curso. Eu não uso com frequência os regionais, ao contrário dos urbanos (subsidiados) e, por isso, não me queixo muito, mas é essa a razão de uma viagem Braga-Porto ou Aveiro-Porto custar 2,15 euros e Aveiro-Coimbra (praticamente a mesma distância) custar 5 euros. Essa divisão foi feita no tempo do governo de Durão Barroso, que certamente se preparava para privatizar a empresa em fases (ou pelo menos alguns segmentos da mesma). O curioso é que essa solução seria certamente do agrado dos liberais, e não traria com certeza tarifas nem horários mais integrados. Não se percebe por isso esta crítica. Só porque é uma empresa do estado?
O artigo tem o mérito de apontar o muito que há a fazer por parte da CP. Eu aponto mais dois investimentos urgentes (muito mais do que qualquer TGV Lisboa – Porto). O primeiro é a requalificação da linha do Oeste e a sua extensão a partir da Figueira da Foz, com ligação à Linha da Beira Alta e ao Porto (através de Santa Maria da Feira), assumindo-se assim como uma alternativa à linha do norte e compensando a saturação desta. O segundo, bem mais local, é a ligação ferroviária direta das principais cidades minhotas, principalmente Braga e Guimarães. Guimarães será a Capital Europeia da Cultura em 2012, e só tem ligações de comboio razoáveis a partir do Porto.

3 comentários :

Filipe Castro disse...

Se não me engano, o custo de transporte (ton/Km) dos combóios é a opção mais barata disponível. Com todas as coisas boas que teve (nomeadamente no que diz respeito à cultura "can-do" dos neoliberais, tão importante para este país de morcões que só se sabem lamuriar) O cavaquisco foi horrível para os combóios e priveligiou, parola e selvaticamente, o acesso dos carros aos centros das cidades, o transporte rodoviário pesado e a privatização das infrastruturas.

Estas três prioridades, que considero duma estupidez criminosa, atrasaram o investimento na rede ferroviária 20 anos. A CP terá defeitos, como todas as empresas públicas, com as máfias de gestores e sindicalistas a tramarem os interesses do público o mais que podem, mas acho que é um bastião de civilização no país desgraçado e desalmado que temos, povoado por irresponsáveis que só pensam em futebol.

Bruno Sena Martins disse...

Caro Filipe, seria injusto se afirmasse que não há fartura de horários, só sublinhava que por mim seriam todos intercidades já que os Alfas - incontornáveis em algumas horas do dia - são mais caros sem que algo o justifique.

abraço

Filipe Moura disse...

Filipe, sem dúvida há que defender a CP ou o que resta dela. O problema é que cada vez resta menos. O longo curso e os urbanos funcionam bem, mas são curtos, e o regional (muitíssimo importante) deixa muito a desejar.

Bruno, sem dúvida meia hora não justifica 8 euros. Eu também procuro sempre o intercidades.

Abraços.