quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Como se deslocam os portugueses nas cidades europeias?

Há um mito – talvez seja mais correcto falar-se numa desculpa – para o hábito errado (pelo menos por parte de quem habita nas áreas metropolitanas de Lisboa ou Porto) dos portugueses se transportarem sempre de carro, para onde quer que vão. Não importa se os transportes públicos estejam cada vez melhores, pelo menos em Lisboa. O Metro está cada vez mais eficiente e com melhores ligações. Já se podem fazer transferências gratuitas entre autocarros. O serviço nocturno da rede de autocarros foi melhorado e ampliado. Os comboios suburbanos estenderam o seu serviço pela madrugada nas vésperas de fim de semana e feriados. Mas os portugueses – sendo que os lisboetas sem qualquer desculpa – insistem que o serviço de transportes públicos “não é adequado”. Dado que outros povos da Europa não exibem este comportamento e utilizam correntemente os transportes públicos, poderíamos ser levados a pensar que, apesar de tudo o que enumerei, o problema estaria nos transportes portugueses. Dado que “lá fora” se anda de transporte público, se tivéssemos transportes como “lá fora” talvez os usássemos. Quem continua a defender esta ideia (ou mais correctamente a usar esta desculpa) que explique este exemplo (a que cheguei via o Menos um Carro).

19 comentários :

Anónimo disse...

Tenho inveja das pessoas que podem fazer bom uso dos transportes públicos. Apesar de sempre defender o uso dos transportes públicos e de os ter usado muito, tenho de admitir que o carro ainda é uma alternativa atraente para quem vive fora de Lisboa. E eu não morro de amores pelo IC19...

Filipe Moura disse...

Com comboios de 5 em 5 min nas horas de ponta, explica lá qual é a necessidade de um tipo se ir enfiar no IC19, Francisco...

Anónimo disse...

De Sintra a Lisboa, são 40 min até ao metro. Pelo IC19, chego a demorar apenas 20. Demoro 40 minutos num dia mau, porta a porta. Mas é bastante fácil evitar a hora de ponta.

P Amorim disse...

Eu prefiro os transportes públicos, até porque se pode ler, mas em Lisboa perde-se imenso tempo. No meu caso se for por o filho pequeno à escola e até chegar ao trabalho demoro 2 (duas) horas e de carro demoro 40 minutos. Isto às 7 h 30 m da manhã faz a sua diferença.
O grande problema está na malha do Metro, que é praticamente inexistente, tendo começado agora a aparecer.

Ricardo Alves disse...

Exacto. Com um metro diferente, a história seria outra.

João Vasco disse...

Quando explico que não tenciono tirar a carta, que me vou safando a pé e com passe, olham-me como um bicho estranho.

Eh!eh!

Mas sou um optimista e espero que isso comece a mudar.

Anónimo disse...

O Metro podia ser melhor mas sobretudo a articulação entre transportes. Não é aceitável que quem chega a um terminal de comboio e Metro perca a carruagem. Estou a pensar no caso do Cais do Sodré. Da Carris também podia dizer muitas coisas...

João Vasco,

Podes tirar a carta e continuar a usar os transportes públicos. Dá sempre jeito. Aprender é sempre bom.

Eu estou é a pensar comprar uma mota, agora que a legislação mudou.

João Vasco disse...

Não estou a defender que não se *deva* tirar a carta. Mas diria à partida que é uma opção tão legítima como qualquer outra, e parece-me errado que a mentalidade seja tal que essa opção seja vista como algo treslocado quando não é.

Filipe Moura disse...

Francisco, os 40 min de comboio, mais o tempo do metro, são tempo que pode ser ganho. Podes ler livros, jornais... Os 20 min de carro são tempo perdido. Para além de não teres stress a estacionar. Isto de uma perspectiva puramente egoísta. Fora a perspectiva altruísta: o ambiente, a não emissão de gases poluentes, a não ocupação de espaço público... Se isto não te sensibiliza, não sei o que hei-de dizer.

Eu também tenho carta de condução e não tenho carro. Não há nada de errado em ter carta de condução. Como em não ter (a primeira opção é sempre uma vantagem).

Anónimo disse...

Caro Filipe Moura,

Quando falei no tempo, não pretendi com isso dizer que era tempo morto - de facto pode ser utilizado de várias formas. Simplesmente demoro mais tempo...

O tempo que poupo por não ir de comboio posso passá-lo de manhã a tomar o pequeno-almoço calmamente e dar uma passagem rápida nas notícias/blogs. O tempo que poupo à tarde posso gastá-lo de outra forma também (por exemplo a passer os cães).

Quanto a ler nos transportes, isso é bom para quem gosta de ler. Eu por acaso até gosto bastante de ler, já tentei ler no comboio e não consigo. Costumava era ouvir mp3 e podcasts. No carro oiço habitualmente a Antena 2 (que é serviço público) e vale bem a pena.

Em geral compreendo e aceito os argumentos a favor dos transportes públicos. Por isso quando vivia em Lisboa me reconverti aos transportes públicos nos últimos anos. Acho que os lisboetas têm poucas razões de queixa e cada vez menos. Mas na situação em que me encontro, o carro ainda é uma alternativa.

dorean paxorales disse...

Filipe,

é com gosto que leio mais um de nós :)

Ricardo,

talvez a rede do metro de lisboa pudesse ser mais abrangente em certas zonas de lisboa. mas julgo que o verdadeiro problema nesta cidade foi o desaparecimento dos eléctricos.
era um transporte com todas as vantagens do metro, mas de menor custo, de maior proximidade e que hoje em dia podia precisamente estar a cobrir zonas onde o metro não pode chegar - eg, colinas e área ribeirinha. infelizmente, foi completamente obliterado pela prioridade dada ao automóvel e aos autocarros.

João Moutinho disse...

E os nossos carros também contam para o aparato social.
Alguém daqui ainda se deve lembrar dos "jeeps" à porta da T0's.

Filipe Castro disse...

Quando vou a Lisboa ando sempre de transportes e sofro um bocado. O metro é uma confusão, sem sinalética, os autocarros vêm de forma errática, e como não há vias 'bus' estão à mercê do trânsito.

Há 20 anos que ando a dizer que os administradores da Carris e os vereadores da Câmara deviam andar de transportes públicos um dia por semana, pelo menos.

João Vasco disse...

Filipe:

Sobre o metro discordo.
Melhor sinalização era difícil. Mapas por todo o lado, as estações bem indicadas, cada linha com sua cor e nome. Cada estação com o seu nome bem visível em todos os cantos.
Nem vejo por onde poderia melhorar.

Sobre os autocarros, totalmente de acordo. Lembro-me que em Berlim o autocarro estava atrasado dois minutos e um amigo meu que vivia lá pensou que tinha havido um problema qualquer. De facto, quando o autocarro chegou logo a seguir, o motorista desculpou-se: tinha de facto havido um problema e daí o atraso (2 minutos). Fiquei parvo e não assisti a mais nenhum "atraso".

Bem sei que nem tudo é como Berlim, mas caramba, nesse ponto estamos quase no extremo oposto.

carla disse...

João Vasco,

O metro ainda poderia melhorar em algumas coisas, como por exemplo permitir o transporte de bicicletas sem restrição de horário. Daria um jeitão.
Ainda em relação às bicicletas, as estações de metro deveriam ter parking de bicis coberto e video-vigiado.

Depois o tema da segurança no metro. No Verão estive no Porto e fiquei admirada com a quantidade de seguranças no metro. Lisboa deveria seguir o exemplo e cuidar mais este aspecto.

Há uns meses à porta da estação de metro da Amadora foi esfaqueado um rapaz, que resistiu a entregar o portatil (pq tinha a tese de dout prontinha a defender, e sem cópia, dentro).

Dito isto, eu utilizo sempre transportes publicos, dentro e fora de Portugal. Tenho carta, mas não tenho carro porque nunca precisei. Quando vivi em Lisboa só senti falta do carro para deslocações durante a noite.

Vivo fora de Portugal, e utilizo sempre transportes publicos e bicicleta (que me dá um jeitão).

Em Lisboa nunca utilizei a bicicleta, porque me parecia perigoso: na altura não existiam as condições necessárias, mas ouvi dizer que estão a investir nisso.

João Vasco disse...

Carla:

Eu referia-me a informação.

Certamente haverão coisas a melhorar.

Ricardo Alves disse...

Dorean,
o eléctrico ainda existe, mas quase só nas zonas «turísticas» - aquela coisa de ser um símbolo de Lisboa, e tal... Refira-se que não é eficiente: basta um carro 10 cm mal estacionado para provocar um entupimento.

Há dois pLroblemas, na minha modesta opinião:

1) O metro é realmente curto. Em tempos dizia-se que era o «centímetro», agora será o «decímetro». Falta em muitas zonas de Lisboa, já para não falar dos subúrbios.

2) Lisboa é muito mais acidentada do que outras capitais europeias como Madrid, Paris, Londres ou Amesterdão (que não é capital, eu sei). Por isso, nunca será fácil para as bicicletas e mesmo para o trânsito em geral é mais complexo do que parece à primeira vista. Há colinas que se tornaram em enormes «ilhas» do ponto de vista do tráfego.

miguel disse...

Caros, a discussão está interessante mas foge ao ponto da posta do Filipe.

Os portugueses exactamente nas mesma condições, sejam boas ou más, preterem os transportes públicos colectivos em relação ao automóvel. Não se trata portanto de ser Lisboa, Londres ou Kinshasa. Trata-se da nossa cultura.

Qualquer um que já viveu noutro país num ambiente internacional, e eu já vivi em dois, nota que os portugueses (acrescento os italianos e romenos) têm uma obrigação moral de andar de carro.

no name disse...

ainda sobre as acessibilidades em lisboa, sugiro que alguém pegue nesta ideia:

http://www.technologyreview.com/blog/arxiv/24398/
http://arxiv.org/abs/0911.2028

e faça a análise para a cidade onde mora ;-)

de resto, penso que num contexto urbano com bons transportes públicos não faz muito sentido andar de carro. mas por outro lado penso que este já pode ser uma necessidade num contexto suburbano (e isto sem mencionar quem gosta de passear aos fins de semana...).