terça-feira, 16 de junho de 2009

Ateus!

Depois de colocar aqui o Comunicado da AAP fui ler alguns dos comentários que ele suscitou nalguns orgãos de comunicação social.

Em Portugal há imensas pessoas que se referem aos ateus como se nós fôssemos como os mormons (que usam umas cuecas especiais) ou como os jeovás (que não comem arroz de cabidela)!

Eu cresci a ajudar à missa em Santarém, vestidinho de branco (com um vestido emprestado, muito curto, que deixava ver aí um palmo das calças) e com uma inveja enorme dos livres pensadores, que sempre achei muito mais divertidos e interessantes do que os religiosos (mesmo os católicos, que não se auto-impõem roupas interiores especiais nem tabus gastronómicos para irem para o céu).

Depois, um dia, descobri que os meus pais não se importavam com o facto de eu achar o catecismo uma palhaçada e assumi o meu estatudo de incréu. Nunca me ocorreu que os católicos não fossem todos como eu: (ateus e) deliciados com o Eça, o Diderot, o Stendhal, o Sartre, a Bíblia do Reiser...

Mas não. Enganei-me. Continuo a achar que para os católicos portugueses Deus é um amigo imaginário que eles não levam muito a sério e os padres são uns tristes, sem família, que lhes proporcionam uns rituais simpáticos e pouco exigentes, onde as pessoas se encontram para mostrar as roupas e os relógios, e calhandrar um bocadinho. Mas os ateus têm um estatuto semelhante ao dos jeovás.

Curiosamente, aqui onde todas as seitas se auto-impõem coisas estranhíssimas, além das cuecas dos mormons, das cabidelas dos jeovás, dos presuntos e dos salames dos judeus e dos muçulmanos, há uns que não dançam, outros que não riem e todo o tipo de tabus sexuais que se possa imaginar (não admira que eles andem sempre a querer rebentar o planeta!)

E portanto, paradoxalmente, num país em que 60 ou 70% das pessoas acredita que Jesus existiu e era loiro, os ateus são olhados com menos estranheza do que em Portugal. :o)

9 comentários :

João Vasco disse...

Filipe:

Acho que cometeste o erro de tirar conclusões sobre a mentalidade do país a partir daquilo que se lê na net. É um erro.
Para dar um exemplo, se fores a ver os votos do PNR, dá a sensação que 95% por cento deles passa a vida nos blogues e em foruns de notícias. Quem não conhecesse as votações, mas apenas a internet, poderia pensar que este partido era mais importante que o CDS-PP.

No que diz respeito aos ateus, podem existir meios em que são tratados com mais estranheza (mais para o norte, mais para o interior); mas a regra geral é que essa seja vista como uma opção perfeitamente normal.

Não é por acaso que em Portugasl já existem mais casamentos civís que pela igreja. Arrisco-me a dizer que em alguns meios académicos (na engenharia em particular), o ateísmo é visto como mais "normal" que a devoção. De qualquer das formas essa questão não é considerada importante, e ainda bem.

Se um político faz referências a Deus, coisa que é tão comum nos EUA, aqui o discurso público dominante (diferente daquilo que é escrito na internet) é que ele anda um pouco baralhado, e não o deve fazer.
Quando o Cavaco se candidatou a presidente contra o Sampaio há vários anos, cometeu o erro de dizer "Portugal é católico" e foi severamente criticado por todos os lados, e ainda bem.

Bem sei que a ICAR é uma instituição insidiosa, e a comparar com os simples e frontais evangélicos, bem mais sofisticada e hipócrita. Por isso é que em Portugal é compatível este discurso e sentimento de tolerância pelos ateus, de que a religião e a política devem ser assuntos separados, e ainda assim a ICAR detém previlégios perfeitamente injustos e escabrosos. Não é devido à mentalidade dominante: é devido ao secretismo e hipocrisia.

Mesmo em relação a este último assunto não os vês a reclamar claramente o direito a serem previligiados (como muitas vezes os evangélicos fazem nos EUA) - em vez disso alegam que estão a ser perseguidos e injustamente prejudicados.

Filipe Castro disse...

Pode ser. Eu estou aqui exilado já há 11 anos e as memórias que tenho, mesmo do IST, datam de há mais de 20 anos. Mas lembro-me de ser normal ser-se agnóstico e sinistro ser-se ateu.

Em relação aos EUA a coisa é, de facto, MUITO mais simples: eles acham que Deus existe e é americano (e loiro, com os olhos azuis). E quem não perceber isto devia ser exterminado. Mesmo os católicos são diferentes: aqui são tradicionalmente irlandeses e jogam duro, com uma frontalidade e um fanatismo desconhecidos no mundo mediterrânico. :o)

zé gato disse...

adoro a designação "livres pensadores". como se um religioso não pudesse pensar pela sua cabeça.

dorean paxorales disse...

Nos EUA, tal como em qq país multi-étnico, a religião é uma forma de identidade.

Em Portugal, não.
A excepção encontra-se, tal como nos EUA, quando serve para acentuar uma identificação (o marialva é católico porque esses hábitos fazem parte do ramalhete que compõe o estatuto social pretendido).

De resto, basta comparar a atitude da Igreja (conjunto clero e povo) que descreve com aquela em espanha, Itália ou Irlanda.

Da mesma forma, o agnosticismo é uma 'persuasão' bem portuguesa no seu desejo de descomprometimento.

Anónimo disse...

«Mas lembro-me de ser normal ser-se agnóstico e sinistro ser-se ateu.»

A reacção de que me apercebo da população em geral é um pouco essa - o que é bom é ter uma posição assim-assim. Os padres são em muitos casos excessivamente conservadores, os agnósticos estão do lado do bom senso, os ateus são arrogantes.

As críticas à religião instituída são também apenas breves comentários não muito elaborados, por vezes jocosos. Os ateus são pessoas com uma mente fechada que não conseguem compreender que "há algo que nos ultrapassa"...

Isto quer dizer que as pessoas, em geral, não querem saber da religião, dos padres, dos deuses, dos milagres, para nada. A não ser para comer febras nas procissões, sardinhas nos santos. Sobram os que vão a Fátima uma vez ao ano.

Filipe Castro disse...

Mesmo ir a Fátima é para muitosa o mesmo que ir ao picnico do Diário Rural, ceboleiros e tudo. :o)

Anónimo disse...

It's oficial: america sucks!

Zeca Portuga disse...

Já tenho lido coisas estupidas, incoerenes e até imbecis, mas normalmente esta acho que saltou para além do limite:

"Nunca me ocorreu que os católicos não fossem todos como eu: (ateus e)..."

Basta ser racional, minimamente coerente e ter uma pontinha de inteligencia...

Com afirmações como esta, podemos perguntar:

Quem será o desmiolado que dá algum crédito ao ateísmo!?

confraria_da_alfarroba sociedade de irresponsabilidade e limitada disse...

eu dou.
e
vivam os desmiolados!

acho mesmo que são cada vez mais...

ps: e... tenho a sensação que os zecas estão em vias de extinção!