segunda-feira, 30 de março de 2009

Cheque-ensino travado no Arizona

Queriam dinheiro do Estado para financiar o ensino da religião? Os tribunais não deixam:
  • «The Arizona high court, ruling unanimously, said the voucher subsidies violate a provision of the Arizona Constitution barring tax funding of religious and other private schools.

    (...)

    Arizona is one of 37 states with strong constitutional provisions that bar the diversion of tax funding to religious schools. Other state courts have ruled against school vouchers in the past, and more may do so in the future.» (Americans United)

Outras derrotas americanas do cheque-ensino: Florida (nos tribunais) e Utah (em referendo).

domingo, 29 de março de 2009

Rapazes verdadeiramente maus...

Costuma-se dizer que já não há rapazes maus, desde que morreu o padre Amaro, mas há. E parece que os 35 piores são cardeais e vivem no Vaticano. Vaidade, inveja, corrupção, cupidez, conspiração, ódio e jogos de poder caracterizam o ambiente bizantino que se vive no Vaticano e que Ratzinger não parece ser capaz de controlar.

A ICAR é uma organização medieval com uma estrutura medieval que serviu um propósito importantíssimo durante mais de 1000 anos: compreender, sintetizar e administrar os verdadeiros interesses da oligarquia que governou (e governa) a Europa desde a queda do império romano.

Hoje, num mundo global onde os católicos são uma pequena parte da equação e Roma já não pode empregar e alimentar os filhos segundos dos nobres, o papel da ICAR está em causa. E a podridão e o luxo imoral do Vaticano começam a cheirar, sobretudo quando o papa não percebe que um líder mundial pode ser um sociopata sem empatia pela humanidade (como Bush e Cheney) mas não deve alardear o desprezo pela humanidade em público. As palavras e actos de ódio psicopata da ICAR contra as mulheres que se vêem obrigadas a recorrer à interrupção da gravidez, os homossexuais que querem ter os mesmos direitos humanos que o resto das pessoas, os jovens que querem ter uma vida sexual abundante e equilibrada, a guerra aos contraceptivos num mundo cuja população não para de crescer e em que as doenças venéreas matam milhões de pessoas com mortes lentas e horríveis, destroem famílias e infectam orfãos, e agora o apoio público a uma organização caceteira, fascista e anti-semita, são um caminho perigoso, mesmo para uma das organizações mais poderosas e mais ricas do mundo.

Religião e pena de morte

Segundo algumas pessoas que conheço que foram católicas, uma das maiores fixações dos catequistas é convencer os catequizados de que a nossa vida não é nossa, «a Deus pertence». Recordei-me disto quando escrevi sobre a correlação entre países islâmicos (e ditaduras comunistas) e a aplicação da pena de morte. É que se a nossa vida não é nossa, mas de «Deus», não apenas se compreende que a eutanásia ou o suicídio sejam inaceitáveis (até crime...), como se entende que a pena de morte exista e seja aplicada. É que não existe ninguém melhor para interpretar a vontade de «Deus» do que o clero, e quando esse clero aplica a «lei divina» (ou «lei natural», como dizem às vezes), está certamente habilitado para retirar a vida em nome do seu verdadeiro possuidor: o «Deus» abraâmico dos catequistas e do Corão.

Os dotes premonitórios dos equídeos

Por ter escrito algumas palavras singelas duvidando da capacidade dos cavalos de Nuno Álvares Pereira para prever as aparições de Fátima, o Carlos Esperança teve direito a 74 (!) comentários, quase todos de monárquicos enraivecidos por se dar atenção a esta pérola da sua divindade terrena (o cidadão Duarte Pio):
  • «Quando passava de Tomar a caminho de Aljubarrota, a 13 de Agosto de 1385, D. Nuno foi atraído à Cova da Iria, onde, na companhia dos seus cavaleiros, viu os cavalos do exército ajoelhar, no mesmo local onde, 532 anos mais tarde, durante as conhecidas Aparições Marianas, Deus operou o Milagre do Sol».
Significativamente, os militantes monárquicos não aproveitaram a ocasião para explicar:
  1. Como pode o mesmo Sol estar aos pinotes para quem o vê em Fátima, e imóvel para quem o vê em Leiria, Lisboa ou Londres;
  2. Porque existirão pessoas que séculos após o seu falecimento aparecem preocupadas com revoluções que ainda não aconteceram;
  3. Porque é que os mesmos que acreditam na «ressurreição» são contra a investigação em células estaminais;
  4. Como e porquê terão algumas pessoas, depois de mortas, a faculdade de curar queimadelas de óleo de fritar peixe;
  5. Porque é que os cavalos tiveram dotes premonitórios que faltaram aos cavaleiros.
Serve a mencionada caixa de comentários para concluir que o movimento monárquico merece a mesma preocupação do que os grupos dedicados à astrologia.

sábado, 28 de março de 2009

...e sobre as crianças

No Paquistão, mais uma vez, os fundamentalistas islâmicos estão a impedir a vacinação de crianças.

Brutalidade selvagem sobre as mulheres

Na Turquia, o governo fez um esforço para punir os assassínios de honra e os patriarcas (ou pais, ou conselhos familiares) passaram a impor o "suicídio" às raparigas que "desonram" a família. Fecham-nas num quarto com uma corda, ou uma pistola, ou remédio dos ratos.

Justiça ou Caridade

«[...]Como fez a Madre Teresa. Venerada por muitos e criticada por alguns, todos concordam que se dedicou mais do que seria justo exigir-lhe. Mas o seu objectivo era amar os que sofriam e dar uma morte digna aos moribundos. Não investiu os donativos em campanhas de vacinação, em planeamento familiar ou em saneamento básico porque, para ela, aquele sofrimento não eram uma injustiça a corrigir. Era uma sina daquela gente, que merecia pena e amor dos seus semelhantes porque justiça teriam de outra fonte.

Mas sem deuses é diferente. As doenças são infecções, a miséria uma má distribuição de recursos e o sofrimento um mal a remediar. Com justiça, não com caridade. Jeremy Bentham, um dos pais do utilitarismo, no início do século XIX lutou por reformas no sistema legal britânico, defendeu o sufrágio universal, a abolição da escravatura e a liberdade de expressão. Foi um dos responsáveis pela ideia do estado assegurar serviços de saúde e educação e apoiar os mais necessitados da forma que hoje tomamos por garantida.

Bentham, Mill (pai e filho) e outros que os seguiram tiveram um impacto enorme na vida de muitos milhões de pessoas nos países de cultura ocidental. Não por lhes segurarem a mão enquanto morriam mas por corrigirem problemas fundamentais que eram fonte de tanta miséria. Foi por causa destas pessoas que a Madre Teresa foi "de Calcutá" e não "de Londres" ou "de Lisboa". E nenhum fez mais que a sua obrigação, aquela responsabilidade básica de perceber e combater a injustiça.
[...]»

Justiça ou Caridade., no Que Treta!

sexta-feira, 27 de março de 2009

O capitalismo...

Não acho que as coisas sejam assim, pretas ou brancas: mais estado, ou menos estado. Se o Santana Lopes fosse primeiro ministro eu preferia menos estado. Quanto menos poderes tivessem os amigos dele e as ministras, cheias de pulseiras e madeixas, melhor para o país. Se o PM fosse o Dr. Bruto da Costa eu queria mais estado, muito mais estado.

Nas sociais democracias do norte da Europa a intervenção do estado serve para diminuir a desigualdade e melhorar a vida a todos.

E os impostos não são um determinante da vitalidade do investimento. As infraesturuturas podem ser muito mais importantes. Por exemplo, no estado de NY as cidades no norte têm muito menos impostos e muito menos investimento que as do sul.

O que está em causa nestes últimos meses nem sequer é o capitalismo, que acho que a esmagadora maioria das pessoas percebe que é um mal necessário (como a democracia), mas a cleptocracia que o governo dos criminosos Bush e Cheney implementou.

O capitalismo selvagem nem sequer é para aqui chamado, porque o que aconteceu nos EUA - sabe-se agora - foi um governo que abriu as portas dos bancos a um bando de cleptomaníacos medíocres e irresponsáveis.

O capitalismos selvagem é outra coisa. Como a cientologia ou o comunismo científico, só funciona na cabeça dos fiéis. :o)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Escravatura

Um texto fantástico de Benjamin Skinner, um escritor excelente e um herói com uma coragem formidável. A não perder.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Inequidade e problemas sociais

Através deste texto do Rui Tavares tomei conhecimento de dados curiosíssimos aqui apresentados.



Mesmo antes de conhecer estes dados já tinha noção que a importância da desigualdade no crime e numa série de outros problemas sociais era significativa. Mas não sabia que tal se podia demonstrar com tanta clareza. Os dados são interessantíssimos.

Saliento que a escala relativa ao número de prisioneiros é logarítmica. Isso quer dizer que a relação da desigualdade com o número de prisioneiros é tendencialmente exponencial. E que a promoção da equidade pode bem ser uma das estratégias mais eficazes para fazer face à criminalidade e insegurança.

O mito do Arrefecimento Global

Mais um video esclarecedor sobre a questão do aquecimento global e os mitos urbanos que por aí polulam:



Para quem não tenha ainda visto aconselho vivamente o visionamento deste video e deste video, que fazem o melhor resumo que encontrei sobre o debate científico a este respeito.

Pena de morte e religião

A análise da generalidade dos media ao relatório da Amnistia Internacional sobre a pena de morte em 2008 concentra-se em destacar os Estados que executaram um maior número de pessoas, e em sublinhar as anomalias «regionais» (continentais). Ou seja, os dez piores do mundo em 2008 seriam:
  1. China, 1718;
  2. Irão, 346;
  3. Arábia Saudita, 102;
  4. EUA, 37;
  5. Paquistão, 36;
  6. Iraque, 34;
  7. Vietname, 19;
  8. Afeganistão, 17;
  9. Coreia do Norte, 15;
  10. Japão, 15.
O que está certo, porque as 1718 execuções da China são sem dúvida mais relevantes do que as 37 dos EUA. Mas, se calcularmos o número de execuções por milhão de habitantes, podemos fazer uma análise bastante diferente do problema da pena de morte.
  1. Irão, 5.2;
  2. Arábia Saudita, 3.6;
  3. China, 1.28;
  4. Líbia, 1.27;
  5. Iraque, 1.17;
  6. Coreia do Norte, 0.66;
  7. Iémen, 0.55;
  8. Afeganistão, 0.51;
  9. Bielorrússia, 0.41;
  10. Vietname, 0.22.
Assim, nota-se que os dois Estados do mundo que mais pessoas executam por milhão de habitantes são também, curiosamente, os mais teocráticos: o Irão xíita e a Arábia Saudita wahabita. E a segunda tabela tem outra curiosidade: a de todos os Estados serem ou ditaduras pós-comunistas (incluindo a Bielorrússia), ou Estados islâmicos (na primeira tabela havia duas democracias). Sendo que estes últimos dominam a segunda tabela em número de Estados presentes e, sobretudo, nos lugares de topo.

Alerta criacionista no Texas

Filipe, isto é contigo:
  • «The Texas Board of Education should remove language from proposed science standards that opens the door to teaching religious concepts in public schools, says Americans United for Separation of Church and State.

    “Texas can either have world-class science standards or allow fundamentalists to sneak religion into classrooms through the back door,” said the Rev. Barry W. Lynn, executive director of Americans United. “It can’t do both.” (...)

  • “Americans United recommends that the Board proceed with caution in adopting the standards approved at the January Board meeting because courts have determined that undermining evolution like the January amendments do is unconstitutional,” wrote Sher. “Americans United remains vigilant of students’ and parents’ rights to have sound science, rather than religious belief, taught in public-school science classrooms and will not hesitate to challenge any introduction of religion into Texas’s public schools.”

    The federal courts have repeatedly struck down Religious Right attempts to push religion in public school science classes. In 1987, the U.S. Supreme Court in Edwards v. Aguillard invalidated a Louisiana statute requiring science educators to “balance” teaching evolution concepts with “creation science” concepts.

    In 2004, Americans United and the ACLU challenged the promotion of “intelligent design” creationism in Dover, Pa., public schools. A year later a federal district court ruled in Kitzmiller v. Dover Area School District that such governmental advocacy of religion is unconstitutional.» (Americans United)

terça-feira, 24 de março de 2009

A violência nas escolas, agora em filme

Ora aqui está um filme que parece interessante: mete uma escola, uma professora que quer dar aulas de saia, uma tomada de reféns, violência e Molière.


La journée de la jupe», com Isabelle Adjani.)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Darwin: 200 Anos (Texas)

E pronto: no dia 27 o Texas é capaz de aprovar uma lei que obriga as escolas a ensinar "Flood Theory."

O governador Rick "também não sei dizer 'nuclear'" Perry tem-se batido incansavelmente para cobrir o estado de ridículo e fazer do Texas o novo Kansas: a chacota do mundo civilizado.

O comissário do meu distrito é um dentista chamado McLeroy que tem um website que é uma pérola na história mundial da estupidez e da ignorância.

Há 10 anos no Texas, ainda não consegui perceber como é que eles acreditam que há uma conspiração de TODOS os cientistas (astrónomos, químicos, físicos, matemáticos, biólogos, geólogos, antropólogos, arqueólogos e paleontólogos) do mundo contra eles. Até o papa percebe os factos da Teoria da Evolução das Espécies!

Claro que o Dr. McLeroy não está sozinho. Tem do lado dele os rabis ortodoxos, os imames do Afganistão, os raelians, a Igreja do Flying Spaghetti Monster, os indus do século VII BCE, os 35% da população americana que vivem isolados na pradaria e nas montanhas há 400 anos e o governador do Texas.

Arqueonautas SA website

Para os monárquicos que não acreditam no que eu digo, está aqui o website.

Nem todos os países do mundo desprezam o seu passado. Em Outubro de 2004 W passou uma lei - Public Law 108-375 - que protege os navios históricos americanos e encoraja a realização de acordos bilaterais. Eu não tenho seguido o assunto, mas na altura mandei isto a todas as pessoas que conheço nos ministérios dos negócios estranjeiros e da cultura:

2005 National Defense Authorization Act. Title XIV of the Act (Public Law Number 108-375)

Sections 1401 to 1408. Page 2094 to 2098.

Title 1407 encoraja a elaboração de acordos bilaterais e multilaterais com outros países para a protecção mútua de vasos de guerra afundados, entendidos como navios de guerra ou navios do estado envolvidos em actividades de suporte.

It is on the body of international law which extends from Hugo Grotius in the seventeenth century to UNCLOS that the positions of leading maritime states regarding the perpetual ownership of their sovereign ships rests. The following is a recitation of some of those positions.

Germany: "Under international law, warships and other vessels or aircraft owned or operated by a State and used only on government non- commercial service (``State vessels and aircraft'') continue to enjoy sovereign immunity after sinking, wherever they are located. The Federal Republic of Germany also retains ownership of any German State vessel or aircraft owned by it or the German Reich at the time of its sinking. Further, many sunken warships and aircraft are maritime graves, which have to be respected. No intrusive action may be taken in relation to German State vessels or aircraft without the express consent of the German Government.'' (Communication from the German Foreign Ministry, October 30, 2003).

Japan: "According to international law, sunken State vessels, such as warships and vessels on government service, regardless of location or of the time elapsed remain the property of the State owning them at the time of their sinking unless it explicitly and formally relinquishes its ownership. Such sunken vessels should be respected as maritime graves. They should not be salvaged without the express consent of the Japanese Government.'' (Communication from the Government of Japan, September 13, 2003).

Russian Federation: "Under international law of the sea all the sunken warships and government aircraft remain the property of their flag State. The Government of the Russian Federation retains ownership of any Russian sunken warship, including the warships of the Russian Empire and the Soviet Union, regardless the time they sank. These craft are considered places of special governmental protection and cannot be salvaged without special permission of the Government of the Russian Federation.'' (Communication from the Government of the Russian Federation, October 3, 2003).

Spain: "The Embassy of Spain presents its compliments to the Department of State and has the honor to address the matter of Spanish laws and policy regarding the remains of sunken vessels that were lost while in the service of the Kingdom of Spain and/or were transporting property of the Kingdom of Spain. In accordance with Spanish and international law, Spain has not abandoned or otherwise relinquished its ownership or other interests with respect to such vessels and/or its contents, except by specific action pertaining to particular vessels or property taken by Royal Decree or Act of Parliament in accordance with Spanish law. Many such vessels also are the resting place of military and/or civilian casualties.
"The Embassy of Spain accordingly wishes to give notice that salvage or other disturbance of sunken vessels or their contents in which Spain has such interests is not authorized and may not be conducted without express consent by an authorized representative of the Kingdom of Spain.'' (Embassy of Spain, Washington, DC, Note No. 128, December 19, 2002).

United Kingdom: "Under international law, warships, naval auxiliaries, and other vessels or aircraft owned or operated by a State and used only on government non-commercial service ("State vessels and aircraft'') enjoy sovereign immunity. State vessels and aircraft continue to enjoy sovereign immunity after sinking, unless they were captured by another State prior to sinking or the flag State has expressly relinquished its rights. The flag State's rights are not lost merely by the passage of time. Further, many sunken State vessels and aircraft are maritime graves, which should be respected. No intrusive action may be taken in relation to the United Kingdom's sovereign immune State vessels or aircraft without the express consent of the United Kingdom.'' (Communication from the UK Foreign and Commonwealth Office, July 4, 2003).


Em vão. Julgo aliás que, à boa maneira portuguesa, como eu não sou lá muito popular entre os funcionários públicos destes dois ministérios (que me conhecem), já não interesa o que eu digo, desde que seja eu a dizer...

Caça aos tesouros

Uma das consequências mais tristes do salazarismo foi a cultura de desrespeito e incompreensão que o Estado Novo imprimiu (continuou, se quisermos considerar o livro magistral de Ramalho Ortigão "O culto da arte em Portugal") e que se baseou numa concepção da História disparatada e ignorante.

As publicações da DGEMN atestam eloquentemente a destruição incompreensível do património, que se queria que parecesse românico: as ameias inventadas, as talhas arrancadas, os ajulejos picados, tudo para fazer as igrejas e os castelos mais medievais do que eles alguma vez tinham sido.

O resultado, 35 anos depois do 25 de Abril, é o deserto das ideias. Anedotas em vez de História. Pastiches e anastiloses em vez de monumentos. O património ao sabor das conveniências dos empreiteiros.

Com raríssimas e honrosas excepções (como o Museu de Marinha) Portugal tem talvez os museus mais pobres, mais tristes, mais miseráveis e mais vazios da Europa ocidental (e deve ter mais estádios de futebol per capita do que o resto do mundo!)

Isto não é por acaso. Howard Zinn disse muitas vezes que se não conhecermos a nossa história temos de confiar nos nossos políticos. A recente promoção do ditador Oliveira Salazar é um reflexo da ignorâcia triste e desgraçada de quem já não sabe que em 1960 Portugal era um sovaco mal cheiroso, sem sapatos, nem dentes, nem estradas, nem escolas, governado por seminaristas que tinham ido para o seminário para fugirem à fome.

A indiferença com que os sucessivos ministros e secretários de estado da cultura (com excepção do Dr. Manuel Maria Carrilho) tratam o património subaquático é uma vergonha nacional.

Não são só os navios - absolutamente preciosos - que a empresa Arqueonautas SA está a destruir em Moçambique. São os restos do navio encontrado na estação do Cais do Sodré, nas obras do metropolitano de Lisboa, cujas madeiras foram salvas pelo empreiteiro e deixadas secar e apodrecer pelo IPPAR. São as madeiras da nau de S. Julião da Barra, que ninguém se deu ao trabalho de manter molhadas e que se perderam, são os restos dos navios que continuam a saque na nossa costa sem que o estado tome medidas minimamente eficazes, ou o património subaquático português espalhado pelo mundo, que se encontra ao abandono.

Os espanhóis implementaram uma política agressiva e consequente (tarde, mas mais vale tarde do que nunca) e eu garanto que dentro de poucos anos vão ter um afluxo de turistas enorme para ver os museus deles.

Em Janeiro passado, numa reunião em Toronto, disseram-me que o navio 'Vasa' rendeu no ano passado mil milhões de eutros em receitas turísticas. O museu de arqueologia náutica de Bodrum é um dos museus mais visitados da Turquia. Mas os portugueses deixam os caçadores de tesouros rebentarem os restos dos navios afundados para venderem as porcelanas, as moedas e os lingotes.

Em toda a Europa (e nos EUA) se considera que o património é uma parte importante da identidade dos povos e a história é uma referência fundamental para a cidadania e a democracia. Menos em Portugal.

Os comentários dos anónimos aos textos escritos neste blog sobre este assunto são absolutamente confrangedores e ilustram eloquentemente o meu ponto de vista.

E se estes são os vossos melhores argumentos (sobretudo o comentário do anónimo que acha que eu devo "ser um falhado que quer publicidade a todo o custo") não dão grandes motivos para orgulho ao movimento monárquico português. Acho eu.

http://nautarch.tamu.edu/shiplab/index_indianau00.htm

sábado, 21 de março de 2009

«Arqueonautas, SA»

O Filipe Castro descreveu as actividades de «caça ao tesouro» da Arqueonautas SA e do Sr. Duarte, que está ligado a esta empresa. Os monárquicos do costume acharam que era um mero ataque político (ver a caixa de comentários). Não pretendo saber de arqueologia náutica um décimo do que o Filipe Castro sabe, mas com um pouco de Google descobre-se o seguinte...
  • «Segundo Alexandre Monteiro, da Archport, "A Arqueonautas, AS é uma empresa de caça ao tesouro formada em 1994. Tinha como director de operações John Grattan, ex-oficial da Royal Navy e protagonista de vários desacatos e crimes na ilha Terceira, onde operou em 1972. A empresa que tem (ou tinha) como accionistas, entre outros, membros do Grupo Espírito Santo, Francisco Pinto Balsemão e José Manuel de Mello, opera (ou operou) em Cabo Verde com o beneplácito do Ministro do Mar, depois de ter visto frustrada a sua intenção de proceder a prospecções e recuperações nos mares dos Açores, ao abrigo do revogado dec.lei 289/93.

    (...)

    Existem – ou existiam – algumas pessoas e entidades – como a Fundação Ricardo Espírito Santo e a Faculdade de Letras de Lisboa – associadas a esta empresa. Entre as individualidades referidas contam-se José Hermano Saraiva, consultor cultural da empresa, e Dom Duarte de Bragança, presidente do Conselho de Acompanhamentos da Arqueonautas, AS. Este último, segundo as suas declarações à Agência Lusa aquando da sua estadia no aerquipélago cabo-verdiano, em Julho de 1995, teria usado a sua influência para sensibilizar as autoridades locais para a recuperação de naufrágios históricos, num projecto que custaria milhões de dólares. O gabinete de Dom Duarte admitiu mesmo ao jornal Público que o pretendente ao trono participara na reunião havida entre a Arqueonautas e o governo cabo-verdiano, reunião na qual foi negociada a concessão de exploração de uma zona marítima junto à ilha do Fogo".» (Naufrágios)
  • «Surpreendente, também, o facto de terem sido já feitas partilhas dos bens recuperados, na medida em que o próprio relatório da Arqueonautas, de Dezembro de 2002, afirma que “foi decidido que sem uma detalhada publicação das descobertas e escavações era impossível naquele estágio discutir a repartição da porcelana.” Ora não temos conhecimento de que tenha sido feita qualquer publicação sobre este assunto e é óbvio que as partilhas foram já feitas e a parte da Arqueonautas exportada.

    Lamentável também que essas peças tenham abandonado o país e sido dispersas, através da venda em leilão, sem que os moçambicanos tenham tido a possibilidade de, ao menos, as verem numa exposição em Moçambique. (...)

    Na verdade o art. 6, ponto 1 do contrato entre o Estado e a Arqueonautas/Património Internacional, refere um segredo rigoroso e completo, muito para além da protecção dos locais prevista no art. 19 da Convenção da UNESCO que cita . Refere-se a todo o conteúdo do contrato. O público tem sido mantido na ignorância do que está a acontecer, com excepção de raros, e pouco informativos, artigos em jornais.» (Ma-Schamba)

  • «O património cultural subaquático não deve ser explorado comercialmente. É o que diz, desde 2001, a Convenção da UNESCO para a sua protecção. Que por enquanto não está em vigor. Portanto, quem se dedica a retirar do fundo do mar pequenos e grandes tesouros para serem leiloados, independentemente da sua origem tem toda a cobertura legal. E tem lucros que divide com os Governos desses países africanos.» (Diário de Notícias)
  • «Portugal tem assumido ao longo do tempo uma atitude passiva face ao que tem acontecido com os seus antigos navios, muito diferente da tomada pelos espanhóis, que não hesitaram em colocar em tribunal um dos poderosos caça-tesouros do mundo, a empresa Odyssey, para defender o património dos seus navios naufragados, tendo ganho acções em várias instâncias, nos tribunais norte- -americanos.» (Diário de Notícias)
  • O próprio Filipe Castro escreveu abundantemente sobre o assunto no seu outro blogue, aqui, aqui, aqui, aqui e ali.
Se bem entendo, temos uma empresa formada por «aristocratas» europeus e capitalistas lusitanos que se dedica a retirar a carga de navios portugueses afundados ao largo da costa africana, e depois a leiloar os objectos encontrados. Desconheço a legislação aplicável, mas há vários pontos que me parecem desde logo criticáveis: a) a destruição de património arqueológico (não parece haver o necessário enquadramento de arqueólogos profissionais); b) a alienação de património cultural (e tecnológico) que deveria pertencer ou ao Estado-bandeira da carga ou ao Estado onde se encontra o navio (os países africanos nem se parecem aperceber do que estão a permitir...); c) a dispersão de colecções de arte que acabam vendidas avulso. Fica claro que o Sr. Duarte, pela sua associação a esta empresa, deveria ter vergonha de falar em defender o património cultural português. Mas isso nem é o mais importante.

Se não percebi bem, o Filipe que explique melhor, na caixa de comentários ou em artigo autónomo.

Indignação

Recebi um email do Instituto da Democracia Portuguesa com uma mensagem do Sr. D. Duarte que falava do património português.

Parece-me inacreditável que o Sr. D. Duarte se atreva a falar do património português, quando a empresa Arqueonautas SA, da qual ele foi presidente, continua a destruir os restos arqueológicos de um número desconhecido de naus da India em Moçambique, algumas das quais primorosamente preservadas.

O Sr. D. Duarte não emite nem um pio sobre este assunto.

As naus da India eram dos navios mais sofisticados construidos no mundo, no tempo delas. São páginas preciosas da história da ciência e da tecnologia e foram os veículos da expansão europeia do século XVI. Destruir estes sítios arqueológicos, raríssimos e talvez os últimos no mundo, é um crime de selvajaria inenarrável. E para quê? Para sacar as porcelanas e os lingotes de ouro, ou as moedas. Reduzir estes sítios arqueológicos, que são os túmulos de centenas de marinheiros, soldados, mercadores e missionários, revirar-lhes os ossos para sacar uns cobres, é um crime bárbaro, de ganância, de ignorância e de uma boçalidade difícil de descrever.

Como é que uma pessoa que defende a destruição e a venda das páginas mais notáveis e mais nobres do nosso passado se atreve a falar do património?

Na semana passada estive reunido com um pequeno grupo de cientistas na Texas A&M University, e todos se espantaram com a qualidade das naus da India, como navios de guerra, de carga, e como "máquinas de habitar" que abrigavam mais de 400 pessoas durante mais de seis meses, navegando ao longo da rota mais longa e mais perigosa do mundo no tempo delas. E todos lamentaram que só os restos exíguos da presumível "Nossa Senhora dos Mártires" tenham sido estudados por arqueólogos.

Defender a destruição sistemática dos tesouros únicos que a empresa Arqueonautas está a destruir em Moçambique, por uns míseros cobres ( a empresa Arqueonautas SA nem sequer tem lucros dignos desse nome), reduzir estas cidades flutuantes, que abrigavam a coragem, os sonhos e a competência extraordinária de tanta gente, a umas porcelanas e a uns lingotes, é uma actividade tão ignóbil, tão mesquinha, tão repugnantemente miserável, que revela uma ignorância tão chã e tão desgraçada, que me parece que o Sr. D. Duarte não devia proferir nunca a palavra património sem se envergonhar.

sexta-feira, 20 de março de 2009

António volta a atacar

Ainda se lembram do Wojtyla com um preservativo no nariz? O Ratz também parece não saber muito bem para que serve o objecto de látex...


(Gamado daqui. Ver Wojtyla e Ratzinger no Expresso.)


quinta-feira, 19 de março de 2009

O Inferno

No Haaretz: crimes de guerra, racismo e brutalidade durante a operação 'Cast Lead' em Gaza.

A direita israelita desumanizou há muito os palestinianos: "we should kill everyone there [in the center of Gaza]. Everyone there is a terrorist."

Como dizia Woody Allen, a pergunta é sempre a mesma: para estes fanáticos, a vida de um judeu vale mais que a de um gentio?

Se é assim, será possível esperar que algum dia haja paz no Médio Oriente?

Um perigoso skinhead?...

Hoje descobri (no Público) que o Mário Machado vive com a mãe. A gente lê as notícias e dá ideia que se fala de criminosos perigosíssimos, membros de organizações complexas e sofisticadas com contactos internacionais, ligadas a redes de droga sinistras, com iphones, Mercedes, BMWs, casas no Lago Cuomo, reuniões de negócios no Liechtenstein, etc.

E afinal o chefe deles vive com a mãe!

terça-feira, 17 de março de 2009

Cadeiragate

Parece ter-se passado algo de gravíssimo durante a visita governamental a Cabo Verde: uma disputa pelo lugar à esquerda do Primeiro Ministro (português) entre uma jornalista da Renascença e o ministro Rui Pereira, num restaurante da Cidade da Praia.

No blogue da jornalista, afirma-se apaixonadamente que o ministro mandou um empregado de mesa «des-sentar» a jornalista para poder sentar-se, na cadeira dela, ao lado de Sócrates.

No mesmo blogue, o ministro Rui Pereira escreveu um comentário a defender-se, afirmando que o lugar estava vago e que o Primeiro Ministro o chamou.

Existe ainda uma terceira versão, segundo a qual Rui Pereira se sentou numa terceira cadeira apressadamente colocada entre Sócrates e a jornalista. Esta terceira cadeira, ao contrário das outras duas, seria branca.

Finalmente, esta última versão, segundo a jornalista, não será contraditória com a primeira, pois ela teria aguardado em pé para se sentar na cadeira que foram buscar.

Este assunto é de tal gravidade que o ministro deveria ser chamado ao parlamento para o esclarecer. Ou então, ser alvo de um inquérito parlamentar (não esquecer que a jornalista assegura que o «cadeiragate» é parte de uma estratégia de Rui Pereira para não ser remodelado «depois dos resultados vergonhosos que apresentou no combate ao crime»). No mínimo, o próximo «Prós e Contras» deveria ser dedicado a esclarecer este caso que, se não me engano, levará à demissão do ministro ou até do próprio governo.

Darwin: 200 anos (na Turquia)

O AKP censurou um artigo sobre Darwin e diz-se que despediu a editora da revista.

segunda-feira, 16 de março de 2009

As contradições de Obama

O Barack Obama tem as suas coisas boas. Por exemplo, conseguir explicar com clareza porque é que um argumento religioso é sempre um argumento fraco quando avançado para justificar políticas públicas.
  • «O que a nossa democracia deliberativa, pluralista, requer, é que aqueles que são motivados religiosamente traduzam as suas preocupações em valores universais e não específicos das religiões. A democracia exige que as propostas deles sejam sujeitas a argumento e tratáveis pela razão. Se eu sou contra o aborto por razões religiosas e quero passar uma lei banindo a sua prática, não posso simplesmente apontar para os ensinamentos da minha igreja ou invocar a vontade de Deus e esperar que esse argumento seja suficiente. Se quero que os outros me ouçam, então tenho que explicar por que é que o aborto viola algum princípio acessível a pessoas de todas as fés, incluindo aquelas sem fé alguma.» (Time, 2006)
E no entanto não aplica este princípio ao defender as «iniciativas baseadas na fé».

sexta-feira, 13 de março de 2009

A não-democracia europeia

O que se chama a uma entidade política em que a assembleia eleita pelos cidadãos não pode iniciar legislação, e onde a «câmara» que inicia legislação e decide quase tudo de substancial (como nomear o chefe do «governo») é não eleita, reune à porta fechada, e vota segundo um critério de «sindicato de voto nacional»?

O João Pinto e Castro considera a entidade descrita acima uma «democracia». Não há dúvida: o europeísmo é uma paixão que cega. Como todos os nacionalismos, aliás, particularmente os mais jovens e ainda artificiais.

Sejamos tolerantes com o fascismo e o crime, diz Ratzinger

Para se justificar da desexcomunhão dos lefebvristas, Ratzinger sai-se com esta:

  • «Poderemos nós simplesmente excluí-los, enquanto representantes de um grupo marginal radical, da busca da reconciliação e da unidade? E depois que será deles?»

É bonito. É aquela coisa cristã da abertura a todos, do criminoso ao violador, do pedófilo ao genocida, todos-mesmo-todos encontram a ICAR aberta, menos, evidentemente, as mulheres que abortam ou os homens que gostam de outros homens. Isso sim, é inadmissível.

Ratzinger diz-nos mais:

  • «Às vezes fica-se com a impressão de que a nossa sociedade tenha necessidade pelo menos de um grupo ao qual não conceda qualquer tolerância, contra o qual seja possível tranquilamente arremeter-se com aversão.»

Tem razão. Há coisas que serão sempre crime, em qualquer país e em qualquer língua: o homicídio, a violência gratuita, a selecção de grupos sociais para serem discriminados ou eliminados, etc… Espera lá. O nazismo fez isso tudo. Alguns fascistas gostariam de repeti-lo. Ratzinger acha que os deveríamos «tolerar»? A sério?

Sem mais comentários.

[Diário Ateísta]

Ratzinger afirma-se info-excluído; acredite quem tiver fé...

Sobre o caso Williamson, o Papa dos católicos explica-se assim:

  • «Disseram-me que o acompanhar com atenção as notícias ao nosso alcance na internet teria permitido chegar tempestivamente ao conhecimento do problema. Fica-me a lição de que, para o futuro, na Santa Sé deveremos prestar mais atenção a esta fonte de notícias

Portanto, quer convencer-nos de que, no Vaticano, ninguém tem acesso à internet. Os seus assessores só usam os computadores para escrever cartas e fazer tabelas de contabilidade. Não há empresas de telecomunicações que lhes façam contratos, muito menos rede sem fios em toda a «cidade» do Vaticano. Não há agências noticiosas do Vaticano na internet. O site do Vaticano deve ser pirata. O canal do Vaticano no youtube é no gozo. O do twitter também não existe.

Enfim, admito que Ratzinger seja info-excluído. Mas tentar convencer-nos de que não sabia nada sobre o extremismo político-religioso dos lefebvristas (que conhece há pelo menos 20 anos), e que ninguém em toda a Praça de S. Pedro e arredores usa a internet para se informar sobre religião, é tomar-nos por parvos.

[Diário Ateísta]

terça-feira, 10 de março de 2009

O valor das ideias

Devido à muita publicidade feita pelo autor que se encontra nas caixas de comentários deste blogue e de outros que vou acompanhando, acabei por tomar conhecimento do blogue «O valor das Ideias».
E bendita publicidade essa, pois fiquei muito satisfeito por conhecer esse blogue.

Os temas abordados são interessantes, as opiniões são expressas com clareza, bem fundamentadas, e, na minha opinião, sensatas. Mesmo as discussões nas caixas de comentários têm interesse e muitas vezes acrescentam informação relevante aos textos originais.

Alguns dos disparates defendidos pela blogosfera auto-intitulada «liberal» (em particular nos blogues «Blasfémias», «Insurgente» e «Causa Liberal») têm sido magistralmente denunciados, em textos que devem ser lidos por todos aqueles que têm interesse por economia ou política, que passo a enumerar:

A cor da verdade é o cinzento... (também II e III)

Defesa dos estímulos públicos no combate à crise com os argumentos dos ditos neoliberais

As falácias neoliberais a propósito de Barroso

A insistência nas falácias do neoliberalismo

Uma refutação do argumentário neoliberal usando as falácias do seu neoclacissismo e sua crendice mística na Escola Austríaca

Verdades e Mentiras sobre as Causas da Crise na Islândia

A inutilidade do debate com quem não quer ouvir

A coragem de uma ex-muçulmana

Há muitas maneiras de celebrar o Dia da Mulher. Em Oslo, uma ex-muçulmana queimou publicamente o hijab, talvez o maior símbolo de opressão das mulheres no mundo actual. Vejam o vídeo.

O discurso de Sara Rasmussen:

  • «A idade dos sonhos não acabou, a idade dos sonhos não acabou porque ainda há pessoas que sofrem, coloquemos hoje toda a nossa confiança no poder dos sonhos e permitam-me acender um fogo pela liberdade, pela igualdade, pelo amor e pela paz.»
  • Outro vídeo. Vejam o sorriso de Sara quando o véu pega finalmente fogo. É o sorriso de alguém que se libertou.

Sempre do lado certo

Mais outro artigo excelente no Ladrões de Bicicletas: "Um dos artigos mostra como o comércio livre foi responsável pela transferência sistemática dos custos da globalização para os assalariados - deflação salarial generalizada, aumento da precariedade, das doenças laborais e do sobrendividamento - e para o conjunto da sociedade - problemas ambientais crescentes, encargos cada vez mais regressivos para compensar o aligeiramento da carga fiscal que recai sobre as empresas e sobre os rendimentos do capital e desigualdades crescentes."

E depois querem «respeito»

O que é mais grave?
Violar uma enteada de nove anos, ou abortar o feto (de quinze semanas) resultante dessa violação?
De acordo com a «Igreja Católica Apostólica Romana», que em Portugal e pelo mundo fora se arroga uma autoridade especial em matérias «éticas», o mais grave é o aborto. A sério.
E são estes que depois dizem que querem «respeito». Vergonha na cara? Nenhuma.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Reconstruir

Discute-se nos Estados Unidos a criação de uma comissão especial para investigar os crimes da era Bush: as escutas ilegais, as buscas sem mandado, os raptos feitos por militares em território dos EUA, as detenções sem culpa formada, a tortura. Duvida-se, como é evidente, que altos funcionários dos EUA sejam responsabilizados em tribunal ou simplesmente impedidos de continuar a exercer cargos públicos (mas é isso que mereciam...). O debate, apesar do mau cheiro que vai saindo dos memorandos, é salutar.

Os EUA (e a Europa) perderam boa parte da sua autoridade ética durante estes oito anos (como se perde, todos os anos, com o arrastar do «beco-sem-saída» israelo-palestino). Tudo o que se faça agora será pouco: destruiram-se vidas, geraram-se antipatias e ressentimentos contra o «ocidente» que dificilmente serão reparados, e criaram-se monstros nos serviços de informações e nas forças armadas que se sentirão, sempre, justificados para repetirem as violências e as ilegalidades deste período (e que, um dia, esgotada a «guerra contra o terrorismo», poderão procurar as suas vítimas mais perto de casa).

Em Portugal, Ana Gomes merece todas as homenagens possíveis por ter defendido aquilo que é realmente precioso neste planeta: a civilização dos Direitos do Homem.

Para além das Montanhas da Loucura

O Parlamento português aprovou um voto de congratulação pela «canonização» de Nuno Álvares Pereira, um guerreiro do Portugal medieval que desde a 1ª República se tornou muito querido dos reaccionários, e que segundo uma seita religiosa teria «curado» (a partir do túmulo!) uma queimadela de óleo de fritar peixe (!).

Votaram contra o BE e o PEV. O PCP e a sua dissidente abstiveram-se, e o resto, pelo visto, são beatos ou aspirantes a beatos (incluindo o PS, claro).

É nestes momentos que tenho vontade de pedir asilo político na embaixada da França.

sábado, 7 de março de 2009

Azar

Quando comparamos os neo-liberais com crianças incapazes de compreenderem as consequências dos seus actos no medio e longo prazo - o chefe deles aqui nos EUA é um pequeno baleote chamado Rush Limbuagh, um drogado incapaz de se desintoxicar, incapaz de manter um casamento e incapaz de controlar o que come - eles lembram-nos que antes de criticar devemos ler o Tucidites e o Hayek.

Ainda não tive tempo de ler o Tucidites e não me imagino a perder tempo com o Hayek, e ainda não tive tempo de ler em pormenor a extraordinária estratégia escolhida por David Oddsson para atirar a Islândia contra uma parede, a 200Km/h, mas li um curto artigo numa Time, num aeroporto, que me deixou curioso. O colapso económico do México, o da Argentina, o da Islândia, os dos EUA no tempo dos robber barons, de Reagan e de Bush, todos têm uma coisa em comum: uma fé inabalável na justiça dos mercados e na honestidade dos CEOs das grandes empresas.

Será possível que o capitalismo selvagem não premeie os melhores entre nós, os que "fizeram as escolhas certas", os mais altruistas, honestos e dedicados, os que sabem o que é melhor para nós, como Bush, Kim Jong Blair e o simpático casal Barroso-Bolkestein nos prometeram?

:o)

Televisão americana

Há dois anos e meio resolvi desligar a televisão e ainda não me arrependi. Mas quase todos os sábados vejo os resumos dos comediantes, que são há 8 anos a consciência e a voz da razão neste país.

O mais inteligente de todos é John Stewart, que desmonta sistematicamente os argumentos da direita e demonstra brilhantemente as falácias dos imbecis que atiraram com este país extraordinário contra uma parede, talvez para sempre (espero que não) em apenas oito anos.

A última diatribe dele foi contra os jornalistas económicos: oito minutos em crescendo que acabam com um "f*** you!" a um milionário aldrabão e ao jornalista que o entrevistou. Absolutamente brilhante.

3:54 minutos deliciosos :o)

A sabedoria popular é muito útil para os pobres de espírito, porque repetir um ditado é muito mais simples do que pensar sobre a realidade: quatro pernas, bom, duas pernas, mau. Por esta razão os drs arrojas do mundo adoram meter os dedos nos ouvidos, fechar os olhos e repetir muitas vezes a máxima "privado, bom, público, mau". Este dogma de fé é frequentemente recitado com a expressão tonta e obstinada dos membros duma seita (por exemplo: a equipa editorial do blog "Blasfémias" ou os eternos garotos do PP), ou com a convicção inquietante das meninas da Manson Family (por exemplo: o António Borges).

Bill Maher fez ontem um discurso de quatro minutos, divertidíssimo, sobre este assunto das coisas públicas e privadas.

Divertidíssimo para quem percebe o que está em causa, não se recomenda a todos os idiotas que persistem em repetir o dogma de fé da direita: que as empresas privadas fazem tudo melhor do que o governo. Para quê baralhar-lhes as cabecitas ainda mais?

quinta-feira, 5 de março de 2009

O futuro abre as suas asas

Parecia futurista, há poucos anos, a possibilidade de seleccionar embriões sem doenças genéticas, ou de seleccionar a cor dos olhos ou do cabelo dos bebés. Já não é. Evidentemente, há quem se horrorize com a ideia e o seu «impacto social». Mas, a partir do momento em que é tecnicamente possível e há vontade de alguns pais, não tenho grandes dúvidas de que é uma questão de tempo até a prática se generalizar, dependendo apenas do número de interessados e do seu poder económico.

A globalização da justiça

Quando o braço da justiça começa a ser suficientemente longo para passar por cima da soberania dos Estados, e é emitido, por um Tribunal internacional e em nome dos Direitos do Homem, um mandado de captura contra um Presidente em funções, deu-se um passo significativo para estabelecer uma ordem mundial baseada na justiça. Começa a poder imaginar-se o dia em que os direitos de cada indivíduo deixarão de estar dependentes do capricho do tirano local, e serão garantidos em qualquer parte do mundo.

Pode imaginar-se. Mas só isso.

Porque, evidentemente, um poder jurídico internacional serve de pouco sem uma polícia internacional. Bashir só será detido se for apanhado num dos Estados que reconhecem o TPI (apesar de tudo, são 108). E uma polícia internacional é algo que, nesta fase, ninguém deseja. Até porque poderia começar a deter os senhores da CIA e congéneres (MI5, SIS, etc.) que andaram por esse mundo fora a torturar e a matar. Enquanto se trata apenas de um ditador africano cruel e sanguinário, estamos todos de acordo. Mas a globalização da justiça poderia ter consequências desagradáveis para alguns «ocidentais»...

terça-feira, 3 de março de 2009

Mercenários: a privatização do exército

A companhia Blackwater não viu renovado o seu contrato no Iraque. Não é de esperar que Obama consiga melhorar muito a situação criada por Bush, em que a guerra passou a ser uma oportunidade de negócio e as empresas de mercenários passaram a engolir o dinheiro dos contribuintes a um ritmo vertiginoso. A primeira empresa a sofrer parece ter sido a poderosa Blackwater.

A Guiné continua a ser a Guiné

Com a morte, anteontem, de Tagmé Na Waié, a Guiné Bissau matou o seu terceiro CEMGFA numa década. Provavelmente, um recorde digno do Guiness Book of Records. Com a morte, ontem, de Nino Vieira, a Guiné mostrou que é governada por uns senhores da guerra (e do narcotráfico?) que acreditam na violência enquanto garante de respeitabilidade social, e praticam impiedosamente a retaliação fora da lei.

Do lado de fora, a Europa e a União Africana nada dizem se houver eleições de vez em quando, ganhas sabe-se lá como, e no fundo nem interessa, porque quem manda são os militares.

O povo permanece um dos mais pobres do mundo. Outro recorde digno do Guiness.

Como se cria um Estado sobre uma manta de retalhos tribal sem petróleo nem apoios internacionais?

segunda-feira, 2 de março de 2009

O País Basco não é dos bascos

Pela primeira vez, o governo do País Basco poderá não ficar nas mãos dos nacionalistas indígenas. É uma boa notícia. A terra é de quem lá vive e trabalha, não de quem se arroga tê-la herdado por um critério etnicista, ou mantê-la através da chantagem, do crime e da violência.

Os anti-espanhóis militantes da lusa pátria não gostarão, com certeza, desta noite eleitoral. Mas a épica da resistência e do irredentismo bascos terá, um dia, que se pacificar, a bem de quem gostaria de viver sem bombas e pistoleiros. A outra parte do problema, o nacionalismo de Madrid, parece-me que já se moderou há uns tempos, e portanto não serve de desculpa.

domingo, 1 de março de 2009

Religulous

Vi ontem este filme deliciosamente divertido de Bill Maher, que saiu no dia 17 em vídeo. Quando saíu, em 2008, o filme tinha provocado nervos e comentários idiotas entre jornalistas, políticos e até críticos de cinema.

Religulous é um documentário divertidíssimo, mas muito sério. A pergunta dele é: como é que é possível que pessoas normais, equilibradas, razoáveis e funcionais acreditem em coisas tão delirantes? Como ele diz: "Claaaro!! O Pai Natal é uma história completamente idiota! Um homem com um trenó voador que deixa presentes em todas as chaminés do mundo à meia noite!! De doidos! Um Deus que ouve toda a gente a murmurar ao mesmo tempo, sim, isso é outra coisa. Faz imenso sentido! Qualquer pessoa percebe. O Pai Natal é para crianças!"

Todos deviam ver. Um crítico disse que mesmo os que não conseguem rir de si próprios deviam ver o filme e rir da religião dos outros. :o)

Os únicos minutos sérios são com o jornalista Ray Suarez (sempre justo, bem informado e digno), que cita algumas destas frases dos fundadores dos EUA:

The Government of the United States of America is not, in any sense, founded on the Christian religion

-George Washington

The Christian God is a being of terrific character- cruel, vindictive, capricious and unjust

-Thomas Jefferson

Christianity is the most perverted system that ever shone upon man.

-Thomas Jefferson

During fifteen centuries has the legal establishment of Christianity been on trial. What has been it its fruits? More or less, in all places, pride and indolences in the clergy, ignorance and servility in the laity in both, superstition, bigotry and persecution.

-James Madison

Lighthouses are more useful than churches.

-Benjamin Franklin

This would be the best of all possible worlds if there were no religion in it.

-John Adams

As I understand the Christian religion, it was, and is, a revelation. But how it has happened that millions of fables, tales, legends have been blended with both Jewish and Christian revelation that have made them the most bloody religion that ever existed.

-John Adams

Shake off all fears of servile prejudices, under which weak mines are servilely crouched. Fix reason firmly in her seat, and call on her tribunal for every fact, every opinion. Question with boldness even the existence of a God; because if there be one, he must more approve of the homage of reason than that of blindfolded fear.

-Thomas Jefferson

A versão em vídeo tem ainda cenas que foram cortadas e que vale imenso a pena ver, mesmo se estão cortadíssimas, como a entrevista às mulheres dum mormon. Aluguei e vi com os meus filhos, e acho que vou comprar uma cópia para emprestar aos amigos.

O PS acossado

A escolha de Vital Moreira como cabeça de lista do PS às eleições europeias representa uma (ligeira) viragem à esquerda do partido governamental.


Vital Moreira é um dos dois políticos portugueses verdadeiramente laicista (o outro é Fernando Rosas). Em tempos que já lá vão, era o rosto da sucessão de Cunhal no PCP - uma sucessão que significaria renovação, e não estalinização. E foi um juiz do Tribunal Constitucional com decisões que fizeram história. Em tempos recentes, deu a cara pela despenalização da IVG. Em tudo, um democrata e um militante de esquerda como há poucos.


Verdade se diga, Vital Moreira é hoje um indefectível do socratismo. E tão europeísta que facilmente se o imagina a ir à praia com a bandeirinha das doze estrelas sobre fundo azul estampada na t-shirt. Portanto, acho que não vou contar com ele para eliminar da Constituição europeia os artigos clericais que, no seu europeísmo cego, teima em não ver. Muito menos para reorientar a UE num sentido menos neoliberal. Já nem falo de referendar qualquer Tratado, hipótese que ele abomina.


Mas, claramente, o PS sente-se hoje acossado pela esquerda, que o incomoda e que tenta suprimir suavemente há mais de trinta anos (sem qualquer sucesso). Resta saber o que está o PS disposto a ceder para conter esse crescimento.