sábado, 28 de fevereiro de 2009

Entre eles...

Aqui no sul profundo vou-me divertindo a ver a direita às voltas com a realidade. Depois de 8 anos em que o eleitorado lhes deu tudo (presidente, congresso e senado) quase todo o tempo, a direita americana vive num pesadelo.

Como todos os membros de seitas, os americanos conservadores estão perdidos e humilhados. As profecias não se realizaram e os deuses e os líderes por quem eles se prejudicaram e por quem renunciaram às coisas boas da vida foram apanhados a mentir e a roubar, com a calosidade miserável dos sociopatas. Milhares de americanos perderam filhos nesta guerra irracional, milhões perderam o emprego, a casa, as poupanças, a reforma e a esperança, e parece-lhes cada vez mais impossível continuar a enterrar a cabeça na areia e a repetir, como a determinação autista que os caracteriza "W is a good man".

E agora? A arrogância e os insultos não funcionam porque os democratas têm o poder por quatro anos. A menos que haja uma catástrofe.

Os defensores do neo-liberalismo defendem-se como podem, com argumentos patéticos e desculpas manhosas. Lembram-nos os quiromantes e vedores do documentário de Dawkins. Não pode ser, acham eles. Mas é verdade: o mundo está mais pobre, mais sujo, mais violento, mais triste e mais injusto depois de 8 anos de governo por um presidente evangélico que falava com Jesus todas as tardes.

E agora? Damos uma oportunidade ao racionalismo? Parece que não! Como os idiotas que se prepararam para o fim do mundo em 1999 e que agora andam a dizer que o fim do mundo é em 2012 (uma profecia Maia...), os mamíferos do Partido Republicano ainda não estão convencidos...

Não há cura para a espécie humana.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Pensei que estivesse a ler mal

A companhia aérea Ryanair vai passar a cobrar uma libra por cada xixizinho feito a bordo. São as maravilhas do neoliberalismo: preferem que os clientes façam xixi nas calças ou no banco do avião do que permitir que façam o seu xixizinho, livremente, na sanita do avião. Ainda hão-de cobrar uma taxa por respirarmos, ou por ressonarmos durante o voo, ou por soltarmos gases.

Aos neoliberais que dizem que o Estado é que é opressivo, gostaria de perguntar se se não se trata de uma situação de abuso de monopólio da única-casa-de-banho-a-10-mil-metros-de-altitude?

Obama

Ler as notícias nos EUA deixou de ser uma coisa deprimente, como era nos últimos 8 anos (10, se contarmos a histeria anti-Clinton).

Obama vai acabar com os assaltos da polícia às casas dos doentes cancerosos que fumam marijuana.

A administração Bush demonstrou um prazer evangélico em prender cancerosos que fumavam uma broca para aliviar as dores ou ter fome e sede a seguir (está provado que o uso de marijuana está associado ao aumento de peso dos pacientes).

E acabou a censura sobre as imagens dos soldados mortos no Iraque.

E acabou o bloqueio às organizações internacionais que faziam planeamento familiar.

Todos os dias ouvimos mais duas ou três boas notícias! :o)

Em defesa do bispo Williamson


Eu adoro padres assim, prontos a resolverem as diferenças aos socos e aos pontapés. Assim é que é. Não há nada mais deprimente do que uma organização violenta e sádica como a ICAR, que se deleitava em torturar e queimar pessoas até ao fim do século XVIII, sempre a falar de "amor pelo próximo", de "dar a outra face", "amar os inimigos", ou "perdoar a quem nos ofende".

Pelo menos este não anda pelos cantos, como as baratas, untuoso, a conspirar.

Não há nada mais saudável do que um padre a defender abertamente a violência doentia que caracteriza a ICAR e sobre a qual a fortuna escandalosa do Vaticano se funda!

Acho que o bispo Williamson merece um aplauso de pé por dizer o que pensa e assumir abertamente o anti-semitismo troglodita da ICAR.

A ICAR odeia os judeus com um ódio irracional e venenoso, e já nem sabe porquê. Este bispo troglodita também não sabe, mas ao menos assume e declara-se pronto a resolver as diferenças de opinião à bruta.

Uma vez, há muitos anos, ofereci um soco a um padre que me queria tirar a máquina fotográfica porque eu tirei uma fotografia numa igreja, em Cuzco, no Peru. Foi uma experiência muito libertadora tratá-lo como um ser humano como os outros e dizer-lhe que se tocásse na minha máquina levava um abrunho.

Os padres fazem barbaridades horríveis: chibam-se com os segredos da confissão às polícias secretas, violam meninos de coro, apoiam ditadores sanguinários, abusam das paroquianas, mentem aos paroquianos, fazem propaganda eleitoral, roubam os contribuintes, etc., e depois escondem-se atrás dum discurso de paz, fé, esperança e caridade. :o)

Este ao menos é homenzinho e assume que é nazi.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Williamson expulso da Argentina

O bispo negacionista Williamson abandonou a Argentina. Regressou ao Reino Unido, país de que é nacional. Williamson é hoje um herói das organizações de extrema-direita e neo-nazis.

No aeroporto, dois elementos da sua guarda pessoal agrediram um jornalista, enquanto o próprio Williamson os ameaçava com o punho.

A polémica, para além de mostrar o anti-semitismo que persiste nos sectores católicos tradicionalistas de que Ratzinger se escolheu aproximar, evidenciou também as ligações da Fraternidade São Pio X à ditadura militar argentina. Em 1976, Lefebvre elogiou a ditadura argentina como «um governo de ordem, que tem princípios». Em 1977, reuniu-se com o ditador Videla, que lhe facilitou a instalação no país da sua organização. Os lefebvristas viriam a ter um acesso privilegiado às forças armadas argentinas. Recorde-se que a ICAR argentina colaborou proximamente com a ditadura militar, havendo mesmo o caso de um padre que colaborou na tortura de presos políticos, e que foi posteriormente protegido pela hierarquia da ICAR. Depois de detido (numa paróquia remota do Chile) seria condenado a prisão perpétua. Sabe-se também que a Fraternidade São Pio X deu asilo, em França, ao criminoso de guerra fascista Paul Touvier.

Williamson não deseja, visivelmente, qualquer reconciliação com Roma, para ele um antro de comunistas e mações. Roma também não deseja Williamson, que se tornou incómodo. A própria Fraternidade São Pio X ganhará em desembaraçar-se de um homem que diz em voz alta o que costumam dizer em privado. A solução, portanto, deverá ser a marginalização de Williamson.

Como o Diário Ateístaanunciara no verão de 2005, Ratzinger tem uma postura de abertura à extrema-direita. Presumivelmente, deseja uma ICAR mais coesa (mais radical), e se isso implicar a diminuição do número de católicos, pouco lhe importa. Resta saber como lidará com o anti-semitismo de outras figuras da Fraternidade São Pio X, como Tissier de Mallerais.

Williamson tem o seu próprio blogue.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

O Papa «ultra-reaccionário»

É um escritor católico quem o diz:
  • «The overall direction of Benedict's papacy is now apparent for all Catholics to see. It was customary to characterise Joseph Ratzinger as a "conservative" during the decades he served as the Vatican's theological watchdog. In the light of recent events, "ultra-reactionary" might be too tame an epithet to describe the alliances he is forming with a politically obnoxious group which, given half a chance, would return the Church to the authoritarian auspices of their sainted patron, Pius X.» (John Cornwell)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O século XXI...

Na semana passada recebi aqui um email sobre o Salazar e a ponte sobre o Tejo e mais não sei o quê, que ele era honesto e que morreu pobre (e a criada dele ainda mais...)

Acho que até lhe fizeram um website.

E hoje estava aqui a (re)ver o "Ludwig" do Visconti e a pensar que a seguir à segunda guerra mundial o Ocidente teve 50 anos de paz, democracia, abundância, liberdade e justiça, mas que foram 50 anos sem paralelo na história do planeta.

O normal tem sido a populaça a levar pontapés e a pagar o forróbódó permanente das classes altas e dos cleros que as amparam. Como ainda acontece na Arábia Saudita, no Irão, na Nigéria, no Brasil...

Tudo pesado, acho que o Sr. Duarte e o Dom Policarpo até têm a História do lado deles.

O povo é sereno e com 'A Bola' todos os dias, uns fadinhos volta e meia, e Fátima três vezes por ano (para pagar as promessas, que Deus é generoso com os miseráveis e tende a fazer imensos quando o clero está no poder), vive no céu.

...e a santa da ladeira ou o Paulo Cardoso, para quem não gosta de banhos de multidão.

A verdade é que há imensa gente que não tem coragem para assumir responsabilidades e que se atrapalha quando não tem um chefe que lhe diga o que deve e não deve fazer, quem são os 'bons' e quem são os 'maus', ou o que é bonito e o que é feio. E são os que se regalam a ler as colunas sociais. Basta cortar-lhes na informação e na educação e eles tornam-se na maioria...

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Vem aí a «desestruturação»!

Os bispos portugueses da ICAR publicaram o seu mui aguardado documento teórico sobre o casamento entre homossexuais.

Essencialmente, dizem-nos que o casamento «desestrutura» a sociedade. Ou seja, pessoas do mesmo sexo poderem casar-se, assumirem jurídicamente deveres mútuos, comprometerem-se a sustentarem-se um ao outro, a partilharem propriedades e dificuldades, seria «desestruturante». Curiosamente, sempre pensei o contrário: que a assunção de deveres e responsabilidades seria estruturante, sinal de maturidade e integridade. Os bispos discordam.

Porquê? Aparentemente, porque acham que a «base antropológica da família» seria a «complementaridade dos sexos». Bom, enganaram-se no adjectivo e num substantivo: suponho que queriam dizer que a base biológica da reprodução é a procriação sexuada. Ou seja, só há reprodução com um espermatozóide (macho) e um óvulo (fêmea). Mas os bispos não gostam de ciêncas da natureza. E por isso divagam e atribuem à antropologia o que é da biologia. Porque, antropologicamente, já houve de tudo. Desde haréns com um macho dominante, até filhos criados comunitariamente pela mãe, irmãs e avós, passando pela mulher propriedade do homem, até ao actual casal igualitário. Querem proibir mais uma variação, na era da procriação assistida e das famílias recompostas? Ridículo.

Note-se também que não explicam como é que a existência de mais um tipo de família iria «desestruturar» os outros tipos de família. Se os vizinhos gueis do 2º esquerdo se casarem, os heterossexuais do terceiro andar vão divorciar-se? Não se entende a relação.

Finalmente, os senhores bispos acham que fazer uma lei é «alterar» a «antropologia». Que exagero. As pessoas fazem o que querem. Cada vez se reconhece mais que é assim que deve ser. São as alterações no modo como as pessoas vivem que levam a alterações legais. Pretender que as leis impeçam as alterações sociais é segurar uma inundação com as mãos. E é isso que os bispos parecem querer fazer. E se deixassem as pessoas escolher?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Não se paga! Não se paga!

Obama está a investigar 52.000 potenciais ladrões e mentirosos que querem ser americanos, fruir tudo o que o país lhes proporciona, mas não querem pagar impostos.

Depois de 8 anos ignóbeis, haver honra e justiça na Casa Branca é um prazer, todos os dias. :o)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Bentinho e as senhoras...

O papa Bento 'eu odeio mulheres' XVI lá teve de receber a Nancy Pelosi, Speaker of the House e terceira pessoa mais importante do governo americano.

Todo torcido, lá a recebeu e aproveitou para lhe dizer que o aborto é um crime (não lhe podia dizer a verdade: que para ele a sexualidade das mulheres é um crime - a pílula, os preservativos, o sexo fora do casamento, a masturbação, a pílula do dia a seguir, o aborto, são uma sequência de pretextos contra uma coisa que ele não pode suportar, e essa coisa é a sexualidade feminina).

Mas enfim, é divertido ler estas coisas. A ICAR odeia o Partido Democrata com paixão e fez abertamente campanha por Bush em 2000 e 2004, e por McCain em 2008. Assim, não houve jornalistas nem fotografia oficial. O papa deu-lhe 15 minutos, despachou-a e depois declarou qualquer coisa sobre o facto de Nancy Pelosi ser pro-escolha.

E ela encantada, fez imensas declarações, disse que os católicos americanos são maioritariamente democratas (uma coisa que enfurece este papa e desacredita os bispos todos que fizeram declarações a favor de Bush e se negaram inclusivamente a dar a comunhão a John Kerry) e que adorou a visita.

O papa deve ter tomado remédios para a azia sem parar durante os 4 ou 5 dias da visita.

Deve ser uma vida muito triste, sempre a querer reprimir os outros (em vão), a meter o nariz na cama e na casa de banho dos cidadãos, a dar ordens, a apontar as coisas más e a emitir proibições. Deve ser horrível ser papa. Imagino que nem o luxo imoral em que os papas vivem deve compensar as frustrações de se saberem ignorados pelo mundo e usados por políticos que se estão nas tintas para eles.

Tontos

Os republicanos conseguiram, em 8 anos, passar a dívida de 5 para 10 triliões de dólares. De 1783 a 2000 a dívida cresceu de zero até 5 triliões. De 2000 a 2008 os neo-liberais duplicaram a dívida, ao mesmo tempo que destruíam a economia, a paz, a dignidade e o ambiente à escala planetária.

"Nós fazemos a nossa realidade", dizia Kristol. Afinal parece que não.

Mas apesar da tragédia destes últimos 8 anos é impossível explicar-lhes que a culpa foi deles. Impossível. Quando se começa a falar com eles desatam a repetir chavões contra 'o socialismo' (lembram-se das 'amplas liberdades' do Cunhal?) e não conseguem pensar. Ficam encarnados, seca-lhes a baba nos cantos da boca, levantam a voz, dizem que os 'liberais' são traidores.

Por um lado percebe-se. Para os cleptocratas a cleptocracia é um regime político formidável. Mas por outro lado, a perspectiva de uma populaça ignorante, fundamentalista, desempregada, com frio e com fome, e armada até aos dentes, não me parece uma alternativa muito melhor ao que eles chamam 'socialismo'.

Vamos a ver, mas eu continuo a achar que os neo-liberais são um bocado tontos.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Em defesa dos direitos dos «anormais»

O cardeal Saraiva Martins diz que «a homossexualidade não é normal». Talvez não seja: é, sem dúvida, extremamente minoritária (5%?). Todavia, Saraiva não se justifica com o número. Diz-nos que é «anormal» porque um livro antigo fala de alguém que criou «homem» e «mulher», sem referência a gueis ou lésbicas. Tudo bem. Eu conheço o livro, e garanto que também nada diz de concreto sobre o celibato sacerdotal. É esse facto suficiente para chamarmos «anormais» aos sacerdotes celibatários?

De qualquer modo, é irrelevante que seja «normal» ou não. As pessoas têm o direito de sairem da norma, desde que isso não prejudique outrém. O Saraiva Martins também deve achar, creio eu, que o casamento entre divorciados, ou entre pessoas estéreis, é «anormal». Mas a questão certa não é essa. As questões certas são outras: prejudica-o? Afecta os seus interesses ou os do conjunto da sociedade? Não? Antes pelo contrário? Então, é bem. O mesmo para os casamentos entre homossexuais.

Sim, o casamento discrimina

É evidente que o casamento discrimina os casados face aos solteiros. Justamente por discriminar, não deve ser discriminatório. Os homossexuais devem poder casar-se (entre si), justamente por essa razão.

O casamento discrimina de diversas formas: quem casa fica obrigado a não deixar cair o outro cônjuge na miséria (obrigação que se mantém mesmo após o divórcio, creio eu); quem casa designa automaticamente um herdeiro potencial, situação discriminatória por excelência; e quem casa delega na sua cara-metade a possibilidade de o representar em actos jurídicos e reuniões da comissão de pais. Porque não hão de poder os homossexuais (de ambos os géneros) discriminar a pessoa da sua escolha, conferindo-lhe esses privilégios?

É mera questão de igualdade.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Sobre os crimes de colarinho branco

No livro Freakonomics existem vários episódios interessantes.
Relato um deles de seguida:

«The bagels had begun as a casual gesture: a boss treating his employees whenever they won a new research contract. Then he made it a habit. Every Friday, he would bring half a dozen bagels, a serrated knife, some cream cheese. When employees from neighboring floors heard about the bagels, they wanted some, too. Eventually he was bringing in 15 dozen bagels a week. He set out a cash basket to recoup his costs. His collection rate was about 95 percent; he attributed the underpayment to oversight.

[...]

He had also -- quite without meaning to -- designed a beautiful economic experiment. By measuring the money collected against the bagels taken, he could tell, down to the penny, just how honest his customers were. Did they steal from him? If so, what were the characteristics of a company that stole versus a company that did not? Under what circumstances did people tend to steal more, or less?

As it happens, his accidental study provides a window onto a subject that has long stymied academics: white-collar crime. (Yes, shorting the bagel man is white-collar crime, writ however small.) Despite all the attention paid to companies like Enron, academics know very little about the practicalities of white-collar crime. The reason? There aren't enough data.

A key fact of white-collar crime is that we hear about only the very slim fraction of people who are caught. Most embezzlers lead quiet and theoretically happy lives; employees who steal company property are rarely detected. With street crime, meanwhile, that is not the case. A mugging or a burglary or a murder is usually counted whether or not the criminal is caught. A street crime has a victim, who typically reports the crime to the police, which generates data, which in turn generate thousands of academic papers by criminologists, sociologists and economists. But white-collar crime presents no obvious victim. Whom, exactly, did the masters of Enron steal from? And how can you measure something if you don't know to whom it happened, or with what frequency, or in what magnitude?

[...]

He is 72, and his business is still thriving. (Thus his request to mask his full name and his customers' identities: he is wary of potential competitors poaching his clients.) His daughter, son-in-law and one other employee now make most of the deliveries. Today is a Friday, which is the only day Paul F. still drives. Semiretirement has left him more time to indulge his economist self and tally his data. He now knows, for instance, that in the past eight years he has delivered 1,375,103 bagels, of which 1,255,483 were eaten. (He has also delivered 648,341 doughnuts, of which 608,438 were eaten.)


[...]

In the real world, Paul F. learned to settle for less than 95 percent. Now he considers companies ''honest'' if the payment is 90 percent or more. ''Averages between 80 percent and 90 percent are annoying but tolerable,'' he says. ''Below 80 percent, we really have to grit our teeth to continue.''

[...]

He has identified two great overriding predictors of a company's honesty: morale and size. Paul F. has noted a strong correlation between high payment rates and an office where people seem to like their boss and their work. (This is one of his intuitive conclusions.) He also gleans a higher payment rate from smaller offices. (This one is firmly supported by the data.) An office with a few dozen employees generally outpays by 3 percent to 5 percent an office with a few hundred employees. This may seem counterintuitive: in a bigger office, a bigger crowd is bound to convene around the bagel table -- providing more witnesses to make sure you drop your money in the box. (Paul F. currently charges $1 for a bagel and 50 cents for a doughnut.) But in the big-office/small-office comparison, bagel crime seems to mirror street crime. There is far less crime per capita in rural areas than in cities, in large part because a rural criminal is more likely to be known (and therefore caught). Also, a rural community tends to exert greater social incentives against crime, the main one being shame.

[...]

Executives, Feldman discovered, also tended to be more dishonest about paying than lower-ranked employees. Delivering bagels to three different floors that comprised the executive, administrative and sales departments, Feldman found that the executive floor had a lower payment rate than the other floors. This could be due either to executives having an over-developed sense of entitlement to things (including bagels) or maybe because cheating was how they got to be executives in the first place.»

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Pastiche anti-darwinista

  • «Os sentidos da história pululam por tudo quanto são parcelas de ciência, filosofia e ideologia. Até parece a alguns que não fica espaço nenhum para o sentido da fé teológica cristã. (...) Sobretudo não podemos embarcar num louvor tão acrítico que possa levar a uma transposição da teoria darwiniana para todos os campos do real. Tal já aconteceu. (...) O evolucionismo ideológico apresenta os dados científicos para tirar conclusões ideológicas em série que não têm ligação científica com esses dados nem com as intenções de Darwin. Como são, tudo é obra do acaso, logo, não há Deus, nem Ele criou nada; logo, tudo sucede sem sentido “recebido”; logo, o marxismo-leninismo ateu está justificado (...) Hoje os perigos espreitam mais no que resta do darwinismo social e, sobretudo, na nova coqueluche que é a evolutionary psychology. Já para não falar da forma como um certo darwinismo popularizado inspirou e inspira a racionalização do capitalismo. (...) » (1,2)

Darwin

Darwin fez hoje 200 anos e eu dei 20 minutos aos meus alunos, antes de começar a aula, para comemorarmos e discutirmos esta questão importante, da diferença entre factos e opiniões, entre ciência e religião.

E descobri que tenho uma turma excepcional! :o)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Ratzinger recentrado

Ratzinger conhecia a Fraternidade São Pio X e os seus (ir)responsáveis bispos, quanto mais não fosse porque foi ele próprio que, há duas décadas e enquanto prefeito da «Congregação para a Doutrina da Fé», tentou impedir o afastamento destes católicos tradicionalistas. Sabia portanto o que estava a fazer. Pode não ter adivinhado todas as consequências, mas sabia quem eram, e o que pensam, as ovelhas que voltariam ao redil.

Portanto, a verdadeira questão é o porquê destas re-comunhões. A resposta mais óbvia é que considera os católicos tradicionalistas parte da sua ICAR, da igreja que imagina e que deseja. E as opiniões políticas e históricas dos lefebvristas, provavelmente, não o chocam intimamente por aí além. Outra resposta é que Ratzinger deseja criar um contrapeso aos «católicos progressistas». E está a consegui-lo. Por compreender isto, Hans Kung pede a demissão do Papa e Leonardo Boff chama-lhe «pastor medíocre» e «politicamente desastrado», e sugere também o afastamento de Ratzinger. Para azar deles, Ratzinger parece preferir uma ICAR mais pequena mas mais coesa.

Nota final: Williamson não é o único anti-semita dos bispos reintegrados. Outro desses bispos, Tissier de Mallerais, já proclamou que «os judeus são os mais activos artesãos da vinda do anti-Cristo». Esse mesmo Mallerais já anunciou a intenção dos lefebvristas de «converter Roma». (E o próprio Lefebvre era crente no «complô judaico-maçónico-comunista».)

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Arredai!

Desde o Concílio Vaticano 2º que a ICAR aceita a laicidade no sentido da autonomia «administrativa» do Estado perante as igrejas (mas só porque insistimos muito, mesmo muito, durante séculos) mas, todavia, continua sem aceitar a laicidade no sentido da autonomia ética da sociedade perante a cultura cristã. Os mais mediáticos dos conflitos contemporâneos entre política e religião, da legalização da IVG aos casamentos entre homossexuais, têm aqui a sua origem.

A laicidade, ao contrário do que argumentam equivocadamente os clericais, não é simples «autonomia administrativa», ou seja, separação entre registo civil e ficheiros canónicos, entre poder democrático e cargos de nomeação do Vaticano, entre receitas públicas e remunerações do clero. É também a distinção entre regras legais para todos, e conceitos morais para os que são religiosos.

A ICAR tem todo o direito de não casar homossexuais. Tem também o direito de os excomungar. Já duvido de que tenha o direito de despedir alguém a quem pague salário - por esse alguém ser homossexual.

A laicidade garante a liberdade de expressão para todos. Até para os que gostariam de a restringir, ou que a ela se opuseram historicamente. A ICAR pode portanto bradar contra os casamentos entre homens, ou entre mulheres, ou entre pessoas estéreis. Está no seu direito. Como nós estamos no nosso ao criticar os argumentos apresentados e a sua fundamentação. Por exemplo, que «detrimento» resulta para as famílias existentes do reconhecer-se novos tipos (legais) de família? Ou qual será o prejuízo para a «crise» de uma medida legislativa que cria novas famílias? Ou ainda, porque será a «família homossexual» mais «antropologicamente errada» do que o celibato? Finalmente, será que não compreendem que o que se deve mesmo dizer às novas gerações é que «sejam o que quiserem»?

Evidentemente, tudo isto me parece pouco relevante. Apesar de se anunciarem indicações de voto especificando os partidos políticos «catolicamente correctos», já vai sendo tempo de ignorar a ICAR nestes debates. Nos dois referendos sobre a IVG, mostraram a sua inigualável capacidade de envenenar o debate público com panfletos terroristas, imagens sanguinolentas, manipulação de crianças, abuso das plataformas públicas que lhes oferecem (geralmente, para outras finalidades) e, não esquecer, as atoardas sobre as famigeradas «leis naturais». Querem fazê-lo em eleições legislativas? Se sim, convém recordar que há limites legais às intervenções de sacerdotes em campanhas eleitorais. Mas o melhor é mesmo arredarem, porque já não há pachorra.

A terminar, não posso deixar de registar como uma novidade positiva as declarações de dirigentes do PS sobre este assunto. Não vi a mesma clareza aquando dos referendos à IVG. Só falta que Pedro Silva Pereira diga que a ICAR não deve meter o bedelho nesta questão. Mas não deve tardar, penso eu...

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

Eutanásia e suicídio assistido: o debate que se inicia

É sem dúvida surpreendente que, num partido tão conservador como o PS, haja deputados dispostos a iniciarem um debate difícil como o da regulamentação legal da eutanásia e do suicídio assistido.
Confundem-se frequentemente diversas questões, subsumidas sob as designações de «direito a morrer», «eutanásia» e «suicídio assistido». Há que distinguir:
  1. A situação do tetraplégico ou do doente oncológico terminal, que deseja conscientemente pôr termo à vida, mas que está impossibilitado de o fazer por falta de meios próprios;
  2. A situação do paciente em coma irreversível ou em estado vegetativo, portanto sem consciência.

Há também que distinguir, no segundo caso, as situações em que se pára o tratamento (eutanásia passiva) daquelas em que se fornece uma substância letal (eutanásia activa). Finalmente, há que distinguir também, na mesma situação, as situações em que existe um «testamento vital» daquelas em que o indivíduo não deixou instruções.

Que dizem os autores e leitores deste blogue?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Revista de blogues (10/2/2009)

  1. «No dia 13 de Novembro de 2008 o supremo tribunal Italiano autorizou o pai de Eluana a terminar a alimentação artificial e deixar o resto da filha morrer. Mas esta decisão foi oposta pela Igreja Católica. É uma organização de princípios que não pode permitir que os desejos da paciente e os sentimentos da família se sobreponham ao poder da Igreja. No passado dia 6, o governo de Berlusconi, contra a recomendação do presidente Giorgio Napolitano, assinou um decreto proibindo que se interrompa a alimentação e hidratação artificiais a pacientes que disso dependam, quaisquer que sejam as circunstâncias. Segundo Berlusconi, a medida justifica-se porque Luana «poderia, em teoria, ter um filho»(1). A Igreja Católica pressionou o governo de um país democrático a alterar a lei só para prolongar o sofrimento absurdo de uma família e inchar o ego de alguns líderes religiosos. É o que acontece quando se esquece que a ética é respeitar as pessoas e se vai na cantiga de quem diz ter um amigo imaginário caprichoso.» (Que Treta!)
  2. «Os senhores cardeais e os senhores bispos, incluindo obviamente o papa que os governa, não andam nada tranquilos. Apesar de viverem como parasitas da sociedade civil, as contas não lhes saem. Perante o lento mas implacável afundamento desse Titanic que foi a igreja católica, o papa e os seus acólitos, saudosos do tempo em que imperavam, em criminosa cumplicidade, o trono e o altar, recorrem agora a todos os meios, incluindo o da chantagem moral, para imiscuir-se na governação dos países, em particular aqueles que, por razões históricas e sociais ainda não ousaram cortar as sujeições que persistem em atá-los à instituição vaticana. Entristece-me esse temor (religioso?) que parece paralisar o governo espanhol sempre que tem de enfrentar-se não só a enviados papais, mas também aos seus “papas” domésticos. E digo ainda mais: como pessoa, como intelectual, como cidadão, ofende-me a displicência com que o papa e a sua gente tratam o governo de Rodriguez Zapatero, esse que o povo espanhol elegeu com inteira consciência. Pelos vistos, parece que alguém terá de atirar um sapato a um desses cardeais.» (O Caderno de Saramago)

Estudos de Felicidade

Como medir a felicidade de uma população?
A resposta óbvia poderia ser "perguntando às pessoas". Mas as objecções são igualmente óbvias: as pessoas podem não responder aquilo que verdadeiramente sentem, podem não saber aquilo que verdadeiramente sentem, ou podem exprimir de forma diferente aquilo que sentem.

No entanto, pedindo para classificar o nível de bem estar numa escala de 1 a 10, as respostas dadas pelos sujeitos correlacionam-se com:

1. Objective characteristics like unemployment.
2. The person’s recall of positive versus negative life-events.
3. Assessments of the person’s happiness by friends and family members.
4. Assessments of the person’s happiness by his or her spouse.
5. Duration of authentic or so-called Duchenne smiles (a Duchenne smile occurs when both the zygomatic major and obicularus orus facial muscles fire, and human beings identify these as ‘genuine’ smiles).
6. Heart rate and blood-pressure measures responses to stress, and psychosomatic illnesses such
as digestive disorders and headaches.
7. Skin-resistance measures of response to stress
8. Electroencephelogram measures of prefrontal brain activity.*

O facto destas correlações serem significativas dá-nos razões adicionais para prestar atenção aos diferentes inquéritos que são feitos em todo o mundo a este respeito.

Às vezes é dito que apesar de todo o desenvolvimento social e económico, países como a Suécia, o Canadá, a Filândia têm elevadas taxas de suicídios. Por vezes pretende-se com esta observação defender que a prosperidade e a coesão social que caracterizam estes países não são importantes para a felicidade das pessoas.
No que diz respeito às taxas de suicídio, a história não está bem contada.

Independentemente disso, de acordo com os inquéritos acima descritos, a Filândia, a Suécia, o Canadá, a Nova Zelândia estão entre os países «mais felizes» do mundo.
Afinal, ter um elevado índice de desenvolvimento humano, uma sociedade solidária e justa, parece valer a pena.

*Tirado de «MONEY, SEX AND HAPPINESS: AN EMPIRICAL STUDY» de David G. Blanchflower e Andrew J. Oswald.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A Criação na National Public Radio

Não ouvi o programa, mas só Dawkins (este ano comemoram-se 200 anos do nascimento dele e 150 da publicação do livro) é que trata os idiotas pelo nome. Os outros cientistas andam todos com paninhos quentes, para não insultarem os talibans evangélicos...

E os talibans aos berros, que o mundo tem 6 mil anos, que eles também são cientistas... que os astrónomos, os químicos, os físicos e os biólogos são todos estúpidos, perversos e niilistas.

Richard Dawkins é o único cientista que lhes diz na cara que a imagem que eles têm do mundo é perfeitamente infantil.

Eu adorava saber se esta campanha do autocarro também inclui autocolantes para os nossos carros, ou t-shirts... aqui na república de Jesus (onde me arrancam o peixe que diz Darwin da parte de trás do carro sempre que podem) era divertido ter um autocolante desta campanha.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

A evolução de Fátima

Foi colocado no arquivo da Associação República e Laicidade um ensaio sobre Fátima publicado, em Dezembro, pela revista L´Idée Libre: «Fátima e a transformação do catolicismo português». O artigo descreve a evolução de Fátima, da manifestação anti-republicana de 1917 ao actual «centro comercial da fé», passando pelo santuário anticomunista do Estado Novo.

Resumo: «As «aparições» de Fátima, entre 13 de maio e 13 de outubro de 1917, nasceram em reacção ao laicismo da República e nas circunstâncias da 1ª guerra mundial, mas o culto e o santuário ali instalados adaptaram-se facilmente ao regime reacionário de Salazar, designadamente ao seu anticomunismo, e constituem hoje o coração do catolicismo português, que seria inimaginável sem Fátima e o seu capital simbólico e financeiro».

Conclusão: «O catolicismo português, religião oficial do Estado até 1910, substituiu o apoio estatal pelo apoio na crença na visita a Portugal de uma figura celestial».

Da bibliografia consultada, foi-me particularmente útil «As "aparições de Fátima" - Imagens e Representações», de Luís Filipe Torgal (editado pela primeira vez pela Temas e Debates em 2002), na minha opinião o estudo histórico mais sério e sistemático, actualmente existente, sobre a maior aldrabice do século 20 português.

Guardado também no meu arquivo pessoal.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O problema chama-se União Europeia

A (aparente) xenofobia dos trabalhadores britânicos chocou muitos portugueses. No entanto, a raiz do problema é a União Europeia, que através dos seus múltiplos tratados criou a famosa «liberdade de circulação» que permite às empresas contratarem trabalhadores para um país de acolhimento pagando salários (e até impondo as regras contratuais) dos países de origem. O que se passa com os trabalhadores portugueses, extrapolado, é semelhante ao que se passaria se as empresas portuguesas contratassem cabo-verdianos ou ucranianos pagando-lhes o salário dos países de origem. A nossa «maravilhosa» UE permite que se faça isso mesmo. Só que os cabo-verdianos do Reino Unido são portugueses.
A lição é a mesma de sempre: liberdade sem igualdade pode ser, muitas vezes, o direito do mais forte a oprimir o mais fraco. E foi isso que a UE instituiu com a sua liberdade de circulação sem iguais direitos laborais num continente com grandes disparidades salariais.

Obama não cumpre

Conforme previsto à data da eleição, Barack Obama mantém no essencial as políticas de apoio às «faith-based initiatives» da era Bush. Mas, ao contrário do que prometera em campanha, serão financiadas até as organizações de assistência social que discriminem em função da religião na contratação, e que façam proselitismo.
A religiosidade de Obama mereceria um artigo mais alargado. Não acreditando nos princípios fundamentais do cristianismo (a «ressurreição» e a imortalidade da alma, por exemplo), Obama parece ter-se convertido ao cristianismo por considerar as igrejas (e particularmente as igrejas cristãs de negros) o utensílio social mais importante no combate à pobreza.
Se não fala «com deus», como acontecia com o seu antecessor, Obama não deixará porém de expandir o papel assistencial das comunidades religiosas, num país em que não há Estado social digno desse nome. Confirma-se que sem social-democracia há necessariamente clericalismo?

Não há crime pior

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Bispo católico processado por anti-semitismo

O bispo católico tradicionalista Richard Williamson, recentemente re-incomungado por Ratzinger, vai ser processado judicialmente, na Alemanha, por «incitação ao ódio racial» e por negação do «Holocausto». A pena máxima para estes crimes é de cinco anos de prisão. Simultaneamente, há rumores de que o governo argentino, incomodado com a presença de Williamson no seu país, prepara também uma acção judicial.

Pessoalmente, sou contrário a leis que penalizem o mero discurso, mesmo que fascista e factualmente errado, como é o caso. No entanto, concedo que na Alemanha o negacionismo, particularmente quando vindo da ICAR, possa colocar um problema de ordem pública.

Hipocritamente, Ratzinger e os seus insistem que «não sabiam» do anti-semitismo de Williamson antes da divulgação da famosa entrevista à televisão sueca. Há razões para duvidar, quanto mais não seja porque as diatribes de Williamson encontram-se pela internet, quer defendendo que os judeus têm «vocação para o domínio mundial», e que as «nações ex-cristãs» só devem «culpar o seu próprio Liberalismo por permitirem a livre circulação na Cristandade aos inimigos de Cristo» (os judeus), quer garantindo a autenticidade dos «Protocolos dos Sábios de Sião», quer ainda rejeitando a liberdade religiosa, quer considerando Ratzinger (em 1999) um «inimigo terrível da Igreja Católica» (em quem não se podia «confiar»), quer recomendando que as mulheres não vão à universidade, quer contra a mistura de sexos nas escolas, quer argumentando que a ICAR mentiu sobre o «terceiro segredo de Fátima», quer dizendo que o 11 de setembro foi orquestrado pelo governo dos EUA. Portanto, não acredito que B16 não conhecesse a fera que voltava ao redil.

Embora a imprensa refira os dislates negacionistas de Williamson, tem-se abstido de evidenciar que entre os lefebvristas há quem defenda que a a Inquisição «deve ser reabilitada», e que os católicos «não têm nada de que se envergonhar no trabalho passado deste santo tribunal». Seria interessante que os jornalistas portugueses confrontassem a ICAR portuguesa (incluindo os seus lefebvristas) com estas (e outras) tomadas de posição.

Note-se ainda que um teólogo católico abandonou a ICAR em protesto contra a decisão papal de levantar a excomunhão aos lefebvristas, que qualifica de «grupo extremamente reacionário e profundamente anti-semita que simpatiza com ditadores e regimes direitistas». Um protesto usando a táctica oposta foi feito por um grupo católico que ordenou mulheres sacerdotisas («padresas»?), que pediu também a sua desexcomunhão. Não creio que as católicas feministas tenham o mesmo acolhimento caloroso que Ratzinger proporcionou aos fascistas da Sociedade Pio X. E do lado dos «católicos progressistas» portugueses houve-se um ensurdecedor silêncio.

Refira-se finalmente que os membros do grupo ex-cismático são claros quanto aos seus propósitos: «temos a intenção de converter Roma, isto é, trazer o Vaticano para as nossas posições». Trata-se de um regresso entendido por quem regressa como uma reconquista. Nada, repita-se, que o Diário Ateísta não tivesse previsto já em 2005. À época, os católicos insultaram-nos. Afinal, tinhamos razão.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

Capitalismo

Bob Rice, no HuffPo: "The indignant screams still echo on Wall Street: Obama's a Socialist! As its own hometown paper puts it, the President's pronouncement that its collective $18 billion year-end tip was "outrageous" amounted to "targeting what capitalists we have left for abuse" (WSJ, Feb 2).

This is all helpful clarification, because I was getting confused. I had this fuzzy, but obviously incorrect, recollection from college that in a capitalist society it was the owners of the "means of production" who got the value created by their use.

But now I've got it: at least on Wall Street, it's the workers using those means of production (their firms' money) who are entitled to any profits they make. And, apparently, small groups of those workers are entitled to their profits even if other parts of their firms have catastrophic losses that require the owners of the enterprise to put in more money (or new owners, like taxpayers, have to be brought in) to keep the cooperative afloat. So that's capitalism. Wow, did I have it backwards!"

Corrupção a sério

Nos próximos meses e anos o mundo vai assistir a este espetáculo inacreditável e ver até que ponto é que a desregulamentação criou situações de corrupção inauditas.

Uma vez disse isto a uma senhora americana, republicana, no átrio de um hotel em Panama City, que se estava a queixar da corrupção na América Latina: quando se fizer o balanço dos anos Bush, a realidade vai fazer a Camorra napolitana corar.

Ora di religione

Vi ontem este filme excelente de Marco Bellocchio (de 2002) e acho que o vou recomendar a todos os meus amigos.

Obama

Já lá vão 15 dias, a discutir com mafiosos, com anormais e com evangélicos com uma idade mental de 7 ou 8 anos, e até agora tem-se aguentado com um civismo absolutamente estóico! :o)

Que prazer!

Há 10 anos que vivo no Texas e as notícias de manhã nunca foram outra coisa senão angustiantes: nos primeiros 2 anos só se falava de sexo oral e nos últimos 8 eram todos os dias coisas surrealistas: senadores mongas que queriam armar os alunos nas universidades, que diziam que a poluição era patriótica, que achavam que o mundo tem 6 mil anos. E um presidente carocho e analfabeto, que todas as manhãs anunciava mais uma ideia completamente anormal. Um dia queria acabar com a educação sexual, no outro queria começar uma cruzada no Médio Oriente, no outro anunciava que ia acabar com os limites para a poluição atmosférica, no outro dizia que falava com Deus todas as tardes, no outro que havia ursos polares a mais...

E de repente temos um presidente que tem um discurso articulado, leu livros, não tropeça na gramática e sabe onde é o Afganistão. Isto é um sonho! :o)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Revista de blogues (4/2/2009)

  1. «A Islândia já tem um novo governo, de coligação entre a Aliança Social Democrata (versão local do PS) e o Movimento da Esquerda Verde (partido semelhante ao Bloco de Esquerda, mas mais moderado), com quatro ministros para cada partido. O programa do novo governo contém algumas medidas de protecção social e também referências a alterar a constituição no sentido de consagrar a realização de referendos nacionais.» (Vento Sueste)
  2. «A Conferência Episcopal Espanhola ficou indignada que haja gente por aí que acha, e o diz em público, que Deus não existe. Blasfémia, gritaram das catacumbas contra o autocarro ateísta onde se pode ler que provavelmente Deus não existe . Ou seja, a Igreja estava convencida que os ateus, apesar de o serem, até achavam que Deus existia. Ou, talvez mais certo, a Igreja tolera a existência de ateus, desde que não digam que o são.» (Arrastão)

Fascismo

Eu acho que nenhum de nós deve ter o direito de proibir os fascistas, os comunistas, os racistas, ou os idiotas mais perigosos de se organizarem em partidos. A estupidez não é um crime (mesmo a estupidez criminosa) e acho que argumentos devem ser combatidos com argumentos.

Se os fascistas se tornarem violentos ou desatarem a vender drogas, ou a comprarem armas ilegais devem ir presos. Eu sou a favor de um código penal extremamente intolerante com os crimes de ódio.

Acho um escândalo que o assassinato de uma pessoa por razões étnicas seja punido com uma pena de 5 anos de prisão efectiva (ou menos). Os skins que mataram o Alcino Monteiro deviam ter apanhado penas exemplares.

Mas enquanto não forem violentos, os fascistas e os nacionalistas e os que odeiam os imigrantes, ou as mulheres, ou os judeus, ou as corridas de toiros, ou os comunistas, ou o Sporting, ou os fascistas, ou os padres, os imames, os rabis, os homeopatas, os astrólogos, ou os comentadores desportivos, todos devemos ter o direito de nos exprimirmos, de nos associarmos, e de falar das coisas que nos angustiam, de dizer e escrever coisas estúpidas e ofensivas.

Eu não sou um exemplo de moderação e de tolerância: o meu ódio a todas as formas de religião organizada (excepto talvez em relação a algumas paróquias anglicanas de hippies agnósticos, ou de judeus reformados, ou 'unitarians' com bongos e autocolantes do Obama, dependendo dos dias) não é uma das minhas melhores qualidades. E eu adoro ter liberdade para escrever coisas que eu sei que são ofensivas para os católicos, os comunistas, os judeus, os muçulmanos, a bancada lateral do estádio do Benfica, etc.

Pessoalmente, acho que estes partidos 'da liberdade' são manifestações tristes de recusa de compreender o mundo em que vivemos. Mas acho que os 7.500 signatários têm o direito de odiar pública e organizadamente 'a globalização' e 'os imigrantes' e os ateus e todas as coisas todas que lhes metem medo ou que lhes fazem nervos.

Cabe-nos (tentar) explicar-lhes que o provincianismo se trata com livros e com viagens, que o pluralismo e a diversidade são o sangue da civilização, e depois gozarmos com eles e metê-los na prisão se eles se tornarem violentos.

Até lá acho o Durão Barroso muito mais perigoso do que estes tontos do nacionalismo e do isolacionismo e da 'raça' e da monarquia e do sr. Duarte, etc.

Acho que fazem parte da paisagem. Como os que vão à santa da ladeira, ou os que se arrastam à volta do santuário de Fátima de joelhos. Enquanto forem os joelhos deles... :o)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

«Fascismo democrático»?!

Anuncia-se a constituição de um novo partido político, que se apresenta como «nacionalista moderado e democrata». O eufemismo «nacionalista» é usado em Portugal pelos que se reclamam, em privado ou no anonimato da internet, do fascismo.

Temos, portanto, uma espécie de «ala esquerda» da extrema-direita, formada por aqueles que Manuel Monteiro impediu de tomarem o PND por dentro. E que reclama o nome de «Partido da Liberdade». Qual liberdade? A única liberdade que realmente existe, a de cada indivíduo se auto-determinar, tomar as decisões que apenas o afectam a si próprio sem coacção do Estado e de outros colectivos (família, igrejas, partidos, empresas...)? Os «Princípios Programáticos» explicam: a «PÁTRIA» é o «VALOR SUPREMO» (as maiúsculas são do original), não a liberdade (sempre em minúsculas no original); existe uma «MATRIZ CRISTû na Europa (mais maiúsculas), e «rejeitam-se»(sic) «cultos alheios a essa matriz», sendo portanto de presumir que põem em causa a liberdade de culto; finalmente, o «primado do indivíduo» é «rejeitado» pois este deve submeter-se aos «interesses e valores da Família». Quanto a liberdade, ficamos entendidos.

Refira-se ainda que são contra a imigração em geral, contra a adesão da Turquia à UE, e pela nacionalidade baseada no jus sanguinis (ou seja, os canadianos de terceira geração netos de portugueses seriam portugueses, os netos de cabo-verdianos que vieram para Portugal seriam estrangeiros). E falam imenso de «pátria» e «identidade nacional». É delicioso. A época está boa para os oxímoros: «liberdade» sem liberdade de culto e em submissão à família e à «pátria»; «nacionalismo democrático». «Escravatura é liberdade»?

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Johann Hari: «Why should I respect these oppressive religions?»

  • «The right to criticise religion is being slowly doused in acid. Across the world, the small, incremental gains made by secularism – giving us the space to doubt and question and make up our own minds – are being beaten back by belligerent demands that we "respect" religion. A historic marker has just been passed, showing how far we have been shoved. The UN rapporteur who is supposed to be the global guardian of free speech has had his job rewritten – to put him on the side of the religious censors. (...) Starting in 1999, a coalition of Islamist tyrants, led by Saudi Arabia, demanded the rules be rewritten. The demand for everyone to be able to think and speak freely failed to "respect" the "unique sensitivities" of the religious, they decided – so they issued an alternative Islamic Declaration of Human Rights. It insisted that you can only speak within "the limits set by the shariah [law]. It is not permitted to spread falsehood or disseminate that which involves encouraging abomination or forsaking the Islamic community".
    ###
    In other words, you can say anything you like, as long as it precisely what the reactionary mullahs tell you to say. The declaration makes it clear there is no equality for women, gays, non-Muslims, or apostates. It has been backed by the Vatican and a bevy of Christian fundamentalists.
    (...) All people deserve respect, but not all ideas do. I don't respect the idea that a man was born of a virgin, walked on water and rose from the dead. I don't respect the idea that we should follow a "Prophet" who at the age of 53 had sex with a nine-year old girl, and ordered the murder of whole villages of Jews because they wouldn't follow him.
    I don't respect the idea that the West Bank was handed to Jews by God and the Palestinians should be bombed or bullied into surrendering it. I don't respect the idea that we may have lived before as goats, and could live again as woodlice. This is not because of "prejudice" or "ignorance", but because there is no evidence for these claims. They belong to the childhood of our species, and will in time look as preposterous as believing in Zeus or Thor or Baal.
    When you demand "respect", you are demanding we lie to you. I have too much real respect for you as a human being to engage in that charade.
    (...)» (Johann Hari)

Um problema da liberdade

Um problema da liberdade é o excesso de tolerância. Permitir a total liberdade de expressão a quem apenas a quer usar para ofensas pessoais, apelos ao ódio e, no limite, destruir a própria liberdade, é obviamente um paradoxo. No entanto, quem defende verdadeiramente a liberdade defende-a mesmo para aqueles que detesta. E aceita-a mesmo quando implica conviver com quem nunca aceitaria igual liberdade.

Passa-se algo de semelhante com a boa educação versus a má educação. Considera-se parte da boa educação suportar uma dose moderada de má educação a outrém. O problema é determinar quando foi ultrapassado o limiar a partir do qual viramos as costas e deixamos um cretino a falar sozinho. Curiosamente, traço esse limite na qualidade da argumentação. Quando é estritamente pessoal e insultuosa, já não vale a pena ouvi-la. Criar espaços de liberdade e dialogar é bem, mas há limites que nem sempre são fáceis de traçar.

Estas reflexões foram-me suscitadas por aquilo que se passa nas caixas de comentários deste blogue, e de outro blogue onde um pastor evangélico transcreve longos textos criacionistas (previamente preparados) «a propósito» de artigos sobre propriedade intelectual ou casamentos entre homossexuais.

Tudo isto para dizer que hoje apaguei um comentário neste blogue. Já nem me lembro do que dizia. Recordo-me apenas que se lhe tirasse os insultos, que eram todos pessoais, nada ficaria. Era anónimo, obviamente. Se não o fosse, creio que não o teria apagado. Mas, evidentemente, também não teria sido escrito por alguém que o assinasse com um nome verídico. E acontece que quem quer abusar da liberdade deve ser responsabilizável.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Revista de blogues (1/2/2009)

  1. «(...) Um Estado laico que seja respeitador da liberdade religiosa, como é o nosso, pode e deve facultar e facilitar aos interessados e às igrejas a assistência religiosa nas instituições públicas (desde os hospitais às forças armadas); mas não lhe cabe assumir missões religiosas, não podendo oficializar aquela assistência, que deve ser exclusiva responsabilidade e encargo das igrejas. A nomeação oficial dos "capelães", a sua graduação em oficiais, a sua remuneração pelo Estado, como se fossem servidores públicos --, nada disso é congruente com os requisitos da laicidade.» (Causa Nossa)
  2. «Uma mulher católica arrisca-se a um sem fim de sarilhos se se casar com um muçulmano. A inversa não é menos verdadeira. O mesmo se aplica a uma católica que case com um xintoísta, a um amish que se case com um bahá'í ou a uma testemunha de Jeová que se case com um cristão ortodoxo. Todas as decisões importantes da vida acarretam o potencial para a desgraça ou para a felicidade. Não há antídoto contra o risco, mas há coisas que podem ajudar. Por exemplo: ter sempre em conta que o casamento é uma união entre duas pessoas livres, que se amam e querem construir uma vida em comum; dispensar a canga de preceitos, atavismos e prescrições que as religiões insistem em associar ao matrimónio; ignorar as cristalizações sectárias e mesquinhas com que a sociedade, os cleros e a tradição conspurcam a união entre dois seres.» (umblogsobrekleist)