segunda-feira, 17 de março de 2008

Liberdade só para o mais forte?

O Insurgente, o Miguel Botelho Moniz critica a distinção de Raúl Proença entre liberalismo político e «liberalismo» económico com argumentos exclusivamente teóricos (e citando os fatais Hayek, Tocqueville e Friedman).
Nos dois primeiros parágrafos, argumenta contraditoriamente. Primeiro, que o «intervencionismo económico (...) leva o estado a tomar opções contrárias às vontades e necessidades dos cidadãos, requerendo o uso da força para aplicação dos planos centrais» (campos de concentração para evasores fiscais?). Depois, que existe o risco de os eleitores «[votarem] a favor de políticas cada vez mais intervencionistas» (terem a mania de que sabem o que é melhor para eles?). Fico sem saber se o problema é o intervencionismo do Estado ser (eventualmente) contrário às «vontades» dos cidadãos, ou se o problema é o mesmo intervencionismo ser votado favoravelmente pelos cidadãos. No entanto, no meu entender nenhum dos dois «problemas» (menos dinheiro para estádios de jogo da bola ou serviços públicos pagos pelos impostos dos cidadãos) constitui uma ameaça para liberdade fundamental alguma.
No quarto parágrafo, alega que «a liberdade económica serve de impedimento à concentração de poder», repetindo a velha falácia neoliberal de que apenas o Estado ameaçaria a liberdade dos indivíduos, como se as grandes empresas (ou as igrejas) não fossem estruturas mais discriminatórias, injustas, opressivas e autoritárias do que um Estado democrático e republicano em regime de economia mista.
Mas o mais revelador da minha divergência profunda com os «liberais» surge quando Hayek é citado para criticar «a ideia de que é possível restringir a liberdade económica com o fim de promover uma “verdadeira” liberdade que garante “um mínimo de independência” a “todos os homens”».
Aqui é que bate o ponto. A «liberdade económica» é o quê? A «liberdade» de não pagar impostos? A «liberdade» de pagar salários baixos? A «liberdade» de despedir mais facilmente? Efectivamente, certos «liberais» querem convencer-nos de que o sem-abrigo e o banqueiro são igualmente livres. Mas, entre o forte e o fraco, é a liberdade que oprime e a lei que liberta... A (mal) chamada «liberdade» económica é apenas a «liberdade» do forte de oprimir o mais fraco. Sem igualdade não existe verdadeira liberdade.

2 comentários :

Francisco disse...

De acordo!
Não há (verdadeira) liberdade económica sem liberdade política e civil. Simples!

Anónimo disse...

http://palcopiniao.blogspot.com/search/label/C%C3%82MARA%20MUNICIPAL%20DE%20COIMBRA%20URBANISMO

DIVULGUE ILEGALIDADES... OBRIGADO!