sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Manuel Buíça e Alfredo Costa


  • «[Alfredo Costa empenhou-se] no associativismo de classe, chegando mesmo a presidir à Associação dos Empregados do Comércio de Lisboa. No jornal O Caixeiro, escreve: "Sou pelas greves, como sou por todos os meios de resistência empregados pelo fraco, pelo oprimido, em defesa dos seus mais legítimos interesses quando extorquidos pelo forte, arvorado em opressor. Sempre que um patife tenta ferir a nossa dignidade ou um ladrão nos quer tirar a bolsa, é dever sagrado atirarmo-nos a ele, sem olharmos às forças de que dispomos e às consequências da luta. Para os patrões burgueses que nos exploram, e nós servimos sabujamente, vai o meu mais activo ódio e a minha viva repulsa."» (Do Esquerda.net)
  • «Minha família vive em Vinhaes para onde se deve participar a minha morte ou o meu desapparecimento, caso se dêem. Meus filhos ficam pobrissimos; não tenho nada que lhes legar senão o meu nome e o respeito e compaixão pelos que soffrem. Peço que os eduquem nos principios da liberdade, egualdade e fraternidade que eu commungo e por causa dos quaes ficarão, porventura, em breve, orphãos. Lisboa, 28 de janeiro de 1908. Manuel dos Reis da Silva Buiça.» (Carta-testamento de Manuel Buíça)
Mataram e morreram para pôr fim a uma ditadura.

12 comentários :

Anónimo disse...

Caro Ricardo Alves,

Não querendo fazer nenhuma espécie de comentários à maneira parcial como o sr. ve esta matéria permita-me que, pelo menos, lhe faça um pequeno reparo e lhe aconselhe algumas leituras.
Quanto ao reparo, que é o mais importante, deixe-me apenas dizer-lhe que a (chamada) ditadura de João Franco teve início no dia 10 de Maio de 1907 e terminou (com a convocação pelo governo de eleições gerais para deputados para dia 5 de Abril de 1908) no dia 24 de Dezembro de 1907. Isto quer dizer que estes homens não “mataram e morreram para por fim a uma ditadura” porque na altura do regicídio a ditadura já estava acabada e as eleições já tinham sido convocadas tendo o país e as suas instituições regressado ao seu normal funcionamento ( e isto era reconhecido pelos partidos da oposição da época).

Quanto ás leituras penso que, para que as suas próximas intervenções sobre este tema sejam mais acertadas, deverá ler alguns jornais da época (portugueses e estrangeiros), a biografia do rei D. Carlos de Rui Ramos e as Cartas de D. Carlos a João Franco.

Cumprimentos,
Mortner

PS: A carta de Buiça revela sinceridade e crença num ideal. Resta, ainda hoje, saber quem levou Buiça a fazer o que fez( aproveitando-se dos seus sinceros ideais)

dorean paxorales disse...

Esta da ditadura "monárquica" e da "democracia" republicana faz lembrar os comentários pós-eleitorais do velho Cunhal: sempre que o PCP descia, havia derrota das forças "democráticas" e avanço dos "fascistas".

Já que só em ditadura se pode justificar uma mudança de regime pela violência venha a diabolização da monarquia e a ladainha do martírio dos cavalheiros em epígrafe e suas nobres intenções.

Dado que a república "ganhou" (vai fazer 100 anos, parece) só encontro uma justificação para o retorno a este tipo de propaganda: o regime actual está mais parecido com a monarquia de 1908 que com a república de 1911. Graças a deus.

Ricardo Alves disse...

«Max Mortner»,
eu já li bastante sobre este período. Incluindo, veja lá, os que têm uma perspectiva oposta à minha. Fiquei com vontade de lhe recomendar o Catroga ou o Arnaldo Madureira, justamente porque nenhum dos dois é maniqueísta. Já leu?

Mas enfim, passando ao essencial: nesta época, estavam na prisão os republicanos António José Almeida, Afonso Costa, João Chagas e França Borges, os dissidentes progressistas Ribeira Brava e Egas Moniz, e ainda Magalhães Lima e Luz Almeida, entre outros. Esta situação, com jornais proibidos e dirigentes políticos na prisão, não era normal. Face ao decreto assinado por Carlos 1º no dia anterior ao regicídio, todos os mencionados mais acima arriscavam-se a ser deportados para Timor, onde provavelmente morreriam. Que género de «eleições» acha que seriam, nestas circunstâncias? «Normais»?

(Coincidência: tinha realmente planeado publicar nas próximas horas uma carta de Carlos 1º a João Franco. Mantenha-se atento.)

Dorean, dedica-te à Guiness que fazes melhor.

Anónimo disse...

Caro Ricardo Alves,

Já li algumas coisas do Professor Fernando Catroga sobre este periodo. Quanto a Arnaldo Madureira tenho que confessar o meu desconhecimento...
Presumo que o sr. saiba porque motivo estavam na prisão alguns republicanos na época...Quanto a "jornais proibidos" nada sei,pode dar-me um exemplo de um?Não estou a ser irónico é que até acredito que tal tenha acontecido mas não conheço nenhum exemplo. Apenas conheço alguns exemplos de jornais apreendidos e suspensos (que imediatamente e com o conhecimento de todos voltavam a ser publicados, muitas vezes com outros nomes). E também conheço jornais que circularam com frases como "morte ao rei"...
Em eleições é sabido que o Partido Republicano era muito pouco votado, penso que antes do regicidio a votação andaria por volta dos 7% (não posso afirmar com certeza absoluta porque de momento não tenho presente o número total de deputados). Na minha opinião penso que em matéria de eleições só os dois partidos monárquicos é que tinham razões para estar preocupados com uma provável vitória do Partido Regenerador Liberal de João Franco. Sinceramente acho que o próprio partido Repúblicano (independentemente do facto de estar privado de alguns elementos importantes que estavam presos) sabia que a sua exrpessão nas eleições iria ser reduzida.
Seria mais correcto dizer que Buiça e Alfredo Costa mataram e morreram pela Repúblicã e não pela ditadura...
Mas por que República terão morrido Alfredo Costa e Buiça? Será que foi por aquilo que foi de facto a Primeira República? Talvez, se pensarmos nestes homens à luz da sua época e com o espírito do seu tempo...ou talvez não se pensarmos em "liberdade, igualdade e fraternidade". A Primeira República foi, como imagino que saiba, bem mais dura que a "ditadura" de João Franco que se limitou a legislar sem parlamento, não tendo practiacmente intreferido nas liberdades dos cidadãos. A Primeira República teve, indiscutivelmente, alguns méritos mas também teve muitos (e até assustadores) defeitos...Mas isso é outra história...

Anónimo disse...

Onde se lê : "Seria mais correcto dizer que Buiça e Alfredo Costa mataram e morreram pela Repúblicã e não pela ditadura..." deve ler-se: Seria mais correcto dizer que Buiça e Alfredo Costa mataram e morreram pela Repúblicã e não pelo fim da ditadura...".

As minhas desculpas.

Cmps,
Mortner

PS: aguardo a publicação carta de D. Carlos a João Franco. Não sei porquê acho que já sei qual vai escolher - espero estar enganado.

Ricardo Alves disse...

«Max Mortner»,
não em sua intenção (já estava planeado), publiquei uma carta de Carlos 1º e algumas notas sobre os jornais proibidos (e também o decreto do degredo para as colónias por decisão governamental).

Se é verdade que em alguns casos os jornais mudavam de nome e voltavam a circular, também é verdade que pagavam multas e que houve jornalistas presos. Portanto, não era nenhum mar de rosas.

Quanto ao apoio eleitoral do PRP:
-em 1906, tinham 54% dos votos em Lisboa (em 1910, chegariam aos 62% em Lisboa);
-no Porto, governavam o município coligados com os monárquicos liberais;
-a partir de 1908, tinham uma dúzia de câmaras, principalmente no vale do Tejo, no Alentejo e no Algarve;
-no interior norte, votava-se com o cacique local.

A 1ª República alargou as liberdades dos cidadãos. Permitiu que as comunidades religiosas não católicas saíssem da clandestinidade, permitiu que os não religiosos pudessem criticar a religião (fim do crime de blasfémia), instaurou o registo civil (o nascimento, o casamento e a morte passaram a ser actos civis e não sacramentos religiosos), para não ir mais longe.

Anónimo disse...

no interior norte votava-se com o cacique local? se calhar. E o Jacinto Cândido de Grândola e dos Alentejos, de que cor era esse grande, grande cacique sr. Ricardo Alves?

Anónimo disse...

Caro Ricardo Alves,

Já calculava que era essa a carta que iria publicar, que é obviamente a que, fora do contexto, mais facilmente leva o leitor a ter uma ideia errada de D. Carlos.
Quanto ao número de deputados eleitos pelos republicanos este era diminuto e quanto a caciques a Primeira Republica foi riquissima nesse aspecto pelo que, na minha opinião não devemos ir por aí.
Bem sei que a ditadura de João Franco não foi um "mar de rosas" mas a Primeira Republica também não o foi.
Despreocupando-me com o rigor historico e descontextualizando (estou apenas a seguir o seu exemplo) a Primeira Republica teve coisas horríveis: proibiu até 1913 a existencia de varios partidos, analizaram "cientificamente" os crânios dos jesuitas (à maneira Nazi) pois pensavam que estes eram uma seita que tinha o intuito de governar o Mundo, quem afrontava o regime (pasme-se o Ricardo Alves!) era deportado para as colonias "onde provavelmente" morreria, houve censura, as eleições estavam controladas por caciques locais (piores do que na monarquia) e, a cerja em cima do bolo, muitos dos convictos lideres republicanos tinham sido convictos lideres monárquicos...

O reinado de D. Carlos não foi um mar de rosas mas D. Carlos foi um bom chefe de estado, com ideias claras para o país.

A Primeira Republica não foi um mar de rosas, mas fizeram-se alguns progressos civicos muito importantes.

O regicidio foi uma barbaridade e um acto desesperado de quem no fundo tinha sede de poder...

Ricardo Alves disse...

«m. mortner» (curioso como dos quatro participantes nesta caixa sou o único com nome reconhecível),

os regicidas não tinham sede de poder: não ganharam nada com o que fizeram. Aliás, sabiam que iam morrer.

Os republicanos, quer queira quer não, tinham praticamente um apoio maioritário entre os sectores mais letrados da sociedade portuguesa, evidenciado pelos resultados em Lisboa.

E houve pluralismo partidário durante quase toda a 1ª República, com deputados republicanos, socialistas, monárquicos e católicos. Salazar foi deputado durante a 1ª República.

Outro disparate que nunca mais aprendem é que medir os crânios dos detidos era um procedimento de rotina, um procedimento sistemático que se fazia a todos os detidos, independentemente do estatuto social e da ocupação profissional. Se acha que isso é «nazismo», então o procedimento de tirar as impressões digitais a todos os detidos, que penso ainda estar em vigor (e que eu aboliria sem problemas), também será «nazismo»?

dorean paxorales disse...

"Os republicanos, quer queira quer não, tinham praticamente um apoio maioritário entre os sectores mais letrados da sociedade portuguesa, evidenciado pelos resultados em Lisboa."

Hum. 93% do país não concordava com 50% de Lisboa e Porto. Ah, mas estes eleitores eram letrados. Logo, estes é que contam. Argumento mui republicano, sem dúvida.

Anónimo disse...

Caro Ricardo Alves,

Uso o nome de "Max Mortner" mas o meu verdadeiro nome é Francisco Pinto dos Santos Brito. Costumo usar o nome de M. Mortner porque acho piada, não porque tenha nada a esconder...Sinceramente não acho que o meu nome seja minimamente relevante para a troca de ideias que estamos a ter. Gostaria de saber porque é que o sr. acha o contrário.

1ºEu não disse que os regicidas tinham sede de poder. Disse apenas que houve convictos monárquicos que se tornaram ilustres líderes republicanos...

2º- É um facto que estes homens sabiam que iam morrer. D. Carlos também calculava que a morte podia estar próxima e mesmo assim insistiu, em nome daquilo em que acreditava, em entrar em Lisboa de carruagem aberta e praticamente sem escolta.

3º Houve alturas em que não existiu pluralismo partidário. E, para além disso, os comicios de outros partidos (de partidos contra o regime republicano) eram sistemáticamente alvo de disturbios promovidos pelos republicanos, quase como se estes tivessem o direito à exclusividade de se manifestarem - e, assim sendo, "que género de «eleições» acha que seriam, nestas circunstâncias? «Normais»?". Que tipo de democracia era esta?

4ºQuanto aos jesuítas Miguel Bombarda considerava-os uma raça degenerada que devia ser deportada para uma ilha deserta. Se é verdade que medir os crânios aos criminosos era um procedimento comum, neste caso estamos a falar de um regime que devido à sua intolerância para com os jesuitas os tratou como criminosos.

O que eu quis dizer com os comentários que fui aqui deixando é que, na minha opinião, os primeiros anos da Republica foram bem mais duros e até repressivos do que os da ditadura franquista. Quanto a isto as diversas leituras que tenho feito sobre esta matéria não me deixam dúvidas.

Anónimo disse...

Homenagear assassinos, ´so confirma o facto de que a República não foi construida democraticamente, mas à custa do sengue de grandes homens como foram SMF El-rei Dom Carlos I e SAR o Príncipe Dom Luís Filipe.
Mas Deus castigou esses assassinos tanto que morreram na hora, mas Deus deu coragem para que os monárquicos não desistissem...
(Sendo contra Salazar, não obstante disso vou citar uma frase que uma vez disse irónicamente - "Felizes os povos cujo o seu governante é nato...")

Viva o Rei!