domingo, 2 de dezembro de 2007

O memo de Lewis Powell

Há dois anos escrevi isto no meu blog, mas como acho que alguns dos leitores do R&L não leram, aqui vai, pela actualidade e relevância (acho eu):

Há muitos anos – nos anos 80 – ouvi Gore Vidal referir pela primeira vez este memorando e as consequências que ele trouxe para a ordem económica e política mundial.

Perante a revolta geral contra o capitalismo selvagem da Guerra Fria e os crimes perpetrados pelo governo americano em defesa dos interesses das grandes empresas na América Latina, a guerra do Vietnam, etc., a direita percebeu que a guerra ideológica podia estar perdida. Lewis Powell escreveu isto em 1970:

“The most disquieting voices joining the chorus of criticism come from perfectly respectable elements of society: from the college campus, the pulpit, the media, the intellectual and literary journals, the arts and sciences, and from politicians.”

Perante esta situação de descrédito geral da direita e do sistema capitalista o Juiz do Supremo Lewis Powell avançou propostas muito concretas no célebre memorando:

“Business pays hundreds of millions of dollars to the media for advertisements. Most of this supports specific products; much of it supports institutional image making; and some fraction of it does support the system. But the latter has been more or less tangential, and rarely part of a sustained, major effort to inform and enlighten the American people.”

ou

“Under our constitutional system, especially with an activist-minded Supreme Court, the judiciary may be the most important instrument for social, economic and political change.”

Vale a pena ler. E vale a pena ler o balanço feito 35 anos depois por George Lakoff da Universidade de Berkeley.

A resposta da direita incrivelmente eficaz: criaram-se fundações para financiar posições específicas para professores de direita nas melhores universidades, para financiar “think tanks” e especialistas de marketing, para financiar campanhas publicitárias, editoras, rádios, jornais e televisões. Pouco a pouco, utilizando técnicas de propaganda milenárias (repetição, “framing”, etc.), a direita foi acusando os campus universitários, as editoras, os jornalistas e os políticos de simpatias esquerdistas inaceitáveis e conquistando posições, uma após outra. Enquanto que o número de professores universitários de esquerda se mantem firme fora das escolas de economia e gestão, o número de jornalistas com cursos superiores diminuiu constantemete desde os anos setenta até hoje. Hoje seria impensável um escândalo como o de Watergate. Em vez disso, entre 1996 e 2000, assistimos ao escândalo inaudito da perseguição dos media ao presidente Clinton.

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