sexta-feira, 25 de maio de 2007

Revista de blogues (25/5/2007)

  1. «Para o Presidente do Banco Central Europeu, só com baixos salários será possível garantir competitividade para a economia europeia e combater o elevado desemprego. Nada de novo, portanto, do homem que é responsável pela política monetária europeia. E que nessa função nada mais tem feito que liderar a condução de uma política monetária excessivamente restritiva e que tem prejudicado o investimento e o crescimento económico em nome do controlo de uma fantasmagórica e constante tensão inflacionista. Tem cumprido bem o papel de carrasco de muitas economias nacionais, sempre escudado no estatuto de independência do BCE. Não quer saber se as suas receitas têm contribuido para combater o desemprego na Europa ou se para o agravar. (...) Jean-Claude Trichet não quer saber nada disto, porque só está preocupado em comportar-se como um menino bonito e disciplinado perante os mercados financeiros. Mas o que mais me choca é que o Presidente do Banco Central Europeu, apesar do elevado poder que detém sobre as nossas vidas, não tem de prestar contas a ninguém e não depende de nenhum poder democrático. (...) Eu quero que Jean-Claude Trichet seja demitido.» («Quando é que o podemos demitir?», no Ladrões de bicicletas.)
  2. «Eu e o Pedro decidimos que estava na altura de fechar este blog. Quando criámos o blog Armadilha para Ursos Conformistas, tínhamos como único objectivo armadilhar conformistas. Acho que conseguimos armadilhar alguns. (...) Em jeito de despedida, deixo aos meus leitores um excerto do Discurso da Servidão Voluntária, de Etienne de la Boétie: É natural no homem o ser livre e o querer sê-lo; mas está igualmente na sua natureza ficar com certos hábitos que a educação lhe dá. Diga-se, pois, que acaba por ser natural tudo o que o homem obtém pela educação e pelo costume; mas da essência da sua natureza é o que lhe vem da mesma natureza pura e não alterada; assim, a primeira razão da servidão voluntária é o hábito: provam-no os cavalos sem rabo que no princípio mordem o freio e acabam depois por brincar com ele; e os mesmos que se rebelavam contra a sela acabam por aceitar a albarda e usam muito ufanos e vaidosos os arreios que os apertam. Afirmam que sempre viveram na sujeição, que já os pais assim tinham vivido. Pensam que são obrigados a usar freio, provam-no com exemplos e com o fato de há muito serem propriedade daqueles que os tiranizam. Mas a verdade é que os anos não dão o direito de se praticar o mal, antes agravam a injúria. Sempre haverá umas poucas almas melhor nascidas do que outras, que sentem o peso do jugo e não evitam sacudi-lo, almas que nunca se acostumam à sujeição e que, à imitação de Ulisses, o qual por mar e terra procurava avistar o fumo de sua casa, nunca se esquecem dos seus privilégios naturais, nem dos antepassados e de sua antiga condição. São esses dotados de claro entendimento e espírito clarividente; não se limitam, como o vulgo, a olhar só para o que têm adiante dos pés, olham também para trás e para frente e, estudando bem as coisas passadas, conhecem melhor o futuro e o presente. Além de terem um espírito bem formado, tudo fazem para aperfeiçoá-lo pelo estudo e pelo saber. Esses, ainda quando a liberdade se perdesse por completo e desaparecesse para sempre do mundo, não deixariam de imaginá-la, de senti-la e saborear; para eles, a servidão, por muito bem disfarçada que lhes aparecesse, nunca seria coisa boa.» («Carta de despedida», no Armadilha para ursos conformistas.)

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