sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Pedro Arroja

Este tipo de comentários incendiários tem como objectivo único reter a nossa atenção. Não precisam de ser coerentes, nem racionais, nem honestos. São o que Daniel Dennett chama “jogar ténis sem rede”. Como não há regras não é preciso acertar sequer na bola.

E os media precisam de cada vez mais pessoas assim – como o Pedro Arroja ou o Alberto João Jardim, que Eduardo Prado Coelho definiu como uma mistura do João Baião com o Jean Marie le Pen – para manter a nossa atenção.

Os jornais e as televisões são cada vez mais um deserto de ideias e os publicistas sabem que a nossa atenção é cada vez mais curta. O resultado são os Pedros Arrojas e os homens das Neves, que ao menos ainda são capazes de nos indignar.

Mas eu acho que nos só nos indignamos se os lermos como se fossem comentários sérios. Quando a Anne Coulter aqui decidiu revelar ao mundo de o presidente Clinton era gay o pessoal desatou a rir, e houve um comediante que emitiu um “comunicado oficial” do gabinete de Clinton a dizer que ele lhe tinha de facto dito numa festa que era homossexual, mas só porque ela se estava a atirar a ele ferozmente e ele achava que o rabo dela era só pele e ossos.

O Dr. Arroja merece a nossa atenção, mas não acho que lhe devamos falar a sério das câmaras corporativas e dos directores gerais lapuzes e autoritários, broncos e horteiros, que promoviam a ideia de um país sem sapatos, sem estradas, com gorilas nas universidades, e uma classe média campónia, com uma capoeira nas trazeiras (com coelhos e galinhas).

Talvez lhe devamos em vez disso agradecer por nos relembrar, numa altura em que se considera Salazar o melhor português dos últimos 1000 anos, que de facto a actividade das mercearias de bairro não era lá muito regulamentada... e que por isso Portugal era o único país da Europa onde ainda se morria de Cólera nos anos setenta.

3 comentários :

Ricardo Alves disse...

Ainda bem que voltaste à actividade!
E em grande forma...

Pedro Fontela disse...

Acho que este post é uma desconsideração aos artistas sérios de todo o Portugal e arredores...

Anónimo disse...

Pois é... a crueza dos números doi!

Quanto ao corporativismo, no pós 25 de abril cresceu, cresceu e continuou a crescer... e continua como a vaca sagrada de muitos "ateus".