terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Apontamentos acerca do meu SIM

Um espermatozóide está quase a alcançar o óvulo. Neste momento, dão-vos esta escolha: querem que ele fecunde ou preferem evitar que isso aconteça?

Se responderem que preferem evitar que isso aconteça, estão a matar alguém?

Se acreditam no argumento do «ser potencial» terão de responder que sim. Terão de responder que o futuro previsível de uma solução é que uma criança nasça, e no outro caso isso não se sucederá.

Mas aí, sejam coerentes: lembrem-se que o futuro «previsível» de uma mulher ir para freira é que não terá filhos, o que corresponde à morte dos filhos que previsivelmente teria se tivesse optado por outro futuro. Lembrem-se que o planeamento familiar mata imensos seres que previsivelmente nasceriam caso não se tivesse acesso aos métodos contraceptivos.
Sejam contra o preservativo e a pílula como a igreja, mas sejam também contra a castidade e abominem a abstinência. Lembrem-se que as mulheres que optaram por ter menos de 10 filhos provavelmente estão a matar seres humanos potenciais, e vejam sempre como eticamente incorrecto que as pessoas não se esforcem para ter o máximo número de filhos que podem. Construam um mundo superpovoado e cheio de incubadoras - as mulheres.

Sei que qualquer pessoa decente e civilizada sente repulsa por esta visão, e mesmo os defensores do não que usam o argumento do «ser potencial» não acreditam nisto.

Eles acreditam que existe uma diferença entre o momento antes do espermatozóide fecundar o óvulo, e depois.

A partir daí, acreditam que já existe um ser humano. A grande diferença, dizem, é o ADN.

Deixem-me dizer-vos: o ADN não define um ser humano.
Deixem-me repetir-vos: o ADN não define um ser humano.

O ser humano não está no ADN. O nosso «eu» não está no ADN.


Existe um argumento simples e ilustrativo: os gémeos verdadeiros têm o mesmo ADN.
São a mesma pessoa? Não.



Não existe uma pessoa sem cérebro.
Peço ao leitor que faça a seguinte experiência imaginária: o leitor está num hospital apetrechado com tecnologia do século XXX, um órgão vital seu está em perigo, se não for substituído, o seu corpo vai morrer. Ao seu lado está outro indivíduo - chamemos-lhe Augusto. Foi envenedado, e embora no hospital possam salvar um órgão deste paciente, o corpo do Augusto está condenado a perecer. Assim sendo, a equipa do hospital opta por trocar o orgão do leitor em perigo pelo orgão do Augusto que podem salvar.

Se trocarem o coração, apenas vai existir um sobrevivente: o leitor.
A mesma coisa para os pulmões, os rins, o fígado, quase qualquer órgão.

Mas se trocarem o cérebro, não é o leitor quem sobrevive. É o Augusto que fica com um novo corpo.

A pessoa está no cérebro, e o embrião não tem qualquer neurónio formado. Não tem actividade cerebral.

Não, o embrião não é uma pessoa.



E se para mim me parece cruel e desumano obrigar uma mulher a suportar uma gravidez que não deseja, eu não posso aceitar o argumento de que isso é feito para salvar alguém: ninguém está a ser salvo, só um mito e uma ilusão.

1 comentário :

dorean paxorales disse...

É preciso ter cuidado com os factos pois se estiverem errados podem voltar-se contra o argumento.

O 'feto' (7, 8, 9 semanas, tanto faz) também é um embrião. Mas a diferenciação celular e construção do cérebro até se dá mais cedo. Isto é, há muitíssimos neurónios num embrião.

Mas se até uma batata produz corrente eléctrica, também qualquer troca de iões entre neurónios dá 'actividade cerebral'.
Obviamente, nada disto tem que vêr com a caricatura que os nões imaginam para o boneco da vida. Mas não vale a pena descer ao nível.