sexta-feira, 29 de setembro de 2006

O meu problema com o «liberalismo»

O meu problema com aquilo a que alguns blogues chamam «liberalismo» é o mesmo problema fundamental que tenho com o marxismo-leninismo: a subordinação da política à economia, que tem como corolário o sacrifício das liberdades individuais a sistemas que os seus seguidores acreditam conduzir necessariamente à maior prosperidade económica. Ambos os sistemas são bastante fechados porque acreditam na sua inerente perfeição se aplicados plenamente (ou seja, explicarão sempre qualquer falhanço de medidas pontuais por não haver aplicação integral da sua doutrina).
Não admira que em ambos os casos a ditadura seja um destino possível. E é portanto lógico que Hayek declare o seguinte a propósito de Pinochet:
  • «Mi preferencia personal se inclina a una dictadura liberal y no a un gobierno democrático donde todo liberalismo esté ausente.» (Hayek em entrevista de 1981 ao jornal chileno Mercurio, citado em Juan T. López, «Hayek, Pinochet y algún otro más», El País de 22 de Junho de 1999.)

8 comentários :

jcd disse...

«a subordinação da política à economia, que tem como corolário o sacrifício das liberdades individuais a sistemas que os seus seguidores acreditam conduzir necessariamente à maior prosperidade económica.»

Eu bem digo que aqui há um grave probema de incompreensão.

Ricardo Alves disse...

Arnaldo,
não era essa a opinião de Hayek, como se vê pela frase junta.

no name disse...

ricardo, não estás a confundir o marxismo? (para além do facto de achar que não faz qualquer sentido juntar o nome de lenine...) a interpretação da sociedade em termos da produção económica, vale do ponto de vista simplesmente científico, sem qualquer consequência política. mas as próprias ilações políticas que marx retira das suas observações não têm como corolário qualquer sacrifício de liberdades, muito pelo contrário, exactamente o oposto: a definição de um sistema que torne a exploração quase impossível. penso que a questão marxista é diferente do que sugeres...

dorean paxorales disse...

O materialismo feito dialéctico.
O que me espanta é a raridade com que se encontra alguém que veja o óbvio.

cãorafeiro disse...

arnaldo, vá à wikipedia e veja a entrada dedicada ao libertarianism.

e siga os links.

é dessa água que bebem os nossos pseudo-liberais. gente que não se pronuncia sobre a legitimidade da prática legal do aborto, mas apoia os manifestante que, à porta das clínicas, exercem uma violenta coacção contra pacientes e pessoal médico. em nome da liberdade de expressão, protegem o «hate speech». mas não protegem a liberdade de cada um dispor do próprio corpo.

veja as posições sobre a escravatura.

não o conheço, logo não sei quais as suas simpatias ideológicas.

estou apenas a dar-lhe uma pista.

se quiser, compare tudo isso com o liberalismo universalista de popper...

popper escreveu a sociedade aberta e os seus inimigos, para criar um instrumento intelectual que permitisse à sociedade contrariar o totalitarismo nazi, mas também o soviético.

hayek escreveu the road to serfdom, em que mete o totalitarismo soviético no mesmo saco que a social democracia e o socialismo democrático.

veja as diferenças.

Ricardo Alves disse...

Ricardo S,
quem juntou o «maxismo» ao «leninismo» e pôs um hífen no meio foi o camarada Estaline. O marxismo-leninismo não é uma ideologia democrática nos seus objectivos finais (e eu acho que o liberalismo de um Hayek também não é). Porque o objectivo é uma sociedade em que o papel dirigente do partido é irremovível.
Evidentemente, pode-se conciliar uma análise marxista e uma ideologia democrática. Houve social-democratas que tentaram fazer isso. (Não sei se valerá muito a pena, mas isso é outra conversa...)
O paradoxo do marxismo-leninismo é justamente querer acabar com a exploração económica e conduzir à opressão política.

Ricardo Alves disse...

Arnaldo,
estimo que seja um liberal-liberal. Honestamente: acho o seu liberalismo preferível ao liberalismo conservador e indiferente à democracia de algumas pessoas do Blasfémias, por exemplo.
Quanto à frase do Hayek, ele está a dizer que prefere Pinochet a Allende. O que faz todo o sentido, porque Pinochet garantia a propriedade privada contra qualquer tentativa de organizar a sociedade de outra forma. Que se sacrifique a democracia na defesa da propriedade privada não parece incomodar Hayek...

no name disse...

ok, seja, mas nesse caso aquilo a que chamas de marxismo-leninismo eu chamaria apenas de estalinismo. não acho de bom tom juntar o nome do pobre marx a essas correntes totalitárias... :-)